Acidente mortal nas minas Neves Corvo foi o primeiro desde 1999

por Agência LUSA

O acidente de trabalho mortal ocorrido hoje nas minas da Somincor em Neves Corvo, Castro Verde, foi o primeiro dos últimos cinco anos, tendo a empresa recebido, esta semana, um prémio por boas práticas na segurança.

Um choque entre uma pá carregadora e um dumper, por volta das 09:15, no parque de minério do complexo da Somincor, detido pela empresa canadiana Eurozinc, causou hoje a morte de um trabalhador.

O funcionário, que trabalhava em Neves Corvo desde 1988, residente em Aljustrel, faleceu ao ser apanhado debaixo do dumper que conduzia, o qual capotou devido ao embate.

Em declarações à Agência Lusa, a relações públicas da Somincor, Lígia Várzea, adiantou tratar-se do primeiro acidente mortal no complexo "desde 1999", embora não possuísse dados concretos sobre o total de vítimas mortais desde a abertura de Neves Corvo, em 1988.

"Sei que o número de vítimas mortais nesta mina tem sido muito reduzido e que o número de acidentes de trabalho, no geral, só foi maior nos primeiros anos, quando os procedimentos de segurança e de trabalho ainda não estavam estabilizados", frisou.

Os acidentes de trabalho nas minas de Neves Corvo, adiantou, têm registado "um substancial decréscimo nos últimos anos", tendo a Somincor recebido, esta semana, um prémio na categoria "Boas Práticas" em termos de segurança.

O prémio "Prevenir Mais Viver Melhor no Trabalho", referente a 2004, foi atribuído quarta-feira, em Lisboa, pelo Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho (ISHST).

"Candidatámo-nos, juntamente com outras 76 empresas, e ficámos classificados em primeiro lugar. O júri analisou as estatísticas entre 2000 e 2004, tendo verificado que houve um decréscimo de 75 por cento no número de acidentes em Neves Corvo", disse.

Segundo Lígia Várzea, em 2000 verificaram-se 50 acidentes de trabalho que implicaram incapacidade para os trabalhadores, tendo esse valor descido para cinco em 2004, até ao final de Novembro.

Em declarações recentes a um jornal regional (Diário do Alentejo), o presidente da Somincor, António Corrêa de Sá, congratulou- se pela redução alcançada: "É quase uma das coroas de glória da Somincor".

O responsável atribuiu o decréscimo ao "robustecimento da cultura de segurança na empresa" e à alteração do clima social, que estabilizou quando o regime de laboração contínua terminou, após vários anos de contestação dos trabalhadores.

"No meio de convulsões sociais é difícil fazer passar a mensagem de segurança e, por outro lado, foram feitas muitas acções de formação e de mentalização, pelo que, hoje, as pessoas começam a pensar segurança, porque isto é um trabalho diário", afirmou ao jornal.

Por seu turno, António João Colaço, do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira (STIM), confirmou hoje à Lusa que, de facto, "os acidentes de trabalho têm diminuído" naquele complexo.

Contudo, os sindicalistas justificam a redução com o fim do regime de laboração contínua, no Verão de 2001: "Até aí, verificavam- se cerca de 50 acidentes por ano, em média, porque esse sistema era mais penoso e causava maiores perturbações nos trabalhadores e familiares".

Quanto ao sinistro de hoje, embora ainda não existam resultados dos inquéritos instaurados pela empresa e pela Inspecção- Geral de Trabalho, o STIM considera-o, para já, "um acidente normal de percurso".

"Faleceu um colega nosso e a verdade é que ainda não nos podemos pronunciar sobre as causas que motivaram o choque entre as viaturas. Mas, pensamos que foi um acidente normal de percurso", sublinhou.

A Eurozinc ganhou a privatização da Somincor em meados do ano passado, tendo lucrado, em 2004, 61 milhões de euros, o segundo melhor resultado da sua história, segundo anunciou, há meses, a empresa.

A Somincor explora o jazigo de cobre e estanho de Neves Corvo, nos concelhos de Castro Verde e Almodôvar, em plena zona das Pirites Alentejanas, considerado um dos mais ricos do mundo.

A empresa pretende também, a partir de 2006, avançar com a extracção de zinco, que, segundo se estima, tem jazidas de 15 milhões de toneladas em Neves Corvo.

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