A mina comanda o sonho (c/foto)

por Agência LUSA

Um sentimento de esperança atravessa a vila alentejana de Aljustrel desde o anúncio, quinta- feira, da reactivação do complexo mineiro parado há 14 anos.

"Desta vai ser de vez", comentou, optimista, Luis Sequeira, da Comissão de Trabalhadores da empresa de Pirites Alentejanas, detida pela canadiana Eurozinc, concessionária das minas.

Manifestando "grande esperança no projecto" cuja entrada em funcionamento está prevista para o início de 2008 e que poderá criar 300 novos postos de trabalho, Luis Sequeira salienta, em declarações à Agência Lusa, que esta medida fará diminuir o desemprego que afecta em particular este concelho do Baixo Alentejo.

"As minas de zinco, chumbo e cobre podem ser um factor de grande desenvolvimento, mexendo com as outras áreas de actividade como o comércio e pequenas empresas do concelho", disse.

Outro mineiro de Aljustrel, Joaquim Nilha, maquinista de poço, corrobora com um sorriso as declarações do companheiro de trabalho.

Desta pequena concentração à porta da empresa, sobressai o espírito pragmático do sindicalista Carlos Formoso, ao defender o início imediato de acções de formação dos operários.

"Temos a garantia de que a maioria dos novos operários será de Aljustrel", afirmou à Lusa o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira.

"É a decisão que a comunidade mineira e população de Aljustrel esperam há muito tempo", acrescentou o sindicalista, lembrando "a longa luta de 14 anos dos mineiros pela reabertura da mina".

A reactivação das Minas de Aljustrel foi anunciada oficialmente quinta-feira pelo ministro da Economia e da Inovação, Manuel Pinho, depois de uma reunião do Conselho de Ministros, em que foi aprovada a minuta do contrato entre o Estado Português, a AGC Minas de Portugal SPGS e a Eurozinc Mining Corporation.

Segundo o titular da pasta da Economia, o relançamento do complexo mineiro de Aljustrel criará 100 novos postos de trabalho, permitirá a subcontratação de 200 trabalhadores e a manutenção dos 47 funcionários ainda ligados ao quadro da empresa, num total de 347 empregos.

A empresa canadiana Eurozinc, detentora da Pirites Alentejanas, já tinha anunciado a 05 de Maio que irá avançar "de imediato" com o desenvolvimento dos trabalhos preparatórios para iniciar a laboração das minas em "meados de 2007".

A laboração no complexo de Aljustrel foi suspensa em 1993, por alegada falta de viabilidade económica provocada pela descida acentuada do preço do zinco.

Um ano depois, a Pirites Alentejanas entrou em "lay-off", mantendo-se 47 trabalhadores, que têm assegurado os serviços mínimos ambientais e de manutenção do complexo.

O encerramento provocou o despedimento de 440 trabalhadores, segundo o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM).

O Governo encomendou em 1999 estudos para aferir a viabilidade do complexo mineiro, desenvolvidos pela Eurozinc, que acabou por comprar a Pirites Alentejanas em Dezembro de 2001, prometendo implementar a retoma da extracção.

O Sindicato quer que os novos trabalhadores tenham condições salariais equiparadas aos das minas de Neves Corvo, em Castro Verde, também propriedade da "empresa mãe" canadiana.

As minas de Aljustrel, situadas na denominada Faixa Piritosa Ibérica, uma das maiores concentrações mundiais de jazigos de sulfuretos maciços, são exploradas desde a época romana, apesar da mineração industrial ter sido impulsionada nos séculos XIX e XX.

A primeira concessão de uma mina foi atribuída em 1845, altura em que foi aberto o primeiro poço de extracção e construído o primeiro bairro mineiro.

A concessão mineira foi adquirida em 1898 por um consórcio belga que formou a Sociétè Anonyme Belge des Mines d`Aljustrel, mantendo a concessão até 1973, que foi nacionalizada em 1975.

Nos anos 1950, as minas chegaram a empregar cerca de 2000 pessoas, segundo um cálculo do STIM.

Vivem 10.567 pessoas no concelho Aljustrel, cerca de metade das quais na própria vila de Aljustrel, segundo dados do Recenseamento Geral da População, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em 2001.

Estavam inscritas 500 desempregados no Instituto de Emprego e Formação Profissional em Março de 2006, menos 172 que em igual período do ano passado.

O sector mineiro continua a ser o principal empregador do concelho devido à laboração das minas de Neves/Corvo, segundo a Câmara Municipal de Aljustrel.

Têm ganho importância na economia local actividades ligadas ao comércio e serviços, à construção civil, à carpintaria, à serralharia, às artes gráficas, ao serviço automóvel, à fabricação de explosivos civis, segundo a mesma fonte.

Ao nível concelhio, Aljustrel continua a ser essencialmente agrícola com destaque para a cultura de cereais em regime extensivo.

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