Vírus nigeriano idêntico às estirpes chinesas e turcas

A estirpe H5N1 do vírus da gripe das aves identificada nas galinhas mortas na Nigéria é "exactamente igual" à que matou dezenas de milhares de aves na China, na Turquia e na Europa central, indicou hoje a Organização Internacional da Saúde Animal (OIE).

Agência LUSA /

"O novo vírus isolado em levantamentos na Nigéria foi comparado com quatro isolados na Turquia, dois na China e dois na Croácia", explicou um especialista da OIE em Paris, Alex Thiermann.

"A comunidade genética varia entre 99,4 e 100 por cento, o que significa que estamos perante uma estirpe exactamente igual", acrescentou.

A doença "veio desses países e, por isso, é muito provável que tenha chegado através do comércio" de aves, considerou Thiermann.

"É, em contrapartida, muito provável que ela tenha sido introduzida pelas aves migratórias" que fazem ninho na bacia do lago Chade, no extremo nordeste do país, e depois transportada pelos movimentos de pessoas", acrescentou.

A Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO) solicitou hoje o encerramento dos mercados de aves no norte da Nigéria, atingida pela epidemia da gripe das aves de tipo H5N1.

A FAO e a OIE lançaram um apelo "aos serviços veterinários da Nigéria para encerrarem imediatamente os mercados de aves nos Estados de Kaduna e Kano, bem como nas regiões vizinhas para impedir o vírus de se propagar mais".

"A movimentação de aves deverá cessar imediatamente, com vista à circunscrição da doença", escreveu a FAO em comunicado.

Os mercados de aves do norte da Nigéria continuam a vender em grande quantidade galinhas mortas de uma misteriosa infecção, apesar da confirmação de um foco de gripe das aves a 300 quilómetros a norte de Abuja.

A organização apela "às populações" para que "não importem ou troquem gado ou produtos derivados, incluindo aves".

Após o anúncio, quarta-feira, da descoberta do vírus H5N1 numa quinta do Estado de Kaduna (norte), a epidemia alastrou rapidamente quinta-feira ao norte e ao centro da Nigéria, o primeiro país africano afectado pela gripe das aves, onde dezenas de milhares de aves foram já abatidas.

Os países fronteiriços - Benim, Camarões, Gana, Níger, Chade e Togo - são também instados a "reforçar as medidas de vigilância", nomeadamente mobilizando os respectivos serviços veterinários "para reforçarem as medidas de inspecção e controlo nas fronteiras".

"Abate apropriado, respeitando as normas da OIE na zona infectada e nas áreas vizinhas", "controlo de pessoas e animais que se desloquem para e a partir dessas zonas", "desinfecção rigorosa, higiene e boas práticas de exploração avícola" são as medidas prioritárias, segundo a FAO.

A OIE anunciou hoje que uma missão conjunta da OIE e da FAO chegará na próxima segunda-feira à Nigéria para combater o primeiro foco conhecido de gripe das aves no continente africano.

Os especialistas, provenientes da Europa e da África do Sul, "deverão estar todos na Nigéria segunda-feira", indicou Thiermann.

Os membros da equipa dividir-se-ão pelo terreno em função das suas especialidades e aí trabalharão com outros peritos enviados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), acrescentou.

Alguns epidemiologistas serão encarregados de "avaliar a extensão da doença" e definir as estratégias a pôr em prática para impedir a difusão do vírus altamente contagioso H5N1.

"É muito provável que se trate de uma combinação de abate e vacinação" maciça, a única forma de deter o vírus, numa altura em que ele já "está tão propagado".

Especialistas em aves selvagens deslocar-se-ão às bacias onde nidificam essas aves para tentar determinar se aquelas são portadoras do vírus, antes do regresso das migrações para a Europa, que deverá ocorrer dentro de algumas semanas.

Outros peritos avaliarão igualmente as necessidades do país e dos países vizinhos em matéria de equipamentos e técnicos de laboratório.

Em toda a região, os especialistas "formarão formadores", para criar o mais rapidamente possível uma cadeia de pessoas com capacidade de reagir com eficácia.

O H5N1, que pode ser transmitido pelas aves aos seres humanos, já matou 89 pessoas desde 2003, sobretudo na Ásia.

Se o vírus sofrer mutações e passar a poder transmitir-se entre seres humanos, poderá fazer dezenas de milhões de vítimas, de acordo com os especialistas.

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