Mundo
Vaticano apresenta exortação do Papa sobre a família
Quem esperava grandes novidades doutrinais desiludiu-se. A exortação apostólica Amoris Laetitia do Papa Francisco, sobre o amor em família, é um enorme apelo à misericórdia, que não leve contudo a Igreja a renunciar a propor "o projeto pleno do matrimónio".
A apresentação das linhas principais do texto, esta sexta-feira, na sala de imprensa da Santa Sé, ficou a cargo do arcebispo de Viena, cardeal Christoph Schonborn.
O cardeal sublinhou a enorme delicadeza com que Francisco tratou as diferentes situações que a família enfrenta nos tempos atuais "sem julgar nem condenar".
Aliás, refere o cardeal, o apelo à misericórdia e ao acompanhamento pastoral é recorrente em toda a exortação apostólica, apelando a "caminhar juntos".
A lógica da integração é a chave do seu acolhimento pastoral, "sentindo a igreja como uma mãe que os acompanha sempre", referiu Schonborn.
"Compreendo aqueles que preferem um cuidado pastoral mais rigoroso que não deixa lugar à confusão. Mas eu acredito sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito Santo semeia no meio da fraqueza humana", refere o Papa. A exortação apostólica "A Alegria do Amor" (Amoris Laetitia) tem quase 300 páginas distribuídas por nove capítulos. Pode ser lida aqui em português.
Francisco avisa para os riscos de "colocar tantos rigores à misericórdia que esta se esvazia". E sublinha que, "ao acreditar que tudo é branco ou negro, às vezes escorraçamos as possibilidades de desenvolvimento", os "pequenos passos" que levam à graça de Deus.
"O confessionário não deve ser uma sala de torturas mas um lugar de misericórdia", diz por exemplo Francisco.
"Fomos chamados a formar consciências, não a substitui-las", acrescenta.
Uniões homossexuais e comunhão dos recasados
A questão das uniões homossexuais está quase ausente do texto, já que o Papa não lhes reconhece equivalência às uniões entre homem e mulher consagradas no "plano de Deus" para a humanidade.
"Quanto às propostas de colocar as uniões entre pessoas homossexuais no mesmo nível que o matrimónio, não há absolutamente nenhumas bases para considerar as uniões homossexuais como de alguma forma similares ou sequer remotamente análogas ao plano de Deus para o casamento e família", escreve Francisco.
Para o Papa, contudo, cada caso é um caso e cada situação deve ter acompanhamento específico. Não se deve esperar uma nova norma canónica aplicável a todos os casos - quem o esperava "ficará desiludido" refere Francisco.
O Papa oferece como solução um novo encorajamento a um responsável discernimento, pessoal e pastoral, dos casos particulares. Um "itinerário de acompanhamento" que leve os fiéis a tomar consciência da sua posição face a Deus - "sem prescindir das exigências da verdade e da caridade presentes no evangelho".
As recomendações aplicam-se assim também aos casais divorciados e recasados - que poderão ter acesso à comunhão nalguns casos, admite Francisco.
Esta foi aliás uma questão que ocupou muito o Papa Francisco, como referiu o arcebispo de Viena. "Sente-se a experiência do Papa Francisco que acompanhou tantas famílias em dificuldades", afirmou.
A Igreja Católica Apostólica Romana proíbe a comunhão aos divorciados recasados, por considerar que estes não estão "em estado de graça" - já que a sua nova união contraria o sacramento do matrimónio antes pedido e recebido livremente e cuja nulidade não tenha sido declarada: vivem numa "situação de adultério" e por isso em "pecado mortal".
Situação "irregular" não implica pecado mortal
O Papa diferencia agora vários tipos de situação de "irregularidade" face à Igreja, que podem abrir ou fechar o caminho aos sacramentos da comunhão e da confissão.
Sublinha, nomeadamente, que "uma segunda união consolidada no tempo, com novos filhos, com fidelidade comprovada, dedicação generosa, compromisso cristão, consciência da irregularidade da sua situação", é diferente de outra "que vem dum divórcio recente, com todas as consequências de sofrimento e confusão que afectam os filhos e famílias inteiras, ou a situação de alguém que faltou repetidamente aos seus compromissos familiares".
Na sua exortação apostólica que, no capítulo oito, se baseia e reflete nas mais recentes conclusões sinodais, Francisco abre caminho a que, nesta questão, cada Igreja encontre soluções adaptadas às suas culturas particulares. Uma recomendação que, para os críticos desta solução, poderá "lançar o caos" na Igreja.
