A salvaguarda da cultura cristã é, nas palavras do próprio, a pedra de toque da política do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, para a sua política interna e externa. E para as eleições europeias de 23 de maio, alerta Viktor Órban, a escolha será feita entre os líderes que defendem os imigrantes e aqueles que combatem a massa chegada do Norte de África e Médio Oriente. Porque, acredita o líder ultranacionalista e de extrema-direita, os migrantes, maioritariamente muçulmanos, vêm colocar em causa as tradições e os alicerces do Velho Continente. E diz ter um plano.
O líder ultranacionalista corta a direito nas próprias bases do cimento europeu, depois de os 28 terem em 2015 desenhado um plano para lidar com as massas migrantes com base na solidariedade dos Estados-membros. De facto, países como Hungria, Polónia ou Áustria, tendo assinado o contrato que estabelecia um controle sobre as rotas migratórias, nunca chegaram de facto a aceitar esta solução, vindo pouco tempo depois ameaçar retirar a sua contribuição para o plano.
Viktor Órban defende há anos uma feroz política de restrição de presença migratória, apesar de a Hungria se debater com uma baixa taxa de natalidade e carências a vários níveis na estrutura laboral. Certos sectores económicos simplesmente não conseguem garantir o necessário contingente de mão de obra, apesar de não ser essa a mensagem que o primeiro-ministro transmite à população húngara.
“Neste país não há um debate sobre migração. Existe antes a propaganda governamental, que tem uma presença de 80% nos meios de comunicação, podendo assim fazer uma lavagem cerebral às pessoas comuns”, lamenta Lajos Bernáth, director da organização húngara para o diálogo intercultural Artemisszió.Lei Stop Soros: George Soros, de origem húngara, financia projectos e organizações civis que fomentam a multiculturalidade.
A determinação de Órban de limpar qualquer traço dessa rota migratória do solo do país levou o seu executivo de extrema-direita a aprovar a Lei Stop Soros, que condena a pena de prisão qualquer cidadão que preste auxílio a migrantes indocumentados ou em situação ilegal.
Na última semana, a partir de Budapeste, no arranque da campanha do seu partido para as europeias de Maio, Viktor Órban dedicou a estas questões uma boa parte do caderno de encargos do programa político do Fidesz.
Na base deste ideário estão dois princípios: a defesa do primado cristão da Europa e a luta contra o maior inimigo dessa tradição religiosa das fundações europeias, os migrantes, grande parte deles professando o islamismo.
“É muita hipocrisia um líder que se diz defensor dos valores cristãos na Europa enquanto mantém crianças refugiadas em centros de detenção arbitrária. Um governo que nega comida a refugiados adultos nas fronteiras da União Europeia e que chegou a ser obrigado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos a alimentar essas pessoas”, afirmou ao El País Gábor Gyulai, director do programa de asilo na Hungria do Comité Helsinki.