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Um ano após a queda de Bashar al-Assad: "Sírios estão a respirar, mas a vida quotidiana continua muito difícil"
"A grande maioria dos sírios sente-se livre", comenta Dorothée Schmid, responsável pelo programa Turquia/Médio Oriente do IFRI (Instituto Francês de Relações Internacionais). "Há muito mais debate, toda a gente dá a opinião sobre o que se passa, e isso é algo completamente novo", afirma a especialista, que aponta também a situação económica muito difícil do país.
A ofensiva relâmpago lançada pelas forças islamistas contra o regime do ex-ditador teve início a 27 de novembro de 2024 a partir de Idleb. Depois de tomar as principais cidades sírias, uma após outra, a coligação rebelde conquistou a capital Damasco e pôs fim a décadas de domínio do clã Assad. À cabeça do movimento: Ahmed al-Chareh, um antigo jihadista de 43 anos que se tornou chefe de Estado interino.
Para celebrar este primeiro aniversário, foram realizadas cerimónias oficiais e uma parada militar em várias cidades do país. Nesta ocasião, o Presidente sírio saudou "os sacrifícios e o heroísmo dos combatentes" que derrubaram Bashar al-Assad.
Apelou também ao povo para que se una para reconstruir um país devastado por anos de guerra civil: "A fase atual exige que todos os cidadãos unam os seus esforços para construir uma Síria forte, consolidar a estabilidade e preservar a soberania".
Apelou também ao povo para que se una para reconstruir um país devastado por anos de guerra civil: "A fase atual exige que todos os cidadãos unam os seus esforços para construir uma Síria forte, consolidar a estabilidade e preservar a soberania".
RTBF
Em Alepo, os habitantes formaram caravanas, buzinando e agitando a nova bandeira síria. "Estamos a começar a gostar do país. Antes, não gostávamos, fugíamos", confessou um habitante à AFP.
Em Damasco, onde dezenas de milhares de sírios saíram às ruas, "a situação melhorou", disse um residente da capital à AP. "Há mais liberdade, mais paz de espírito, podemos sair de casa e regressar em segurança. Novos produtos que não tínhamos antes estão agora disponíveis no país, quando antes a eletricidade era praticamente inexistente", acrescenta.
"A grande maioria dos sírios sente-se livre", comenta Dorothée Schmid, responsável pelo programa Turquia/Médio Oriente do IFRI (Instituto Francês de Relações Internacionais). "Há muito mais debate, toda a gente dá a sua opinião sobre o que se passa, e isso é algo completamente novo", afirma a especialista, que aponta também a situação económica muito difícil do país.
RTBF
Pobreza afeta pelo menos 2 em cada 3 sírios
"Esse continua a ser o grande problema, com a pobreza a afetar pelo menos dois terços da população e um país completamente destruído. As coisas mais básicas são praticamente inacessíveis.
Para além de Damasco, a capital, o resto do país está em estado de destruição total. É preciso reconstruir as casas, restabelecer a eletricidade, encontrar alimentos para todos, etc. É óbvio que a vida quotidiana é muito difícil, mas as pessoas estão a respirar", explica.
Para além das dificuldades económicas, a Síria continua a enfrentar grandes desafios em matéria de segurança, com uma violência intercomunitária sangrenta e numerosas operações militares por parte do vizinho Israel. Uma recente incursão das forças israelitas no sul do país causou a morte de 13 pessoas.
Ciclos de vingança e retaliação
"A transição da Síria é frágil. Muitas pessoas em todo o país vão celebrar este aniversário, mas outras temem pela sua segurança e muitas mais vão continuar a dormir em tendas neste inverno", resume a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria da ONU num comunicado.
A ONU adverte: "Os ciclos de vingança e retaliação devem terminar para que o país se torne um Estado que garanta o pleno respeito pelos direitos humanos de todo o seu povo, com igualdade, Estado de Direito, paz e segurança para todos".
A Síria ainda está em risco de guerra civil? Em comparação com a enorme carnificina da guerra civil, a situação está mais ou menos sob controlo.
"Após quase 14 anos de uma guerra que custou quase 700.000 vidas, já ninguém quer lutar", responde Dorothée Schmid do IFRI, "mas a Síria está de facto dividida. Territorialmente, ainda está muito fragmentada e o governo não controla todos os territórios. Por exemplo, no nordeste do país, há zonas inteiras nas mãos das Forças Democráticas Sírias, dominadas pelos curdos", explica a especialista.
E acrescenta: "Existem também grandes divisões étnicas e religiosas que persistem, com a violência contra as minorias drusa e alauíta, esta última confessa do antigo regime de Bashar al-Assad, maioritariamente estabelecida no oeste do país. A comunidade internacional está a acompanhar de perto a situação, porque o Médio Oriente, no seu conjunto, é sempre muito inflamável nestas linhas de fratura comunais e religiosas".
