Xanana Gusmão recorda «lado bom e lado mau»
Díli, 27 Jan (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, recorda "um lado bom e um lado mau na passagem pela História" do ex-Presidente Suharto da Indonésia.
"Suharto teve um lado bom e um lado mau" como Presidente da Indonésia, declarou Xanana Gusmão à Agência Lusa.
O ex-comandante da resistência timorense recordou que o ex-ditador indonésio "foi o promotor do desenvolvimento de um grande país, de um país difícil".
"Não foi fácil desenvolver um país assim, que é o quinto país mais populoso do mundo", acrescentou Xanana Gusmão.
Por outro lado, "Suharto teve os seus lados fracos, sobretudo a violação dos direitos humanos, a ditadura e a corrupção", afirmou Xanana Gusmão à Lusa.
"Quando estive na prisão (de Cipinang, em Jacarta), eu costumava encontrar-me com jovens universitários indonésios e dizia-lhes que não podiam olhar apenas para o lado mau mas também para o lado bom para avaliar uma pessoa no fim da sua vida", sublinhou o ex-comandante da guerrilha timorense.
Xanana Gusmão, para quem Suharto "teve algum brilho em várias questões", coloca a ditadura indonésia no contexto da Guerra Fria.
"O relatório da Comissão de Acolhimento, Verdade e Reconciliação (CAVR) não refere apenas a culpa da Indonésia mas também a culpa de toda a comunidade internacional", explicou.
Xanana Gusmão nunca se encontrou com Suharto, que esteve no poder enre 1965 e 1998.
"Em 2001, fui ao Palácio de Sândalo (em Jacarta), mas Suharto estava doente e encontrei-me com uma das filhas", contou Xanana Gusmão.
"Eu transmiti à filha de Suharto que o importante para nós foi vencer a luta de libertação".
"A filha dele pediu a reconciliação com o povo de Timor e para compreendermos o contexto de reforma que se estava a processar na Indonésia", contou Xanana Gusmão à Lusa.
"Quando eu ganhei as eleições presidenciais (em 2001), Suharto mandou saudações", recorda também o actual primeiro-ministro timorense.
"Recordo-o como um agente histórico, um actor da História do Sudeste Asiático", disse ainda Xanana Gusmão à Lusa.
"Os políticos vendem a sua alma por lucro", escreveu Xanana Gusmão em 1995, na prisão de Cipinang, numa "Carta do Comandante" incluída, em 2005, num álbum exaustivo de fotografias e ensaios que assinalou os 50 anos da independência da Indonésia.
"Os líderes praticam o cinismo, uma política de duas caras cujo objectivo é não apenas a opressão do seu próprio povo mas, ainda pior, são cúmplices da opressão de outros", escreveu o prisioneiro Xanana Gusmão sobre a ditadura de Suharto.
"A verdadeira independência é o reconhecimento da liberdade dos outros", acrescentava a "carta", reproduzida no livro "Indonesia in the Soeharto Years".
Xanana Gusmão acrescenta, na mesma declaração, que "quando (o ex-primeiro-ministro australiano) Paul Keating se inclina perante o assassino Suharto, desce mais baixo do que (o ex-Presidente filipino) Fidel Ramos obedecendo às ordens de Ali Alatas", antigo chefe da diplomacia indonésia.
PRM.
.