120 anos de Barros Basto motiva novo apelo à reabilitação deste herói da República

Porto, 17 Dez (Lusa) - A Comunidade Israelita do Porto assinala terça-feira os 120 anos do nascimento do capitão Barros Basto com um novo apelo à reabilitação do nome deste herói da implantação da República, expulso do Exército em 1943.

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A sessão comemorativa vai decorrer na Sinagoga Mekor Haim, na Rua Guerra Junqueiro, e está a ser acompanhada por uma petição online de apoio à reabilitação de Arthur Barros Basto - http://www.petitiononline.com/benrosh/petition.html.

Os signatários da petição (91, até às 12:00 de hoje) pedem ao Presidente da República, primeiro-ministro e Assembleia da República que nomeiem uma comissão para reanalisar o processo de expulsão de Barros Basto.

Jorge Neves, primeiro subscritor da petição, disse hoje à agência Lusa que o objectivo deste novo apelo é "que seja feita justiça", porque o único "crime" que Barros Basto cometeu foi ter-se convertido ao Judaísmo e ajudado centenas de pessoas a retornarem à fé dos seus antepassados, forçados pela Inquisição a converterem-se ao Catolicismo.

"Achamos que é um assunto que não pode ficar eternamente adiado", afirmou Jorge Neves, lamentando que não tenham resultado as várias tentativas de reabilitação feitas desde o 25 de Abril de 1974.

A mais forte tentativa, disse Jorge Neves, foi em 1996, quando o então Presidente da República, Jorge Sampaio, recebeu a família de Barros Bastos e "disse-lhe que o assunto seria resolvido em coisa de 15 dias".

Contudo, esta diligência também falhou, o que levou as comunidades judaicas do Porto, de Portugal, de Israel e dos Estados Unidos a lançarem novos apelos nos anos seguintes.

Em 2003, a organização judaica "Amishav" lançou uma campanha para a reabilitação pelo governo português do capitão Barros Basto, com a entrega de uma petição ao embaixador de Portugal em Israel.

No mesmo ano, a Conferência das Organizações Judaicas Americanas (COJA) entregou uma carta ao embaixador português em Washington, pedindo que "a verdade dos factos e a justiça sejam repostas".

Em 2005, o 1º Congresso dos Marranos, no Porto, foi palco de redobrados apelos à reabilitação do capitão Barros Basto.

"Gostávamos que o governo pedisse desculpas à família de Barros Basto e esperamos que em breve seja feita justiça", disse no congresso o director da Organização Shavei Israel, Michael Freund.

Jorge Neves admitiu que o obstáculo poderá estar na eventual relutância do Exército em reintegrar formalmente Barros Basto, pelo facto dessa decisão poder implicar o pagamento à família de indemnizações e pensões pelo que o capitão deixou de ganhar.

"O Exército não é uma estrutura fácil a admitir estas situações", disse.

Jorge Neves salientou que foi Barros Basto quem hasteou a bandeira da República, no Porto, em 1910 e que foi condecorado pela sua participação na I Grande Guerra Mundial, comandando um batalhão em França.

"Foi vítima de um certo anti-semitismo, de um processo que hoje sabemos que foi forjado. Foi condenado por ser judeu", realçou.

Jorge Neves, fundador da produtora independente Alfândega Filmes, disse à Lusa que está a preparar um documentário sobre Barros Basto, que espera ter concluído em 2008, caso obtenha financiamento.

"Estamos em negociação com uma televisão de Israel", referiu, acrescentando que já reuniu "grande parte do material", nomeadamente fotografias e documentos cedidos pela família.

A sessão comemorativa de terça-feira na Sinagoga do Porto, que Barros Basto ajudou a edificar, terá intervenções do rabino Daniel Litvak, da historiadora Elvira Mea, do escritor Alexandre Teixeira Mendes e do responsável pela Comunidade Israelita do Porto Ferrão Filipe.

FZ.

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