"A saúde dos doentes está em risco", alerta bastonária dos enfermeiros

por Sandra Salvado - RTP
Em entrevista à RTP, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros diz estar solidária com o protesto dos enfermeiros e denuncia vários riscos e irregularidades Reuters

Aumento de erros clínicos, um enfermeiro para 40 doentes, bancos de horas ilegais, enfermeiros a trabalhar em exaustão e taxa de absentismo que ultrapassa já os 12 por cento em todo o território nacional. São situações denunciadas pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros, que se diz solidária com a greve de 48 horas que termina esta sexta-feira. Ana Rita Cavaco denuncia vários riscos e irregularidades e adianta que assim “é impossível prestar cuidados em segurança".

Os serviços de saúde voltam esta sexta-feira a ser afetados pela greve dos enfermeiros. A adesão no turno da noite rondou os 70 pode cento. Lutam pela contração de mais enfermeiros e pelo descongelamento das progressões da carreira. Exigem ainda o pagamento do trabalho extraordinário que está acumulado.

Em entrevista à RTP, a bastonária da Ordem dos Enfermeiros diz estar solidária com o protesto dos enfermeiros e denuncia vários riscos e irregularidades. “Os casos mais graves, pela falta de enfermeiros, são o aumento do erro clínico”.

Ana Rita Cavaco fala dos milhares de horas que são feitas por estes profissionais de saúde, consideradas ilegais, já que não lhes são pagas e os levam à exaustão.

De acordo com um estudo da Ordem dos Enfermeiros referente a 2016, citado pela bastonária, “um quinto dos enfermeiros está a trabalhar em exaustão. Os profissionais estão desmotivados, cansados e são em número insuficiente para garantir a segurança dos cuidados. Por exemplo, atualmente temos um enfermeiro para cada 40 doentes. Isto é inadmissível. Isto acontece e todas as semanas aparecem mais casos”.

Ana Rita Cavaco dá como exemplo situações nas unidades de cuidados continuados e paliativos, alertando que faltam 30 mil enfermeiros em Portugal.

“É impossível prestar cuidados em segurança e de qualidade com estes números. A saúde dos doentes está em risco e nós andamos a dizê-lo há dois anos, desde que tomámos posse, e têm-se vindo a degradar porque os enfermeiros por causa de tudo isto põem mais baixas”, explicou a bastonária dos enfermeiros na edição desta sexta-feira do Bom Dia Portugal.
"Faltam lençóis e almofadas"
Ana Rita Freitas referiu ainda que em Portugal há já uma taxa de absentismo que ultrapassa os 12 por cento e os enfermeiros não são substituídos.

“Estes enfermeiros que todos os dias lidam connosco na morte, no nascimento, 24 horas por dia, que são efetivamente o pilar da saúde, têm sido muito mal tratados pelos sucessivos governos e pelo país”.

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros denuncia ainda que estes profissionais são os únicos a não ter as 35 horas nem condições para trabalhar. E exemplifica: “Faltam lençóis, faltam almofadas e, portanto, nós lidamos com esta falta de condições diariamente, o que é muito frustrante”.

Um inquérito a 1.200 enfermeiros revela que mais de 20 por cento dos profissionais sofre de depressão. Um estudo do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica conclui também que oito em cada dez enfermeiros sofrem de ansiedade e de insónias.

Mais de 80 por cento dos enfermeiros considera que não dorme o suficiente. Um terço dos inquiridos neste estudo considera sofrer de pelo menos uma doença física ou mental.

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