Vítimas dos atentados de Barcelona consideram-se esquecidas

por RTP
Desde o início do ano, a UAVAT já prestou ajuda a 150 pessoas e responsáveis informam que novas vítimas têm surgido nos últimos dias Juan Medina - Reuters

Um ano depois dos atentados de Barcelona e Cambrils, os sobreviventes queixam-se de ter sido esquecidos pelas autoridades e denunciam a falta de apoio. Esta sexta-feira, no aniversário dos atentados, será feita uma homenagem e as vítimas pedem que os partidos “não usem a dor dos outros para fazer política”.

O dia 17 de agosto de 2017 nunca será esquecido pela população espanhola, depois do ataque terrorista em Barcelona e, poucas horas depois, em Cambrils. Os atentados fizeram no total 14 mortos e deixaram centenas de pessoas com danos psicológicos. As vítimas dizem não ter recebido qualquer apoio.

“Sentimo-nos enganados e esquecidos pelas autoridades, tristes, mas com vontade de recuperar as nossas vidas”, afirma Ana Cortés, uma das pessoas que passeava por La Rambla naquela tarde de agosto. Felizmente Ana sobreviveu, mas afirma que as imagens do atentado ainda a assombram.

Cortés, numa carta à qual El País teve acesso, escreve que este “foi um ano duríssimo” para si e para todas as outras vítimas: “Nenhum partido, associação ou organização se interessou em saber quem éramos e quais as nossas necessidades – esses que agora lutam para tirarem um foto connosco e que agora somos a sua prioridade”. Mostra-se convicta de que a partir de dia 18 voltarão a ser esquecidos.
Vítimas pedem “tréguas” a partidos
Roberto Manrique, porta-voz da Unidade de Atenção e Valorização a Vítimas por Terrorismo (UAVAT), critica a organização por parte das administrações centrais e catalãs: “O Ministério do Interior manteve um escritório aberto em Barcelona para cuidar das vítimas entre 22 e 29 de agosto, quando os feridos estavam a ser curados e os mortos enterrados. E rapidamente foram embora, a Generalitat da Catalunha não existiu. O único que nos conseguiu fornecer listas para procurar as vítimas foi o Consistório de Colau [presidente da Câmara de Barcelona]”.

Manrique acrescenta que a “confusão política” colocou a tragédia em “segundo plano” e que as vítimas foram deixadas para trás: “As vítimas não foram atendidas, a cidade não foi autorizada a fazer luto”.Um ano passado, Ana Cortés nunca mais voltou ao local do incidente, bem como 43% das pessoas que também testemunharam o atentado, segundo dados da UAVAT.

Desta forma, esta quinta-feira, véspera das cerimónias, as vítimas dos atentados exigiram aos partidos para “não manipularam nem politizarem a sua dor, depois de a terem abandonado”.

“Por favor, que amanhã seja um dia de recordação e homenagem às vítimas e que a classe política dê tréguas e não use a dor dos outros para fazer política”, solicitou o porta-voz do UAVAT.

Desde o início do ano, a UAVAT já prestou ajuda a 150 pessoas e responsáveis informam que novas vítimas têm surgido nos últimos dias, altura em que o incidente volta a ser recordado.

Dos 150 atendidos pela unidade, 92 por cento são vítimas do ataque em La Rambla – a maioria são testemunhas diretas, mas também amigos e parentes.

A coordenadora da UAVAT, Sara Bocsh, criticou que após um ano da tragédia termine o prazo para alguém ser reconhecido como vítima de terrosrismo, argumentando que “a dor não tem prazos”.

A 17 de agosto de 2017, 13 pessoas morreram e centenas ficaram feridas depois de uma carrinha ter atropelado uma multidão em La Rambla, a famosa via em Barcelona. Horas mais tarde, um carro avançou contra várias pessoas em Cambrils, a 120 quilómteros a sul de Barcelona, provocando um morto. Cinco dos responsáveis pelo ataque foram abatidos pela polícia catalã.
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