Abaixo-assinado contra deslocalização de cruzeiro centenário em Barroselas

Um grupo de moradores de Barroselas, Viana do Castelo, vai pôr a circular um abaixo-assinado para impedir a Junta de Freguesia de "deslocalizar" um cruzeiro centenário, mas o presidente da Autarquia garante que a decisão é irreversível.

Agência LUSA /

Segundo David Pereira, membro do PSD na Assembleia de Freguesia e um dos rostos da contestação, são muitos os moradores que se opõem à saída do cruzeiro do local onde está implantado há 145 anos e na forja poderá estar uma providência cautelar para travar a anunciada intenção da Junta (PS).

"Dentro de poucos dias, será posto a circular um abaixo- assinado para tentarmos convencer a Junta a desistir da ideia, mas se isso não for suficiente não teremos qualquer pejo em recorrer para os tribunais, em defesa de um património que é de todos e cujo destino não pode ser decidido por dois ou três iluminados", referiu David Pereira.

Para este barroselense, a decisão da Junta viola um decreto- lei sobre a defesa do património, datado de 1995, "que diz que questões como esta só podem avançar depois de auscultada a população, o que no caso vertente não aconteceu".

"É um cruzeiro cheio de história, que actualmente tem um enquadramento perfeito, mas que a Junta quer arrumar por detrás do cemitério, o que se me afigura um atentado àquele património", acrescentou David Pereira.

Contactado pela Agência Lusa, o presidente da Junta de Barroselas, Vítor Lemos, disse que a decisão de deslocalizar o cruzeiro é irreversível, já que isso se afigura imprescindível para requalificar aquele espaço e conferir maior segurança a quem circula no local, nomeadamente às crianças que vão frequentar a nova escola.

"Vamos abrir um novo arruamento de acesso à escola e construir passeios, o que actualmente não é possível, já que o cruzeiro se situa precisamente no meio da via", disse ainda.

Segundo o autarca, o cruzeiro apenas será "desviado" 10 metros para o lado, e vai ficar situado no centro de uma praceta em granito, pelo que "ganhará até maior dignidade" com a nova localização.

"Por ser um assunto sensível, até o levei a Assembleia de Freguesia, tendo oito membros, entre os quais dois do PSD, dado parecer favorável à mudança, e só um contra", acrescentou Vítor Lemos, garantindo que os contestatários "são apenas quatro ou cinco" e que a obra arranca em Setembro.

O referido cruzeiro tem uma história curiosa, já que nasceu na sequência de uma tentativa de homicídio, por razões passionais.

Um homem atingiu outro a tiro, ferindo-o com gravidade, mas a mulher do agressor foi ao pároco da terra pedir clemência para o marido, de forma a tentar convencer a vítima a não apresentar queixa em tribunal.

A vítima, bisavô de David Pereira, acedeu ao pedido do pároco, mas em contrapartida o agressor foi "condenado" a erguer um cruzeiro na freguesia, o que aconteceu em 1860.

Manuel Costa Pereira, outro bisneto do agredido, já se ofereceu como voluntário "para accionar a corda do sino, quando for necessário toca a rebate para impedir que se malbarate aquele espécime do património construído" de Barroselas.

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