Outra preocupação do Papa é a preparação dos novos casais, que deve ser objeto de profunda reflexão pastoral. Francisco reconhece aliás também validade a uniões de facto que sejam "estáveis", em que os esposos se acompanhem mutuamente e aos filhos e que deverão ser acolhidas de modo a conduzi-las ao matrimónio eclesial.

Em pleno ano da Misericórdia
Amoris Laetitia é a exortação do Papa Francisco após dois sínodos sobre a família e muito aguardada por mais de 1,3 mil milhões de católicos. Nela, o Papa dá a sua orientação final sobre questões polémicas, como o drama de casais católicos recasados civilmente, a problemática da nulidade do matrimónio ou a homossexualidade.
A exortação apostólica pós-sinodal, A Alegria do Amor, revela ainda o que pensa Francisco também da contracepção e da forma mais correta de educar crianças.
Um casal de professores universitários, Francesco Miano Miano e Giuseppina De Simone, deu igualmente o seu testemunho e reações às recomendações de Francisco durante a apresentação da exortação.
O documento culmina o trabalho de três anos da Igreja sobre o tema da família, objeto de dois sínodos, o primeiro dos quais trabalhou sobre as respostas dos fiéis a um inquérito de 38 perguntas sobre a forma como vivem a sua fé.
A coincidência da sua publicação em pleno ano da Misericórdia e os apelos feitos por Francisco ao acolhimento das "famílias feridas" é amplamente sublinhada pelos analistas.
O cardeal sublinhou a enorme delicadeza com que Francisco tratou as diferentes situações que a família enfrenta nos tempos atuais "sem julgar nem condenar".
Aliás, refere o cardeal, o apelo à misericórdia e ao acompanhamento pastoral é recorrente em toda a exortação apostólica, apelando a "caminhar juntos".
A lógica da integração é a chave do seu acolhimento pastoral, "sentindo a igreja como uma mãe que os acompanha sempre", referiu Schonborn.
"Compreendo aqueles que preferem um cuidado pastoral mais rigoroso que não deixa lugar à confusão. Mas eu acredito sinceramente que Jesus Cristo quer uma Igreja atenta ao bem que o Espírito Santo semeia no meio da fraqueza humana", refere o Papa. A exortação apostólica "A Alegria do Amor" (Amoris Laetitia) tem quase 300 páginas distribuídas por nove capítulos. Pode ser lida aqui em português.
Francisco avisa para os riscos de "colocar tantos rigores à misericórdia que esta se esvazia". E sublinha que, "ao acreditar que tudo é branco ou negro, às vezes escorraçamos as possibilidades de desenvolvimento", os "pequenos passos" que levam à graça de Deus.
"O confessionário não deve ser uma sala de torturas mas um lugar de misericórdia", diz por exemplo Francisco.
"Fomos chamados a formar consciências, não a substitui-las", acrescenta.
Uniões homossexuais e comunhão dos recasados
A questão das uniões homossexuais está quase ausente do texto, já que o Papa não lhes reconhece equivalência às uniões entre homem e mulher consagradas no "plano de Deus" para a humanidade.
"Quanto às propostas de colocar as uniões entre pessoas homossexuais no mesmo nível que o matrimónio, não há absolutamente nenhumas bases para considerar as uniões homossexuais como de alguma forma similares ou sequer remotamente análogas ao plano de Deus para o casamento e família", escreve Francisco.
Para o Papa, contudo, cada caso é um caso e cada situação deve ter acompanhamento específico. Não se deve esperar uma nova norma canónica aplicável a todos os casos - quem o esperava "ficará desiludido" refere Francisco.
O Papa oferece como solução um novo encorajamento a um responsável discernimento, pessoal e pastoral, dos casos particulares. Um "itinerário de acompanhamento" que leve os fiéis a tomar consciência da sua posição face a Deus - "sem prescindir das exigências da verdade e da caridade presentes no evangelho".
As recomendações aplicam-se assim também aos casais divorciados e recasados - que poderão ter acesso à comunhão nalguns casos, admite Francisco.
Esta foi aliás uma questão que ocupou muito o Papa Francisco, como referiu o arcebispo de Viena. "Sente-se a experiência do Papa Francisco que acompanhou tantas famílias em dificuldades", afirmou.