No entanto, "em comparação com a enorme carnificina que foi a guerra civil, podemos considerar que a situação está mais ou menos sob controlo", conclui.
"Após quase 14 anos de uma guerra que custou quase 700.000 vidas, já ninguém quer lutar", responde Dorothée Schmid do IFRI, "mas a Síria está de facto dividida. Territorialmente, ainda está muito fragmentada e o governo não controla todos os territórios. Por exemplo, no nordeste do país, há zonas inteiras nas mãos das Forças Democráticas Sírias, dominadas pelos curdos", explica a especialista.
E acrescenta: "Existem também grandes divisões étnicas e religiosas que persistem, com a violência contra as minorias drusa e alauíta, esta última confessa do antigo regime de Bashar al-Assad, maioritariamente estabelecida no oeste do país. A comunidade internacional está a acompanhar de perto a situação, porque o Médio Oriente, no seu conjunto, é sempre muito inflamável nestas linhas de fratura comunais e religiosas".
No entanto, "em comparação com a enorme carnificina que foi a guerra civil, podemos considerar que a situação está mais ou menos sob controlo", conclui.
Ahmed al-Chareh, que nos últimos meses tem feito a ronda das capitais regionais e internacionais, está também a trabalhar arduamente para reintegrar a Síria na comunidade internacional. Conseguiu, nomeadamente, o levantamento das sanções internacionais contra o regime sírio.
Tendo em conta o seu passado jihadista, houve quem temesse a criação de um califado islâmico com a sua chegada ao poder. Mas o presidente interino "já não é um senhor da guerra religioso, tornou-se um nacionalista sírio", analisa Dorothée Schmid, que descreve o dirigente como "uma personagem absolutamente surpreendente, que fascina muita gente e, em particular, todos os diplomatas e chefes de Estado que se relacionaram com ele, como Donald Trump, que vimos recebê-lo de forma espetacular nos Estados Unidos. É alguém que quer recuperar a soberania da Síria e reconstruir o seu país, que tem uma posição absolutamente central no Médio Oriente".
A especialista observa que, para além de a Sharia não ter sido imposta, como muitos temiam, "de momento, não há exageros religiosos, não há nada do que temíamos: um regime extremista religioso. É claro que toda a gente está muito atenta aos mais pequenos desenvolvimentos nesta área, mas as mulheres não são obrigadas a usar o véu, por exemplo".Uma reconstrução de 216 mil milhões de dólares
O Presidente interino concedeu a si próprio mais quatro anos para completar a transição, reconstruir as instituições e o corpo legislativo e dotar o país de uma nova constituição que será submetida a referendo. No final deste processo, afirmou, serão organizadas eleições.
De acordo com a ONU, 1,2 milhões de refugiados regressaram a casa desde a queda de Assad na Síria, onde dezenas de milhares continuam desaparecidos. Cerca de 16,5 milhões de sírios dependerão da ajuda humanitária em 2025, de acordo com a ONU. O Banco Mundial estimou recentemente que o custo da reconstrução da Síria poderá atingir 216 mil milhões de dólares.
Tendo em conta o seu passado jihadista, houve quem temesse a criação de um califado islâmico com a sua chegada ao poder. Mas o presidente interino "já não é um senhor da guerra religioso, tornou-se um nacionalista sírio", analisa Dorothée Schmid, que descreve o dirigente como "uma personagem absolutamente surpreendente, que fascina muita gente e, em particular, todos os diplomatas e chefes de Estado que se relacionaram com ele, como Donald Trump, que vimos recebê-lo de forma espetacular nos Estados Unidos. É alguém que quer recuperar a soberania da Síria e reconstruir o seu país, que tem uma posição absolutamente central no Médio Oriente".
A especialista observa que, para além de a Sharia não ter sido imposta, como muitos temiam, "de momento, não há exageros religiosos, não há nada do que temíamos: um regime extremista religioso. É claro que toda a gente está muito atenta aos mais pequenos desenvolvimentos nesta área, mas as mulheres não são obrigadas a usar o véu, por exemplo".Uma reconstrução de 216 mil milhões de dólares
O Presidente interino concedeu a si próprio mais quatro anos para completar a transição, reconstruir as instituições e o corpo legislativo e dotar o país de uma nova constituição que será submetida a referendo. No final deste processo, afirmou, serão organizadas eleições.
De acordo com a ONU, 1,2 milhões de refugiados regressaram a casa desde a queda de Assad na Síria, onde dezenas de milhares continuam desaparecidos. Cerca de 16,5 milhões de sírios dependerão da ajuda humanitária em 2025, de acordo com a ONU. O Banco Mundial estimou recentemente que o custo da reconstrução da Síria poderá atingir 216 mil milhões de dólares.
Catherine Tonero / 8 dezembro 2025 15:57 GMT
Edição e Tradução / Joana Bénard da Costa - RTP
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