Várias pessoas burladas em Maputo por promessas de juros astronómicos

por Lusa

Várias pessoas foram burladas em Maputo em esquemas que envolvem depósitos com promessas de juros elevados por entidades não licenciadas, levando o Banco de Moçambique a manifestar "preocupação com a proliferação" destes negócios "criminosos".

Uma das vítimas, funcionária pública, contou à Lusa que as suas poupanças no valor de 100 mil meticais (1.473 euros) "evaporarem", quando uma instituição que pensou que fosse legal "desapareceu" com depósitos de dezenas de pessoas que colocaram lá o seu dinheiro com promessa de juros exorbitantes.

"Com 100 mil meticais, prometiam-me juros de 100% em dois meses, mas fiquei sem o capital e sem os juros", afirmou, falando no anonimato, porque agora já sabe que se meteu num crime.

O facto de a referida entidade funcionar à luz do dia, em escritórios situados em pleno centro de Maputo, levou muitas pessoas a acreditar que se tratava de uma atividade licenciada pelo regulador financeiro moçambicano.

"As instalações dessa empresa andavam sempre cheias de pessoas que iam lá colocar os seu dinheiro vivo",

Um homem que também caiu nas malhas do esquema de depósitos fraudulentos narrou que apostou num depósito a prazo de 20 mil meticais (294 euros), para receber 60 mil meticais (883 euros), em três três meses, mas perdeu tudo, porque as pessoas que lhe fizeram essa promessa desapareceram.

"Quando começaram a surgir desconfianças, porque os primeiros que deviam receber capital e juros só receberam juros, os donos dessa instituição deixaram de ser vistas no escritório", narrou.

Uma outra vítima contou que dezenas de pessoas estão à procura de uma mulher que fugiu com mais de um milhão de meticais (cerca de 15 mil euros) em depósitos, após convencer as vítimas a entregar-lhes o dinheiro sob promessa de um reembolso acompanhado de empréstimos avultados.

"Aquilo que ela prometeu não era o pagamento com juros, era que cada um que fosse parte do negócio receberia os pagamentos de todos os outros de uma só vez, ficando depois a pagar mensalmente até que todos do grupo recebessem. Era um ´xitique rotativo`", explicou a mulher, um modelo circular de depósito e empréstimos, modelo típico de poupança em Moçambique e países vizinhos.

Os casos têm surgido e levaram o Banco de Moçambique a emitir um comunicado na última semana, manifestando "preocupação com a proliferação, no mercado, de entidades que se dedicam à captação de depósitos de particulares, sem estarem licenciadas para o efeito".

No comunicado é pedido que, antes de fazerem qualquer depósito, os investidores ou aforradores consultem a lista de instituições autorizadas no portal do Banco de Moçambique - na secção de `área de atuação`.

Ao mesmo tempo, o regulador elencou 10 sinais que devem motivar desconfiança.

O banco central fez o alerta para o perfil usual do embuste: "Geralmente, as instituições que atuam ilegalmente na área financeira aderem ao esquema de pirâmide financeira. Caracterizaram pela promessa de ganhos a curto prazo, normalmente na forma de juros sobre os valores depositados".

Os ganhos sobre capital prometidos por essas instituições não licenciadas são "muito mais altos do que a média praticada no mercado e aumentam com a angariação de mais depositantes", alertou.

O Banco de Moçambique assinalou ainda que os promotores recorrem aos depositantes para a angariação de mais clientes, prometendo a estes intermediários comissões chorudas: a entrada de novas pessoas no esquema faz parecer que aumentam os rendimentos para os depositantes mais antigos, mas depois o modelo torna-se insustentável.

Uma vítima disse que se sentiu atraída por esse tipo de produto financeiro pela expectativa de ganho elevado fácil, muito acima dos juros pagos pelos depósitos a prazo nas instituições financeiras licenciadas e sem burocracia.

 

 

 

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