Advogado José Sá Fernandes é candidato independente a Lisboa

O advogado José Sá Fernandes, responsável por acções como a que suspendeu as obras do Túnel do Marquês, disponibilizou-se hoje para ser candidato independente à presidência da Câmara de Lisboa, desconhecendo-se ainda se será apoiado por algum partido.

Agência LUSA /

"Estou disposto a candidatar-me à presidência da Câmara Municipal de Lisboa, assim consiga eu os apoios necessários para essa tarefa", afirmou hoje José Sá Fernandes, durante a apresentação do manifesto da sua candidatura.

O advogado disse estar "ao serviço de Lisboa", uma cidade que pretende "ecológica e solidária, habitada, com gente".

"Há dez anos que tento lutar por Lisboa, ou para salvar um jardim, ou para dizer que uma obra está a ser mal conduzida ou para dar melhor qualidade de vida às pessoas. A minha luta é conhecida por todos", sublinhou.

Questionado sobre se a sua responsabilidade na paragem, durante sete meses, das obras do Túnel do Marquês, na sequência de uma providência cautelar que interpôs, poderá afectar de alguma forma a sua candidatura, Sá Fernandes disse nunca ter pensado nisso.

"Tomei a iniciativa de alertar para um problema gravíssimo, que os tribunais e a Declaração de Impacte Ambiental emitida há uma semana confirmaram", frisou.

Questionado sobre se, caso ganhe as eleições autárquicas, terminará a obra do Túnel do Marquês, Sá Fernandes disse que fará "exactamente aquilo que a Declaração de Impacte Ambiental determina".

Sobre a sua posição em relação ao projecto cultural de Frank Gehry para o Parque Mayer, Sá Fernandes garantiu que não avançaria com a obra.

"Promovia imediatamente a expropriação dos terrenos do Parque Mayer, recuperava os teatros e fazia a ligação da Avenida da Liberdade com o Jardim Botânico", adiantou.

A candidatura de José Sá Fernandes surge na sequência de um movimento encabeçado por personalidades como o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, o realizador José Fonseca e Costa e o sociólogo e professor universitário António Barreto.

No manifesto que redigiram, os apoiantes de Sá Fernandes defendem o fim da "promiscuidade entre a autarquia e a construção civil", realização de auditorias às empresas municipais, a revisão do Plano Director Municipal com base na estrutura ecológica da cidade e a descentralização da Câmara Municipal.

"Os lisboetas de origem, de adopção ou de residência estão cansados de ver Lisboa transformada em negócio político, em trampolim para ambições diversas e de ver problemas como o trânsito, a segregação, a especulação, a violência, o urbanismo selvagem", sustentou hoje António Barreto, durante a apresentação.

Defendendo que "vista de longe, Lisboa é uma das mais belas cidades da Europa, mas vivida de perto, é uma cidade brutal, rude, difícil e injusta", o sociólogo apelou a Sá Fernandes para que "não deixe destruir os espaços verdes, denuncie os negócios e mostre a promiscuidade nas obras municipais".

Neste momento apenas são conhecidos os candidatos do PS e do PSD, tendo o Bloco de Esquerda (BE) remetido para depois da convenção nacional, que decorre este fim-de-semana, o anúncio do seu candidato.

Questionado sobre se o BE poderá vir a acompanhar a sua candidatura, Sá Fernandes apenas disse que "todos os apoios são bem- vindos".

Apesar de se mostrar convicto de que a sua candidatura é "para ganhar", o advogado deixa uma promessa: "seja qual for o resultado, nunca hei-de desistir de Lisboa", frisou.

A apoiar a candidatura do advogado estão ainda personalidades como a directora da Casa Fernando Pessoa, Clara Ferreira Alves, a directora da Abraço, Margarida Martins, a endocrinologista Isabel do Carmo, o escritor Miguel Esteves Cardoso e os professores universitários Rui Zink e Manuel João Ramos, da Associação dos Cidadãos Auto-Mobilizados (ACA-M).

Sá Fernandes foi responsável por diversas acções na cidade, a mais famosa das quais a providência cautelar a exigir a realização de um estudo de impacte ambiental do Túnel do Marquês, que conseguiu parar as obras durante sete meses.

Uma acção semelhante já tinha sido por ele instaurada em relação ao túnel do metro do Terreiro do Paço, tendo o tribunal ordenado a paragem das obras.

Recentemente, o advogado tentou impedir a transformação do Colégio dos Inglesinhos, um edifício do século XVII no Bairro Alto, num condomínio de luxo, mas o Tribunal Administrativo não lhe deu razão.

Sá Fernandes também perdeu uma acção que pretendia despejar os pisos térreos dos edifícios do Terreiro do Paço, a maioria ocupada por ministérios, por considerar que deveriam ser do usufruto da população.

Foi com o mesmo objectivo que iniciou uma acção, desta vez em relação ao Convento da Graça, um edifício do Estado encerrado há anos, cujo processo ainda não está concluído.

Noutras acções, Sá Fernandes conseguiu impedir a construção de uma estrada no parque das Conchas e dos Lilazes e uma urbanização na Ajuda, num sítio onde hoje existe um jardim.

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