Manifestantes franceses atearam, na noite de quinta-feira, fogo ao edifício da Câmara Municipal de Bordéus. As chamas acabaram por ser apagadas pelos bombeiros e uma pessoa foi detida. Mais de um milhão de pessoas saíram às ruas de diferentes cidades em protestos contra o alargamento da idade da reforma. A vaga de contestação obrigou já o Eliseu a anunciar o adiamento da visita do monarca britânico a França, que estava prevista para a próxima semana.
Visita de Carlos III a França adiada. Protestos contra lei das reformas alastram a Bordéus
“Esta quinta-feira à noite, a porta de acesso à Câmara Municipal de Bordéus foi incendiada”, lê-se na conta de Twitter do presidente da autarquia, Pierre Hurmic.
Ce jeudi soir, la porte d’accès à l’Hôtel de Ville de Bordeaux a été incendiée.
— Pierre HURMIC (@PierreHurmic) March 23, 2023
Je suis choqué et attristé par un tel acte de vandalisme.
Je condamne avec la plus grande fermeté cette violence qui n’a d’autre sens que celui de s’attaquer à la maison commune des Bordelais.
“Condeno com a maior veemência esta violência que não tem outro significado que não o de atacar a casa comum do povo de Bordéus”, acrescentou o autarca, que, pouco depois, revelou que “a intervenção dos serviços de incêndio e salvamento e dos agentes municipais permitiu conter o incêndio, preservando assim a integridade das instalações”.
Visita de Carlos III "será reprogramada"
Os sindicatos apelaram a mais protestos na próxima terça-feira, dia em que o rei Carlos III estaria em Bordéus. A Presidência francesa fez saber, entretanto, que a visita do monarca foi adiada.
"Tendo em conta o anúncio, ontem, de uma nova jornada de ação nacional contra a reforma das pensões na terça-feira, 28 de março, em França, a visita do rei Carlos III, inicialmente prevista para 26 a 29 de março, ao nosso país será adiada", lê-se numa nota do Eliseu.
O gabinete de Emmanuel Macron acrescenta que "esta decisão foi tomada pelos governos francês e britânico, após uma conversa telefónica entre o presidente da República e o rei esta manhã", enfatizando a necessidade de acautelar "condições que correspondam à relação de amizade" entre os dois países.
A visita de Estado "será reprogramada" para data a definir.
Nono dia de protestos nacionais
Na quinta-feira, o país viveu o nono dia de protestos a nível nacional, desde 16 de janeiro, mas o primeiro desde que o Executivo francês recorreu, a 16 de março, a uma disposição constitucional para fazer passar o texto em causa sem votação parlamentar.
Estações de comboio, aeroportos e refinarias foram bloqueados por manifestantes. Os oito principais sindicatos convocaram ainda greves que afetaram vários sectores, em especial os transportes.Em Paris, onde se manifestaram mais de 119 mil pessoas, a polícia dispersou os protestos com recurso a gás lacrimogéneo. Foram detidas 33 pessoas.
Os números da participação nas manifestações que se registaram quinta-feira em França variam consoante as fontes: o sindicato CGT fala na mobilização de 3,5 milhões de pessoas em 300 cidades, ao passo que o Governo diz que foram pouco mais de um milhão, segundo a France Presse; as autoridades policiais afirmaram que 80 pessoas foram detidas em todo o país.
A primeira-ministra, Élisabeth Borne, reagiu no Twitter: “Demonstrar e expressar desacordo é um direito. A violência e a destruição a que assistimos são inaceitáveis. Toda a minha gratidão às forças de segurança mobilizadas”.
Manifester et faire entendre des désaccords est un droit.
— Élisabeth BORNE (@Elisabeth_Borne) March 23, 2023
Les violences et dégradations auxquelles nous avons assisté aujourd’hui sont inacceptables.
Toute ma reconnaissance aux forces de l’ordre et de secours mobilisées.
Para os sindicatos e a oposição de esquerda, o dia foi um sucesso. No entanto, o futuro dos protestos é uma incógnita. O Governo espera que os protestos vão perdendo intensidade e que a violência afaste a população das ruas. Já a oposição acredita não vão diminuir, mas que os sindicatos terão de conceber uma estratégia para avançar.
Desde janeiro já se realizaram nove dias de protestos nacionais e as forças sindicais apelaram a um décimo na próxima terça-feira.
c/ agências