Visão Global 2017: Eunice Goes

por Eunice Goes - Professora de Ciência Política na Universidade de Richmond
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Personalidade do Ano: Emmanuel Macron, o Sr. Europa
Em política, os símbolos contam, e às vezes contam mais do que as acções. Nesse espírito, o presidente francês Emmanuel Macron, eleito em Maio, merece ser a personalidade do ano de 2017. A decisão de se apresentar como um candidato presidencial pró-europeu que associa o futuro e o sucesso da França ao projecto europeu foi corajosa e ousada, não só no plano nacional mas também no plano europeu. Recorde-se que em Junho de 2016 o eleitorado do Reino Unido decidiu abandonar a União Europeia (UE), que Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, era o seu principal rival nas eleições presidenciais e que a última década foi marcada pela normalização dos discursos xenófobos e populistas pela Europa fora.

A sua tomada de posse, feita ao som do Hino à Alegria de Ludwig van Beethoven (o hino da UE) e com o Palácio do Louvre como pano de fundo foi o sinal de arranque para o seu ambicioso projecto de renovar a UE e de colocar a França ao volante do projecto de integração europeia (após uma década onde Paris assumiu o papel de lacaio de Berlim).
Desde então, Macron apresentou em vários discursos uma agenda de reforma da UE audaz que promete aprofundar a integração da união económica e monetária e ‘devolver a Europa aos cidadãos europeus’.

Muitas das propostas de Macron são vagas e outras são de valor questionável (por exemplo, a sua proposta de criar um Ministro das Finanças para a zona euro terá o efeito de aumentar o défice democrático da UE), mas têm o mérito de colocar a renovação do projecto europeu no centro do debate político. Após uma década a recolher os frutos amargos e pouco nutritivos do ordoliberalismo alemão, a influência Colbertista francesa poderá ser o tónico de que a Europa precisa.
Acontecimento do ano: A Tomada de Posse de Donald Trump
A chegada de Donald J. Trump a Casa Branca a 20 de Janeiro foi o evento mais importante do ano, pois marca o início duma nova era na política externa norte-americana cujos contornos nacionalistas já se fizeram sentir em todos os cantos do mundo.

Ao fim de quase um ano no poder, o Presidente norte-americano Donald J Trump demonstrou que o slogan ‘America First’ é muito mais do que a sua imagem de marca criada destinada a consumo interno. Este slogan simboliza de forma sintética e simplista (e num estilo bem ao gosto do 45° Presidente dos Estados Unidos) a Doutrina Trump. De cada vez que o novo presidente norte-americano decide comunicar ou relacionar-se com o mundo ou apresenta uma factura (o México terá que pagar o muro que o separa dos Estados Unidos, os Estados-membros da NATO terão que pagar pela sua defesa, assim como o Japão e a Coreia do Sul) ou ameaça desencadear a uma guerra nuclear com a Coreia do Norte ou destruir os esforços da comunidade internacional de normalizar as relações com o Irão ou a de responder adequadamente aos desafios criados pelas alterações climáticas. Em contrapartida todos os gestos de abertura e simpatia de Trump são dirigidos a líderes autoritários (por exemplo, Vladimir Putin, Rodrigo Duterte) ou a ideias xenófobas, misóginas ou fascistas.

As reacções à Doutrina Trump sugerem que os vários líderes internacionais ainda estão a tentar descobrir qual a melhor abordagem para lidar com o novo ocupante da Casa Branca, mas a bem da estabilidade internacional é bom que a descubram rapidamente.
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