Universitários estrangeiros terão de abandonar EUA se passarem a ter aulas virtuais

por Joana Raposo Santos - RTP
Apenas em 2018, os alunos estrangeiros geraram receitas de 45 milhões de dólares à economia norte-americana. Foto: Joshua Roberts - Reuters

Os estudantes estrangeiros que estiverem a tirar cursos nos Estados Unidos terão de abandonar o país caso as suas universidades passem a realizar aulas exclusivamente online devido à pandemia de Covid-19. A medida foi anunciada pela agência de Imigração e Alfândegas dos EUA, que alertou os alunos para o risco de deportação caso não cumpram com a regra.

A agência de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla original), explicou em comunicado que estudantes com determinados vistos “não podem tirar um curso exclusivamente online e permanecer nos Estados Unidos”.

“O Departamento de Estado norte-americano não vai emitir vistos a estudantes ingressados em escolas e/ou programas que sejam realizados totalmente online no próximo semestre, e a ICE não vai permitir que esses estudantes entrem nos Estados Unidos”, garantiu a agência.

A medida pode vir a afetar milhares de alunos estrangeiros que se encontram a estudar em universidades norte-americanas e que representam uma importante fonte de rendimento para essas instituições de ensino, que arriscam agora ficar sem estas propinas.

Apenas em 2018, estes alunos geraram receitas de 45 milhões de dólares à economia norte-americana. Os estudantes têm dez dias para atualizar o estado das suas aulas, declarando se as mesmas estão a decorrer presencialmente ou online, no sistema SEVIS (Student and Exchange Visitor Information System).

A decisão chega numa altura em que universidades de todo o país estão a começar a fazer a transição das aulas presenciais para as aulas online na sua totalidade, de modo a impedir a propagação do novo coronavírus.

A conceituada universidade de Harvard é uma das que aderiu a esta alternativa, que se aplica inclusivamente aos estudantes que habitam no próprio campus. Em comunicado, o diretor da instituição disse lamentar “profundamente” a medida imposta pelo Governo, considerando-a “uma abordagem brusca para um complexo problema”.

Como alternativa para os alunos afetados, a agência de Imigração e Alfândega sugere que estes peçam transferência para universidades nas quais se mantenha o ensino presencial. Podem também optar por universidades com um modelo híbrido, que mantenham uma conjugação de aulas presenciais e virtuais.

A medida da ICE aplica-se a quem possua vistos das categorias F-1 ou M-1, destinados a estudantes académicos ou vocacionais. Em 2019, o Departamento de Estado dos EUA emitiu quase 389 mil vistos de categoria F e mais de nove mil da categoria M.
Medida “xenófoba e cruel”
A oposição democrata já se pronunciou sobre a medida. “Esta decisão não faz sentido, é xenófoba e cruel”, considerou a senadora Elizabeth Warren. Também Bernie Sanders defendeu que “a crueldade da Casa Branca não conhece limites”. “Estão a fazer os estudantes estrangeiros escolher entre colocar a vida em risco para assistirem a aulas presenciais ou serem deportados”, criticou.

Brad Farnsworth, vice-presidente da organização de ensino superior American Council on Education, admitiu à CNN que a medida o apanhou de surpresa. “Isto vai criar mais confusão e mais incertezas”, considerou.

A entidade, que representa cerca de 1800 universidades, está particularmente preocupada com a possibilidade de a crise pandémica piorar no semestre de outono e levar a que todas as instituições, incluindo aquelas que continuam agora a optar por aulas presenciais, passem para o regime virtual, deixando os alunos estrangeiros sem outra opção a não ser a de abandonar o país.

Já Theresa Brown, diretora para Imigração na organização Bipartisan Policy Center, teme que os alunos não consigam regressar aos seus países de origem devido às restrições de circulação impostas por causa da Covid-19. “Se não puderem voltar para casa, o que vão fazer?”, lamentou à CNN.

Esta não é a primeira medida contra imigrantes que a Administração Trump impõe nos últimos meses, como resultado da crise pandémica. Em junho, o Governo suspendeu os vistos de trabalho de uma grande parte de trabalhadores estrangeiros que, segundo o Presidente, competiam com cidadãos norte-americanos por empregos.

Utilizando também a Covid-19 como justificação, a Casa Branca decidiu suspender a admissão de requerentes de asilo na fronteira com o México, alegando riscos de saúde relacionados com a doença.

c/ agências
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