Vítimas de Epstein saúdam divulgação de ficheiros mas criticam falta de informação
Algumas das vítimas do criminoso sexual condenado Jeffrey Epstein saudaram a divulgação, na sexta-feira, de milhares de arquivos do caso pelo Departamento de Justiça, mas questionaram a falta de mais dados e informações fundamentais.
"Há muita informação, mas não tanta como gostaríamos de ver", disse Dani Bensky, sobrevivente de Epstein, numa entrevista à NBC News.
Bensky acrescentou que, apesar disso, a revelação confirma a veracidade das denúncias das vítimas: "Há uma parte de mim que se sente um pouco validada nesta altura, porque penso que muitos de nós têm estado a dizer `não, isto é real, não somos uma farsa`".
Maria Farmer, outra sobrevivente, elogiou a divulgação da denúncia de pornografia infantil que fez ao FBI incluída nos ficheiros. "Isto é incrível. Obrigada por acreditarem em mim. Sinto-me redimida. Este é um dos melhores dias da minha vida", reagiu através dos advogados que a representam, embora tenha lamentado que outras vítimas, como Virginia Giuffre, tenham sido prejudicadas porque o FBI "não fez o seu trabalho".
Muitos senadores democratas criticaram os ficheiros divulgados pela Administração Trump, afirmando que vão intentar uma ação judicial contra a Procuradora-Geral, Pam Bondi, por alegadamente não ter cumprido a lei que exige a desclassificação dos ficheiros.
Por sua vez, o procurador-geral adjunto, Todd Blanche, advertiu na sexta-feira que não vai ser possível publicar todos os documentos exigidos por lei de uma só vez, devido ao volume destes, e antecipou que o Departamento de Justiça planeia divulgar "mais várias centenas de milhares" de ficheiros nas próximas semanas
O Departamento de Justiça norte-americano começou na sexta-feira a divulgar os ficheiros sobre Jeffrey Epstein. A divulgação incluiu fotografias, registos de chamadas telefónicas, depoimentos do júri e alguns documentos e registos que já eram do domínio público.
Os documentos podem conter a análise mais detalhada até à data de quase duas décadas de investigações governamentais sobre o abuso sexual de jovens mulheres e raparigas menores de idade por Epstein.
A divulgação destes documentos era há muito exigida pela opinião pública, que tem interesse em saber se algum dos associados ricos e poderosos de Epstein tinha conhecimento --- ou participava --- nos abusos.
As acusadoras de Epstein também procuram há algum tempo respostas sobre o motivo pelo qual as autoridades federais encerraram a investigação inicial sobre as alegações em 2008.
Cedendo à pressão do seu campo político, o republicano Donald Trump sancionou em 19 de novembro um projeto de lei que concede ao Departamento de Justiça 30 dias para divulgar a maioria dos ficheiros e comunicações relacionados com Epstein, incluindo informações sobre a investigação da sua morte numa prisão federal.
A aprovação da lei foi uma demonstração assinalável de bipartidarismo que superou meses de oposição de Trump e da liderança republicana.
A morte de Jeffrey Epstein, encontrado morto na sua cela em Nova Iorque a 10 de agosto de 2019, antes de ser julgado por crimes sexuais, alimentou inúmeras teorias da conspiração segundo as quais ele teria sido assassinado para abafar um escândalo que envolvia figuras proeminentes do país.
Donald Trump prometeu, durante a campanha presidencial de 2024, revelações bombásticas sobre o "caso Epstein", um bilionário de quem foi amigo durante décadas.
No entanto, nos últimos meses, o Presidente republicano tem mudado o discurso, classificando o caso como uma "farsa" montada pela oposição democrata.
Algumas das fotos já divulgadas mostram Epstein num escritório com Steve Bannon, antigo conselheiro de Donald Trump, a posar com o cineasta Woody Allen e com o intelectual de esquerda Noam Chomsky aparentemente a bordo de um jato privado.
Outras imagens mostram passaportes e cartões de identidade pertencentes a mulheres ucranianas, russas e sul-africanas, com os seus nomes e fotos rasurados.
A existência de ligações entre Epstein e as pessoas retratadas era conhecida e nenhuma das fotos divulgadas desde a semana passada parece revelar qualquer comportamento criminoso.
Na semana passada, os congressistas democratas já tinham divulgado várias imagens, incluindo de Trump e do ex-presidente Bill Clinton, bem como do ex-príncipe britânico André.
Outros retratados eram Bill Gates, cofundador da Microsoft, e Richard Branson, fundador do Grupo Virgin.