Economia
"Vergonha de voar" desapareceu: Transporte aéreo gera mais lucros do que nunca
Há cinco anos, em pleno período da covid, surgiu mesmo o termo "flygskam" (a vergonha de voar em sueco). Isso foi antes das sucessivas crises - inflação, conflitos, tensões orçamentais - que voltaram a colocar o preço no centro das escolhas dos viajantes. Neste momento pode dizer-se que o transporte aéreo vai bem, muito bem mesmo.
As companhias aéreas internacionais registaram um recorde de vendas e de lucros em 2025. Um ano marcado, no entanto, por alguma turbulência: a guerra comercial lançada por Donald Trump e a escassez de aeronaves. De acordo com dados da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA), as companhias aéreas terão um lucro líquido de 40 mil milhões de dólares este ano.
Dados da aviação civil e comercial melhores do que o previstoÉ muito melhor do que as previsões feitas na primavera passada, quando o mundo económico tremia perante as tarifas proibitivas introduzidas pela administração americana a pedido de Donald Trump.
As campeãs da rentabilidade continuam a ser as companhias aéreas do Golfo. Apresentam uma margem líquida superior a 9%, com cerca de 29 dólares de lucro gerado por passageiro. São quase mais 20 dólares do que na Europa e na América do Norte. Segundo a IATA, a boa saúde do transporte aéreo explica-se pela retoma da atividade de transporte de mercadorias. A associação considera que esta é a prova de que o comércio mundial se adaptou ao protecionismo americano. A IATA congratula-se, em particular, com a agilidade da China, que reorientou os seus fluxos de exportação para outras regiões do mundo, nomeadamente a Europa, depois de ter sido excluída dos Estados Unidos.Transporte aéreo gera mais lucros do que nunca
Depois de se ter saído melhor do que o esperado em 2025, o setor prepara-se para ultrapassar a marca dos 40 mil milhões de dólares de lucro em 2026. E são as companhias aéreas europeias que estão a fazer subir os números, ultrapassando pela primeira vez as rivais norte-americanas. É preciso dizer que nunca houve tanta gente nos aviões. O tráfego mundial de passageiros deverá voltar a aumentar no próximo ano.
Apesar do crescimento anual, as margens das companhias aéreas continuarão a ser inferiores a 4% em 2026. E, ano após ano, o setor queixa-se de ser sobrecarregado com uma série de custos adicionais. A escassez de aviões, os famosos 5.300 aviões em falta na frota mundial, ligada aos atrasos de entrega da Airbus e da Boeing, a que se junta a escassez de peças sobressalentes. Uma escassez que representaria 11 mil milhões de dólares em custos adicionais para as companhias aéreas. Por último, salienta a IATA, o custo adicional é também gerado pela falta de combustível sustentável disponível.
Redução da pegada de carbono
O setor das companhias aéreas, responsável por 2 a 3% das emissões globais de CO2, está sob pressão para reduzir a pegada de carbono.
Os combustíveis de aviação sustentável são vistos como a principal alavanca para a descarbonização nas próximas décadas, mas o recurso é escasso e caro. São produzidos a partir de biomassa, óleos usados e, eventualmente, a partir de hidrogénio produzido a partir de eletricidade descarbonizada, uma técnica que ainda é dispendiosa e complexa.
A partir deste ano, o combustível utilizado pelos aviões que partem dos aeroportos da União Europeia deve ser constituído por, pelo menos, 2% de combustíveis sustentáveis, proporção que deverá aumentar para 6% em 2030 e progressivamente para 70% em 2050.
Mas a realidade é mais difícil: em 2024, a produção mundial de combustíveis sustentáveis representava apenas 0,53% do consumo de combustível mais ecológico. Em cinco anos, a produção atual terá de aumentar dez vezes para atingir o objetivo de 2030. O fosso entre a ambição e a realidade é ainda imenso. Mas à medida que os lucros aumentam, aumenta também a necessidade de coerência climática.
O setor das companhias aéreas, responsável por 2 a 3% das emissões globais de CO2, está sob pressão para reduzir a pegada de carbono.
Os combustíveis de aviação sustentável são vistos como a principal alavanca para a descarbonização nas próximas décadas, mas o recurso é escasso e caro. São produzidos a partir de biomassa, óleos usados e, eventualmente, a partir de hidrogénio produzido a partir de eletricidade descarbonizada, uma técnica que ainda é dispendiosa e complexa.
A partir deste ano, o combustível utilizado pelos aviões que partem dos aeroportos da União Europeia deve ser constituído por, pelo menos, 2% de combustíveis sustentáveis, proporção que deverá aumentar para 6% em 2030 e progressivamente para 70% em 2050.
Mas a realidade é mais difícil: em 2024, a produção mundial de combustíveis sustentáveis representava apenas 0,53% do consumo de combustível mais ecológico. Em cinco anos, a produção atual terá de aumentar dez vezes para atingir o objetivo de 2030. O fosso entre a ambição e a realidade é ainda imenso. Mas à medida que os lucros aumentam, aumenta também a necessidade de coerência climática.
Diane Burghelle-Vernet / 15 dezembro 2025 09:50 GMT
Edição e Tradução / Joana Bénard da Costa - RTP