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UNICEF alerta para o "impacto significativo" da Covid-19 na saúde mental das crianças e jovens

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Portugal é o segundo país europeu com a maior percentagem de adolescentes com distúrbios mentais Leonhard Foeger - Reuters

No relatório sobre a saúde mental das crianças e jovens a nível mundial, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta para o facto de a pandemia da Covid-19 ter colocado a saúde mental das crianças e jovens em risco, podendo mesmo danificar a saúde mental de uma geração. De acordo com a UNICEF, pelo menos uma em cada sete crianças foi diretamente afetada pelos confinamentos. Para a diretora executiva do fundo, "o impacto é significativo, e é apenas a ponta do iceberg".

A UNICEF explica que serão precisos anos para que se possa realmente avaliar o impacto da Covid-19 na nossa saúde mental, mas alerta desde já para as consequências a longo prazo na saúde mental dos mais jovens.

No relatório “A Situação Mundial da Infância 2021 - Na minha Mente: promover, proteger e cuidar da saúde mental das crianças”, a UNICEF explica que a Covid-19 veio acentuar os problemas relacionados com a saúde mental e levantou sérias preocupações relativamente às crianças e respetivas famílias.

Com os confinamentos e todas as restrições relacionadas com a pandemia, as crianças perderam anos fundamentais das suas vidas longe da família, dos amigos, das escolas, das brincadeiras – elementos-chave da própria infância", diz a diretora executiva da UNICEF Henrietta Fore. "O impacto é significativo e é apenas a ponta do iceberg", afirma.

De acordo com os primeiros resultados de um inquérito internacional a crianças e adultos em 21 países conduzido pela UNICEF e a Gallup - que está previsto no presente relatório -, uma média de um em cada cinco jovens inquiridos, com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos, diz sentir-se frequentemente deprimido ou com pouco interesse em fazer as coisas.

O relatório reporta ainda que, globalmente, pelo menos uma em cada sete crianças foi diretamente afetada pelos confinamentos, enquanto mais de 1,6 mil milhões de crianças sofreram alguma perda ao nível da educação.
Portugal é o segundo país europeu com a maior percentagem de adolescentes com distúrbios mentais
De acordo com estimativas apresentadas pela UNICEF de 2019, na Europa, nove milhões de crianças e adolescentes entre os 10 e os 19 anos vivem com um distúrbio mental diagnosticado. A ansiedade e depressão correspondiam a 55 por cento dos distúrbios mentais diagnosticados nesta faixa etária.

Portugal é o segundo país europeu com a maior percentagem estimada de adolescentes diagnosticados com distúrbios mentais. São 218.014 crianças entre os 10 e os 19 anos, o que corresponde a 19,8 por cento, segundo aponta o relatório
. Acima de Portugal está Espanha, com uma percentagem de 20,8.

Na Europa, o suicídio é a segunda maior causa de morte entre adolescentes dos 15 aos 19 anos. Quase 1200 crianças e adolescentes entre os 10 e os 19 anos põem fim à vida todos os anos – o que corresponde a uma média de três mortes por dia por suicídio na Europa.
UNICEF apela a um maior investimento na saúde mental
A UNICEF explica que a Covid-19 também destacou a fragilidade dos sistemas de apoio à saúde mental em muitos países e, mais uma vez, salientou como essas dificuldades recaem desproporcionalmente sobre as comunidades mais desfavorecidas.

“Mesmo antes da pandemia, demasiadas crianças eram sobrecarregadas com o peso de problemas de saúde mental não resolvidos. Os governos estão a investir muito pouco para fazer face a estas necessidades críticas”, aponta Henrietta Fore.

A UNICEF apela, por isso, aos governos e aos parceiros dos setores público e privado para que se "comprometam, comuniquem e atuem para promover a saúde mental de todas as crianças, adolescentes e prestadores de cuidados, a proteger aqueles que necessitam de ajuda e a cuidar dos mais vulneráveis".

"A saúde mental é uma parte da saúde física - não nos podemos dar ao luxo de continuar a vê-la como se assim não fosse", diz Henrietta Fore. "Durante demasiado tempo, tanto nos países ricos como nos pobres, temos visto muito pouca compreensão e muito pouco investimento num elemento crítico para maximizar o potencial de cada criança. Isto precisa de mudar", acrescenta.

A UNICEF apela, assim, ao investimento urgente na saúde mental das crianças e adolescentes em todos os setores, e não apenas na saúde; à integração e ampliação das intervenções baseadas em evidências em todos os setores da saúde, educação e proteção social, incluindo programas parentais que promovam a capacidade de resposta, a prestação de cuidados e o apoio à saúde mental de pais e cuidadores e assegurar que as escolas apoiam a saúde mental através de serviços de qualidade e relações positivas. A organização apela ainda à “quebra do silêncio” em torno da doença mental.

“É necessário que as autoridades estejam atentas e que ajam ativamente, que se envolvam e comprometam com as soluções necessárias para melhorar a qualidade da saúde mental das nossas crianças e jovens. É necessária uma maior atenção sobre este tema e um maior investimento”, afirma Beatriz Imperatori, diretora executiva da UNICEF Portugal.
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