Vinte anos de prisão para ex-líder juvenil ruandês envolvido no genocídio de 1994
A Justiça ruandesa condenou hoje a 20 anos de prisão um antigo líder juvenil e ex-candidato a deputado por cumplicidade no genocídio contra os tutsis em 1994 e por posse ilegal de armas de fogo.
O tribunal de primeira instância de Kiyumba, no distrito de Muhanga (sul), também condenou Germain Musonera a pagar 50 milhões de francos ruandeses (quase 30.000 euros) à Ibuka, a organização que representa os sobreviventes do genocídio.
Durante as audiências, a procuradoria tinha solicitado prisão perpétua, por considerar que Musonera "desempenhou um papel de liderança na mobilização de jovens que participaram nas matanças" e que "as suas ações e a sua posição naquela época demonstram uma clara cumplicidade".
"Eu era estudante durante o genocídio. Nunca me escondi da Justiça e as minhas viagens ao estrangeiro foram exclusivamente por motivos de trabalho", declarou Musonera perante o tribunal.
Musonera tinha ocupado cargos em diversas instituições governamentais, incluindo no gabinete do primeiro-ministro, antes de se candidatar ao parlamento pelo partido governante da Frente Patriótica Ruandesa.
Foi detido antes das eleições de 2024 e a sua candidatura foi retirada após as acusações que o ligavam ao genocídio se terem tornado públicas.
Segundo os registos judiciais, os crimes foram cometidos na antiga comuna de Nyabikenke, hoje parte do setor de Kiyumba, onde Musonera alegadamente liderava a juventude local e administrava um bar frequentado pela milícia Interahamwe durante o genocídio.
No final do século XIX, o Governo colonial alemão e, mais tarde, o belga dividiram a população do Ruanda em dois grupos fechados: os tutsis, que representavam 14% da população, e a maioria hutu.
As tensões entre ambos os grupos, que em distintos momentos da história gozaram de mais ou menos privilégios devido à marginalização ou exploração mútua, culminaram numa guerra civil entre o Governo pró-hutu ruandês e os então rebeldes da Frente Patriótica Ruandesa (RPF).
Na noite de 06 de abril de 1994, a queda do avião em que viajavam os Presidentes do Ruanda, Juvénal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, serviu de detonador do genocídio contra os tutsis, que deixou pelo menos 800.000 mortos em cerca de 100 dias.