A Igreja Católica Apostólica Romana proíbe a comunhão aos divorciados recasados, por considerar que estes não estão "em estado de graça" - já que a sua nova união contraria o sacramento do matrimónio antes pedido e recebido livremente e cuja nulidade não tenha sido declarada: vivem numa "situação de adultério" e por isso em "pecado mortal".
Situação "irregular" não implica pecado mortal
O Papa diferencia agora vários tipos de situação de "irregularidade" face à Igreja, que podem abrir ou fechar o caminho aos sacramentos da comunhão e da confissão.
Sublinha, nomeadamente, que "uma segunda união consolidada no tempo, com novos filhos, com fidelidade comprovada, dedicação generosa, compromisso cristão, consciência da irregularidade da sua situação", é diferente de outra "que vem dum divórcio recente, com todas as consequências de sofrimento e confusão que afectam os filhos e famílias inteiras, ou a situação de alguém que faltou repetidamente aos seus compromissos familiares".
Na sua exortação apostólica que, no capítulo oito, se baseia e reflete nas mais recentes conclusões sinodais, Francisco abre caminho a que, nesta questão, cada Igreja encontre soluções adaptadas às suas culturas particulares. Uma recomendação que, para os críticos desta solução, poderá "lançar o caos" na Igreja.
Outra preocupação do Papa é a preparação dos novos casais, que deve ser objeto de profunda reflexão pastoral. Francisco reconhece aliás também validade a uniões de facto que sejam "estáveis", em que os esposos se acompanhem mutuamente e aos filhos e que deverão ser acolhidas de modo a conduzi-las ao matrimónio eclesial.
Em pleno ano da Misericórdia
Amoris Laetitia é a exortação do Papa Francisco após dois sínodos sobre a família e muito aguardada por mais de 1,3 mil milhões de católicos. Nela, o Papa dá a sua orientação final sobre questões polémicas, como o drama de casais católicos recasados civilmente, a problemática da nulidade do matrimónio ou a homossexualidade.
A exortação apostólica pós-sinodal, A Alegria do Amor, revela ainda o que pensa Francisco também da contracepção e da forma mais correta de educar crianças.
Um casal de professores universitários, Francesco Miano Miano e Giuseppina De Simone, deu igualmente o seu testemunho e reações às recomendações de Francisco durante a apresentação da exortação.
O documento culmina o trabalho de três anos da Igreja sobre o tema da família, objeto de dois sínodos, o primeiro dos quais trabalhou sobre as respostas dos fiéis a um inquérito de 38 perguntas sobre a forma como vivem a sua fé.
A coincidência da sua publicação em pleno ano da Misericórdia e os apelos feitos por Francisco ao acolhimento das "famílias feridas" é amplamente sublinhada pelos analistas.
A resposta à doutrina
O primeiro sínodo - extraordinário - decorreu entre 5 e 19 de outubro de 2014. O segundo começou no dia 5 de outubro de 2015 e durou três semanas, aprofundando o tema: "A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo".
As duas reuniões de bispos de todo o mundo foram pontuados por várias polémicas, incluindo acusações de que o Papa estaria a beneficiar bispos favoráveis a grandes reformas contra fações doutrinalmente mais conservadoras.
O documento final não refere nenhuma rutura formal com a doutrina. Lembra contudo que a regra geral pode não ser igual para todos e que muitas vezes cada caso terá de ser analisado individualmente e sempre numa perspetiva de acolhimento.
“O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, e pode haver fatores que limitam a capacidade de decisão. Portanto, ao mesmo tempo que a doutrina se expressa com clareza, é preciso evitar os julgamentos que não levam em conta a complexidade das diferentes situações, e temos de estar atentos à forma como as pessoas vivem e sofrem por causa de sua condição", referia o relatório final do sínodo.
Espera-se que Amoris Laetitia revele finalmente algo que tem sido objeto de muita especulação: o pensamento do Papa sobre o acesso aos sacramentos de divorciados recasados e a homossexualidade.
O documento tem cerca de 200 páginas e a data de 19 de março, festa de S. José.
Franciscusleaks
A 18 de fevereiro, durante o voo de regresso a Roma, após a visita de seis dias a Cuba e ao México, o Papa revelara já que a exortação estava em fase de conclusão.
E levantou na altura o véu sobre algumas questões, sublinhando que a linha condutora é "uma reflexão sobre as famílias feridas".
