Um teste à amizade entre George Bush e Vladimir Putin
A amizade pessoal que se diz existir entre os Presidentes George W. Bush e Vladimir Putin vai ser testada quando os dois dirigentes se reunirem sexta-feira e sábado na cidade russa de São Petersburgo.
As preocupações de Washington com o aumento da tendência totalitária da presidência de Putin - tal como é descrito por alguns observadores - e uma nova agressividade russa em questões de política externa tornaram as relações entre Moscovo e Washington muito mais tensas do que em 2001, quando, após um primeiro encontro, Bush declarou ter olhado para os olhos de Putin e ter ficado com "uma percepção da sua alma".
Em Maio, o vice-presidente norte-americano, Dick Chenney, irritou Moscovo com um discurso em que acusava o Governo de Putin de "injusta e impropriamente restringir os direitos do seu povo".
Cheney acusou também a Rússia de usar o seu petróleo e gás como "instrumentos de intimidação ou chantagem".
Putin respondeu semanas depois, referindo-se aos Estados Unidos como um "lobo que come tudo e não ouve ninguém".
Fontes oficiais afirmaram que apesar desta deterioração, os dois dirigentes mantêm uma boa relação pessoal, contactando pelo telefone "regularmente" e continuando a tratar-se mutuamente pelo primeiro nome.
Andrew Kuchins, um especialista em política russa no centro de estudos Carnegie Endowment for International Peace, disse ser óbvio que as relações entre os dois países se têm vindo a deteriorar, estando agora "tão nervosas que os dois dirigentes vão querer usar esta oportunidade para mudar este estado das coisas".
Washington necessita do apoio da Rússia para lidar com os problemas nucleares da Coreia do Norte e do Irão, enquanto Moscovo precisa dos Estados Unidos para poder aderir à Organização Mundial de Comércio.
Esta situação levou analistas a considerar que no encontro será sublinhado o que une os dois países e não aquilo que os divide.
A administração norte-americana anunciou na semana passada a decisão de suspender o embargo à cooperação nuclear com a Rússia, imposto devido à colaboração de Moscovo no programa nuclear iraniano.
Num encontro com jornalistas, o Conselheiro de Segurança Nacional norte-americano Stephen Hadley disse, antes de partir para a Europa, que "os Estados Unidos e a Rússia cooperam estreitamente numa vasta gama de questões de segurança e falam sobre tópicos em que os interesses (dos dois países) divergem".
"Eu espero que o Presidente vá abordar com Putin, em termos francos mas em privado, recentes tendências que fazem levantar questões sobre o compromisso da Rússia relativa às liberdades democráticas e instituições", disse Hadley.
Para sublinhar a importância desta questão, Bush tem previstos encontros, na Rússia, com dirigentes de organizações da sociedade civil.
Hadley sublinhou repetidamente que, apesar dessas diferenças, os Estados Unidos e a Rússia cooperam em "questões muito importantes" como na luta contra o terrorismo, a contra proliferação, Coreia do Norte e Irão.
"A Rússia é um importante interveniente na Europa. É um país importante no mundo. Por isso é importante que nós discutamos estas questões do modo como eu descrevi (francamente mas em privado), cooperando em áreas onde podemos cooperar e sendo claros naquilo em que discordamos", disse Hadley.
Bush sabe que as relações com a Rússia são vitais, especialmente devido ao avolumar das crises com o Irão e a Coreia do Norte, afirmou Clifford Gaddy do Brookings Institution, um centro de estudos com sede em Washington.
"A sua principal prioridade é ter uma relação com Putin que lhe permita fazer face a questões estratégicas importantes a que os Estados Unidos fazem face a curto prazo", acrescentou Gaddy, um dos peritos em questões russas convidado a deslocar-se na semana passada à Casa Branca para uma "conversa" com George W. Bush.
Hadley disse ser difícil de prever um acordo sobre a entrada Rússia na Organização Mundial de Comercio antes do encontro entre os dois dirigentes, enquanto um acordo de cooperação nuclear "vai levar meses" a ser concluído.
Bush e Putin vão também abordar as questões a serem discutidas na cimeira do G8 (Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Canadá, Estados Unidos, Japão e Rússia), que começa sábado e que se seguira ao encontro entre os dois Presidentes.