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Venezuela. Guaidó perde batalha da ajuda e continua na Colômbia

por RTP
Marco Bello - Reuters

Pelo menos quatro pessoas terão morrido e 18 terão ficado feridas, este sábado, em confrontos na Venezuela, de acordo com números da organização não governamental venezuelana de defesa dos direitos humanos "Foro Penal". Quatro camiões bloqueados na Ponte Simão Bolívar abandonaram o local e regressaram ao armazém na Colômbia depois de terem sido enviados para trás pelas forças leais a Maduro.

Ao longo deste sábado travou-se, nas pontes que ligam a Colômbia e o Brasil à Venezuela, uma luta pela legitimação do poder em Caracas que assentava na batalha para fazer passar a ajuda humanitária internacional pelas fronteiras venezuelanas.

As milícias ligadas ao Presidente Nicolás Maduro, os chamados coletivos, atiraram contra a população em Santa Elena de Uairén e em San Antonio del Táchira. De acordo com o jornal The Washington Post morreram quatro pessoas, uma das quais um rapaz de 14 anos, quando as brigadas abriram fogo sobre a população.

No mínimo, 285 pessoas ficaram feridas durante os distúrbios registados aquando da entrada de ajuda humanitária na Venezuela junto à fronteira com a Colômbia, avançou o ministro dos Negócios Estrangeiros colombiano, Carlos Holmes Trujillo.
Pelo menos 60 militares e elementos das forças de segurança venezuelanas desertaram e prestaram fidelidade, Juan Guaidó.
"Estes atos que violam os direitos humanos ocorridos em território venezuelano causaram até ao momento 285 feridos", declarou o ministro.

Na fronteira com a Colômbia, o clima de tensão atingiu também camiões que foram incendiados, tendo as tropas venezuelanas disparado gás lacrimogéneo contra os civis.

Os incidentes ocorreram à medida que os camiões de ajuda humanitária tentavam entrar na Venezuela.

Um veículo terá entrado no país, tendo atravessado a fronteira com o Brasil, o que foi celebrado pelo auto-proclamado presidente interino na rede social twitter. No entanto, a agência Lusa testemunhou que dois camiões se mantinham na linha divisória na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Quase três horas mais tarde, pelas 16h45 locais (20h45 em Lisboa), os camiões regressaram a território brasileiro.

Outros camiões foram obrigados a regressar à Colômbia, depois de serem expulsos da fronteira pelas forças leais ao presidente Nicolas Maduro.
Juan Guaidó admite convocar eleições em breve
O presidente interino da Venezuela acusa o chefe de Governo de crimes contra a humanidade e admite convocar eleições livres no país em breve.

Guaidó agradeceu a ajuda do Governo colombiano e destacou o papel dos que participaram na operação com a ajuda humanitária com uma atitude de não violência perante a força das Forças Armadas bolivarianas.

"Hoje massacraram pessoas com armas de fogo em San Antonio del Táchira e em Santa Elena de Uairen”, lamentou Guaidó, que permanece na Colòmbia, continuando as fronteiras fechadas.

"Depois de hoje, tudo vai mudar novamente na Venezuela, pois a cadeia de comando já se rompeu. [Os militares] já não obedecem às ordens do ditador e põem-se do lado da Constituição para salvar as nossas gentes", avisa.

Guaidó, que também é presidente da Assembleia Nacional e líder da oposição, afirmou que responsabilizará "os que hoje usurpam as funções de comando e ameaçam a vida de pessoas no país".
Nicolás Maduro aceita ajuda humanitária da União Europeia
Em resposta ao apoio da Colômbia ao presidente interino, Nicolás Maduro anunciou, durante um comício, o corte das relações diplomáticas com o país vizinho.

Com recados para todos os lados, o Presidente da Venezuela cortou relações com a Colômbia, liderada por Ivan Duque.

"Decidi romper as relações políticas e diplomáticas com o Governo fascista da Colômbia cujo embaixador e cônsul têm 24 horas para deixar a Venezuela. Fora, oligarcas!", declarou.

Maduro apelidou o líder da oposição na Venezuela de “marioneta vendida ao império” e criticou o autoproclamado Presidente interino Juan Guaidó, por não ter convocado ainda eleições presidenciais antecipadas no país.

"Onde está a convocatória, se têm um Presidente interino. Eu desafio-o a convocar eleições, para ver quem tem votos e quem ganha eleições neste país", acrescentou.

Segundo Nicolás Maduro, "as eleições deveriam ser hoje, porque assim o manda a Constituição", fazendo alusão à legislação venezuelana segundo a qual uma vez assumido o cargo o Presidente interino tem um mês para convocar eleições presidenciais.

O Presidente da Venezuela acusou Donald Trump de querer intervir na Venezuela por intereses económicos. Disse ainda que duas pessoas morreram após terem ingerido alimentos enviados pelos Estados Unidos.

O chefe do Governo venezuelano refere que os apoiantes do regime são a maioria.

Nicolás Maduro também anunciou que aceitará uma eventual oferta da União Europeia para introduzir "legalmente" ajuda humanitária no país, sob a coordenação das Nações Unidas.

"Aceitamos ajuda humanitária da União Europeia, ajuda legal", disse o Presidente da Venezuela, no Palácio Miraflores, em Caracas, para milhares de simpatizantes que participaram numa marcha de apoio à revolução bolivariana.

O Presidente da Venezuela começou por referir que tem grandes diferenças com a União Europeia (UE), mas que aceita a ajuda, com coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU).

"A UE, com quem temos grandes diferenças, mandou uma comissão de diálogo, que foi recebida pelo ministro de Relações Exteriores (Jorge Arreaza) e a vice-presidente executiva (Delcy Rodr Rodriguez), e nos fez saber que estavam na disposição de dar assistência e apoio humanitário à Venezuela, legal e formalmente", explicou.

"Estão (outros) a bloquear-nos os medicamentos, e entregámos-lhes a listagem completa de medicamentos. Estão a bloquear-nos os alimentos, e entregámos-lhes uma lista com as necessidades", detalhou o Presidente da Venezuela.

"Dissemos-lhes: vamos coordenar com a ONU para ver se vocês cumprem com a oferta. Tudo o que enviarem, a Venezuela vai pagar, porque não somos mendigos de ninguém. Que cheguem aos nossos portos, de maneira legal. Aceitamos", frisou.

Maduro referiu ainda estar na disposição de comprar os produtos vendidos no Estado brasileiro de Roraima. "Ao Brasil, por exemplo, nós estamos na disposição de comprar todo o arroz, açúcar, leite em pó, toda a carne que nos vendam a partir do Estado de Roraima, desde Boavista" (capital do estado), disse.

Segundo Nicolás Maduro, o que os brasileiros quiserem enviar para a Venezuela, Caracas comprará.

"Querem trazer camiões com leite em pó? Eu compro já, e pago-lhes já. Querem trazer arroz? Eu compro já. Querem trazer carne, que venha, para os mercados populares, para as Clap (caixas com alimentos a preços subsidiados)", disse.

A entrada de ajuda humanitária, especialmente os bens fornecidos pelos Estados Unidos, no território venezuelano tem sido um dos temas centrais do braço-de-ferro entre Nicolás Maduro e Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional que há um mês se auto-proclamou Presidente interino da Venezuela.

As doações oriundas dos Estados Unidos e de outros países encontram-se armazenadas em vários Estados vizinhos da Venezuela, como a Colômbia, Brasil e na ilha de Curaçao, nas Antilhas holandesas.

O governo venezuelano negado repetidamente a existência de uma crise humanitária no país.

C/ Lusa e agências internacionais
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