200 mil pessoas poderiam morrer no Algarve

Entre 25.000 e 200.000 pessoas poderão ser afectadas se ocorrer um tsunami no Algarve, cujo prejuízo poderá ascender a 3.000 milhões de euros, um sexto do capital investido na região.

Agência LUSA /
Lusa

Apresentado na Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento, em Lisboa, no âmbito de um seminário internacional sobre tsunamis, o estudo prevê as consequências de uma eventual ocorrência desta catástrofe natural na sequência de um terramoto com epicentro a 150 quilómetros a sudoeste do Cabo de São Vicente, no Algarve.

Se o tsunami ocorrer numa tarde de Agosto, correspondente ao pico de ocupação das praias, cerca de 200.000 pessoas poderão ser afectadas, um número que baixa para um mínimo de 25.000, caso o tsunami aconteça numa noite de Inverno.

Após o sismo, a onda gigante demoraria dez a quinze minutos a atingir a frente costeira algarvia, onde se concentra a grande maioria dos 400.000 habitantes da região.

Tendo em conta que 60 por cento dos alojamentos do Algarve se localizam numa faixa de dois quilómetros do litoral, o estudo elaborado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, estima prejuízos económicos entre os dois e os três mil milhões de euros.

A ocorrência de um tsunami ameaça grandes infra-estruturas no Algarve, nomeadamente a rede ferroviária, os portos marítimos e o aeroporto de Faro, uma obra que ronda os 500 milhões de euros e que se encontra "muito vulnerável" por estar localizado a apenas dois quilómetros do litoral.

Dos 16 concelhos do Algarve, apenas dois não seriam atingidos pelas ondas (os de Monchique e São Brás de Alportel, localizados no interior), de acordo com a pesquisa, que calcula em um milhão e seiscentos mil euros o prejuízo decorrente apenas dos danos provocados ao nível dos edifícios.

O ponto mais vulnerável de todo o Algarve é Monte Gordo e Vila Real de Santo António, uma localidade curiosamente construída por ordem do Marquês de Pombal após o sismo de 1755.

Portimão é o segundo ponto mais vulnerável, seguido de Quarteira, de Lagos e das ilhas da Ria Formosa, que surgem apenas em quinto lugar.

Apesar de poder ter "consequências avassaladoras", a probabilidade de ocorrer um tsunami "é ínfima", de acordo com o geólogo da CCBR/Algarve Sebastião Teixeira, autor da investigação.

No entanto, caso aconteça, a probabilidade de serem afectadas 100.000 pessoas é de apenas sete por cento.

No seminário pretendia-se igualmente apurar as consequências de um potencial tsunami na região de Lisboa, mas "não está feita uma estimativa de quantas pessoas e bens seriam atingidos pela catástrofe natural", segundo o director do Serviço de Gestão territorial da CCBR de Lisboa e Vale do Tejo, Carlos Pina.

"Não está feito esse levantamento e são muito poucos os municípios da região que têm cartas de risco elaboradas", disse à Lusa Carlos Pina.

Para Sebastião Teixeira, a ausência de cartas de risco é apenas uma das lacunas ao nível do estudo e da prevenção das consequências de um potencial tsunami.

"Falta quase tudo. E isso deve-se em parte ao facto de as pessoas terem uma memória muito curta em relação aos desastres naturais", concluiu.

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