Desde logo, Francisco afirmou que defende um "trabalho de integração" dos divorciados que voltaram a casar, no qual "todas as portas estão abertas", mas com algumas condições: não se pode dizer que "de agora em diante" todos poderão comungar.
“Isso seria ferir os cônjuges, o casal, porque não lhes permitiria fazer esse caminho de integração”, advertiu o Papa.
"Integrar na Igreja não significa comungar, porque eu conheço católicos recasados que vão à igreja uma ou duas vezes por ano [e dizem]: Eu quero comungar, como se fosse uma honorificência", explicou Francisco aos jornalistas.
A preparação dos casais "para o matrimónio" é também obejeto de recomendações e chamadas de atenção a quem tem dever de os guiar. "Para um Sacramento que é para toda a vida, 3-4 conferências…", lamentou.
Outro capítulo "muito interessante", referiu Francisco, será dedicado ao tema da "educação dos filhos", sobre a falta de tempo dos pais.
"A palavra-chave que o Sínodo usou e que eu vou retomar é integrar na vida da Igreja as famílias feridas, as famílias de recasados, mas não devemos esquecer-nos de pôr as crianças no centro. São as primeiras vítimas, seja das feridas, seja das condições de pobreza”, realçou Francisco em fevereiro.
c/ Agência Ecclesia
O primeiro sínodo - extraordinário - decorreu entre 5 e 19 de outubro de 2014. O segundo começou no dia 5 de outubro de 2015 e durou três semanas, aprofundando o tema: "A vocação e a missão da família na Igreja e no mundo contemporâneo".
As duas reuniões de bispos de todo o mundo foram pontuados por várias polémicas, incluindo acusações de que o Papa estaria a beneficiar bispos favoráveis a grandes reformas contra fações doutrinalmente mais conservadoras.
O documento final não refere nenhuma rutura formal com a doutrina. Lembra contudo que a regra geral pode não ser igual para todos e que muitas vezes cada caso terá de ser analisado individualmente e sempre numa perspetiva de acolhimento.
“O grau de responsabilidade não é igual em todos os casos, e pode haver fatores que limitam a capacidade de decisão. Portanto, ao mesmo tempo que a doutrina se expressa com clareza, é preciso evitar os julgamentos que não levam em conta a complexidade das diferentes situações, e temos de estar atentos à forma como as pessoas vivem e sofrem por causa de sua condição", referia o relatório final do sínodo.
Espera-se que Amoris Laetitia revele finalmente algo que tem sido objeto de muita especulação: o pensamento do Papa sobre o acesso aos sacramentos de divorciados recasados e a homossexualidade.
O documento tem cerca de 200 páginas e a data de 19 de março, festa de S. José.
Franciscusleaks
A 18 de fevereiro, durante o voo de regresso a Roma, após a visita de seis dias a Cuba e ao México, o Papa revelara já que a exortação estava em fase de conclusão.
E levantou na altura o véu sobre algumas questões, sublinhando que a linha condutora é "uma reflexão sobre as famílias feridas".
Desde logo, Francisco afirmou que defende um "trabalho de integração" dos divorciados que voltaram a casar, no qual "todas as portas estão abertas", mas com algumas condições: não se pode dizer que "de agora em diante" todos poderão comungar.
“Isso seria ferir os cônjuges, o casal, porque não lhes permitiria fazer esse caminho de integração”, advertiu o Papa.
"Integrar na Igreja não significa comungar, porque eu conheço católicos recasados que vão à igreja uma ou duas vezes por ano [e dizem]: Eu quero comungar, como se fosse uma honorificência", explicou Francisco aos jornalistas.
A preparação dos casais "para o matrimónio" é também obejeto de recomendações e chamadas de atenção a quem tem dever de os guiar. "Para um Sacramento que é para toda a vida, 3-4 conferências…", lamentou.
Outro capítulo "muito interessante", referiu Francisco, será dedicado ao tema da "educação dos filhos", sobre a falta de tempo dos pais.
"A palavra-chave que o Sínodo usou e que eu vou retomar é integrar na vida da Igreja as famílias feridas, as famílias de recasados, mas não devemos esquecer-nos de pôr as crianças no centro. São as primeiras vítimas, seja das feridas, seja das condições de pobreza”, realçou Francisco em fevereiro.
c/ Agência Ecclesia