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Viktor Órban justifica deportação de imigrantes com primado do cristianismo

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Eva Plevier, Reuters

A salvaguarda da cultura cristã é, nas palavras do próprio, a pedra de toque da política do primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban, para a sua política interna e externa. E para as eleições europeias de 23 de maio, alerta Viktor Órban, a escolha será feita entre os líderes que defendem os imigrantes e aqueles que combatem a massa chegada do Norte de África e Médio Oriente. Porque, acredita o líder ultranacionalista e de extrema-direita, os migrantes, maioritariamente muçulmanos, vêm colocar em causa as tradições e os alicerces do Velho Continente. E diz ter um plano.

No ponto um do seu programa, diz Viktor Órban: “A gestão da migração deve ser feita longe dos burocratas de Bruxelas, que deveriam devolver a autonomia dessa função aos governos nacionais”.

O líder ultranacionalista corta a direito nas próprias bases do cimento europeu, depois de os 28 terem em 2015 desenhado um plano para lidar com as massas migrantes com base na solidariedade dos Estados-membros. De facto, países como Hungria, Polónia ou Áustria, tendo assinado o contrato que estabelecia um controle sobre as rotas migratórias, nunca chegaram de facto a aceitar esta solução, vindo pouco tempo depois ameaçar retirar a sua contribuição para o plano.

Viktor Órban defende há anos uma feroz política de restrição de presença migratória, apesar de a Hungria se debater com uma baixa taxa de natalidade e carências a vários níveis na estrutura laboral. Certos sectores económicos simplesmente não conseguem garantir o necessário contingente de mão de obra, apesar de não ser essa a mensagem que o primeiro-ministro transmite à população húngara.

“Neste país não há um debate sobre migração. Existe antes a propaganda governamental, que tem uma presença de 80% nos meios de comunicação, podendo assim fazer uma lavagem cerebral às pessoas comuns”, lamenta Lajos Bernáth, director da organização húngara para o diálogo intercultural Artemisszió.Lei Stop Soros: George Soros, de origem húngara, financia projectos e organizações civis que fomentam a multiculturalidade.

A determinação de Órban de limpar qualquer traço dessa rota migratória do solo do país levou o seu executivo de extrema-direita a aprovar a Lei Stop Soros, que condena a pena de prisão qualquer cidadão que preste auxílio a migrantes indocumentados ou em situação ilegal.

Na última semana, a partir de Budapeste, no arranque da campanha do seu partido para as europeias de Maio, Viktor Órban dedicou a estas questões uma boa parte do caderno de encargos do programa político do Fidesz.

Na base deste ideário estão dois princípios: a defesa do primado cristão da Europa e a luta contra o maior inimigo dessa tradição religiosa das fundações europeias, os migrantes, grande parte deles professando o islamismo.

É nesse sentido que sentencia para 23 de Maio: “A Europa escolhe o seu futuro entre os líderes que defendem a imigração e aqueles que estão contra”. O início de um programa de sete pontos em que pontifica essa crítica aos burocratas de Bruxelas e no qual defende a ideia de que cada país deve ser livre de escolher se quer ou não acolher imigrantes, atacando ainda George Soros, deixando um pedido a Bruxelas para que não se financiem as organizações fundadas pelo filantropo multimilionário.

“É muita hipocrisia um líder que se diz defensor dos valores cristãos na Europa enquanto mantém crianças refugiadas em centros de detenção arbitrária. Um governo que nega comida a refugiados adultos nas fronteiras da União Europeia e que chegou a ser obrigado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos a alimentar essas pessoas”, afirmou ao El País Gábor Gyulai, director do programa de asilo na Hungria do Comité Helsinki.
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