Um ano após a morte. Centenas de pessoas prestam homenagem a Navalny em Moscovo

por Cristina Sambado - RTP
Ao final da manhã, a campa estava literalmente coberta por uma pequena montanha de flores Evgenia Novozhenina- Reuters

Várias centenas de pessoas reuniram-se na manhã deste domingo junto à campa de Alexeï Navalny em Moscovo, constataram os jornalistas da AFP, apesar do risco de represálias das autoridades, um ano após a morte na prisão do principal opositor do Kremlin.

Um ano após a morte na prisão do principal opositor do Kremlin, Alexeï Navalny, com temperaturas gélidas, dezenas de famílias com crianças deslocaram-se ao local, onde a segurança foi discreta, com a polícia maioritariamente à paisana colocada em redor do cemitério.

Vários diplomatas ocidentais, incluindo representantes das embaixadas americana, francesa, espanhola, norueguesa e da União Europeia, também visitaram o túmulo do líder da oposição.

Ao final da manhã, a campa estava literalmente coberta por uma pequena montanha de flores e dezenas de pessoas, sozinhas ou em pequenos grupos, continuavam a chegar ao cemitério.

Estas homenagens têm lugar numa altura em que a oposição russa, decapitada pela perda da sua figura de proa e dividida por lutas internas, se encontra numa posição de fraqueza sem precedentes.
Navalny, o principal inimigo político de Vladimir Putin, morreu em circunstâncias obscuras numa prisão do Ártico e foi declarado “extremista” pelos tribunais russos.
Exilados em vários países no estrangeiro, esforçam-se por reacender a chama da luta contra Vladimir Putin, nomeadamente na Rússia, onde qualquer crítica ao Governo é severamente reprimida.

Carismático ativista anticorrupção e inimigo político número um de Vladimir Putin, Navalny foi declarado “extremista” pelos tribunais russos.

Qualquer menção pública à figura da oposição ou à sua organização, o Fundo Anticorrupção (FBK), sem especificar que foram declarados “extremistas”, expõe os infratores a penas severas.

Esta ameaça continua em vigor, apesar da sua morte em circunstâncias obscuras numa prisão do Ártico, a 16 de fevereiro de 2024, e do exílio da Rússia de quase todos os seus colaboradores.

Segundo o antigo braço direito do líder da oposição, Leonid Volkov, “os apoiantes de Alexeï vão organizar eventos comemorativos em todo o mundo”.

Nalguns locais, haverá comícios ou marchas, noutros será exibido um documentário dedicado ao principal rosto da oposição a Vladimir Putin. Noutros, haverá simples cerimónias”, afirmou Volkov no Telegram.

“Onde quer que se encontrem, na Rússia ou no estrangeiro, esperamos sinceramente que encontrem pessoas que partilham as mesmas ideias no dia 16 de fevereiro”, escreveu Volkov, indicando as horas de abertura do cemitério de Borissovskoye, em Moscovo, onde Navalny está enterrado.

A viúva, Yulia Navalnaya, que assumiu as rédeas do seu movimento, apelou aos seus apoiantes para que continuem a lutar por uma Rússia “livre e pacífica”, um ano após a morte na prisão do principal crítico do Presidente Vladimir Putin.

Sabemos pelo que estamos a lutar: é possível uma Rússia livre, pacífica e bela no futuro, como sonhava Alexeï. Vamos fazer tudo o que pudermos para tornar o seu sonho realidade”, afirmou Navalnaya num vídeo divulgado este domingo.
“Big Brother e o seu olho sempre atento”
Os canais pró-Kremlin avisaram os apoiantes do falecido opositor para não visitarem o cemitério.

“Damos um breve conselho àqueles que estão a planear ir lá, mas ainda não têm a certeza: não vão!”, lê-se numa mensagem partilhada pelo jornalista Dmitri Smirnov, amigo do Kremlin, em várias redes sociais.

A mensagem diz “Big Brother e o seu olho sempre atento”, com uma fotografia de um sinal que indica a presença de uma câmara de vigilância nos portões do cemitério. Apoiantes detidosAs autoridades russas têm desmantelado metodicamente o movimento de Alexeï Navalny, enviando para a prisão vários dos seus apoiantes.

Quatro jornalistas estão atualmente a ser julgados na Rússia por “participação num grupo extremista”, acusados de terem produzido imagens para a equipa de Alexeï Navalny.

Em janeiro, três dos advogados que defendem o líder da oposição foram condenados a penas entre três anos e meio e cinco anos de prisão por terem transmitido as suas mensagens enquanto ele estava detidoOposição enfraquecida
A morte de Alexeï Navalny, aos 47 anos, ainda não foi totalmente explicada. As autoridades russas afirmam que a morte aconteceu quando estava a passear no pátio da prisão.

Alexeï Navalny foi detido em janeiro de 2021, quando regressava à Rússia, depois de ter estado em convalescença na Alemanha, na sequência de um envenenamento pelo qual culpou o Kremlin, que, por seu lado, rejeitou a acusação.


Em dezembro de 2023, foi transferido para uma colónia penal isolada para lá do Círculo Polar Ártico para cumprir uma pena de 19 anos de prisão por “extremismo”.

Reprimida na Rússia, a oposição russa está a tentar relançar-se no estrangeiro, até agora sem grande sucesso.

Em novembro, Yulia Navalnaya e duas outras figuras proeminentes da oposição organizaram uma marcha em Berlim contra o Presidente russo e a ofensiva na Ucrânia, reunindo cerca de dois mil exilados russos.

Para além das palavras de ordem, a oposição esforça-se por encontrar uma abordagem concreta que conduza ao fim da guerra e à saída de Vladimir Putin. Uma série de escândalos internos também enfraqueceu a oposição e levou à frustração de alguns dos seus ativistas.

Na Rússia, a repressão levou centenas de pessoas para a prisão e milhares de outras foram punidas ou ameaçadas devido à sua oposição ao governo ou ao conflito na Ucrânia.
Scholz presta homenagem a Navalny
O chanceler alemão Olaf Scholz prestou homenagem ao principal opositor do Kremlin, Alexeï Navalny, que morreu na prisão há um ano “porque lutou pela democracia e pela liberdade na Rússia”.



“Putin combate brutalmente a liberdade e os seus defensores. O trabalho de Navalny foi ainda mais corajoso. A sua coragem fez a diferença e vai muito para além da sua morte”, escreveu o Chanceler na rede X.
Putin tem a “responsabilidade final” pela morte de Navalny
O Presidente russo, Vladimir Putin, e as autoridades russas “têm a responsabilidade final” pela morte de Alexeï Navalny, o principal opositor do Kremlin, que morreu na prisão há um ano, afirmou a chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas, este domingo.

“Navalny deu a sua vida por uma Rússia livre e democrática”, acrescentou, apelando a Moscovo para que "liberte imediata e incondicionalmente os advogados de Alexeï Navalny e todos os presos políticos".

c/ agências
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