"Agiu de má fé". Diretor da Faculdade de Medicina acusa reitor de "declarações oportunistas"

O diretor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto disse, em entrevista à RTP, que as alegações do reitor desta instituição são "falsas e oportunistas".

Inês Moreira Santos - RTP /
Foto: Faculdade de Medicina da Universidade do Porto via Facebook

"Fui surpreendido com uma série de declarações ao Expresso por parte do senhor reitor da Universidade do Porto que, no meu entender, são ou indiciam alegações falsas e oportunistas", começou por afirmar Altamiro Costa Pereira.

De acordo com o diretor da faculdade, o referido concurso é para candidatos a Medicina que já sejam licenciados noutros cursos. E, desde há alguns anos, que as faculdades são obrigadas a terem vagas e a admitir candidatos licenciados. Mas no caso da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, há um regulamento "mais seletivo, mais difícil" e por isso, no ano passado, "não entrou nenhum" candidato.

"Compete à Faculdade de Medicina elaborar o regulamento, fazer a pré-seleção, tudo. Mas no final, compete ao reitor homologar os resultados. Isso é uma coisa que não há em mais lado nenhum e foi o que deu a infelicidade neste caso"
, explicou o diretor. 

"Desta vez, o reitor não homologou os resultados".

Em 2019, segundo o diretor, o mesmo reitor homologou os resultados da Faculdade de Medicina e "entraram 37 estudantes, todos [com notas] abaixo de 14".

O processo é legal, garantiu o Professor Altamiro Costa Pereira, e por isso os candidatos foram contactados pela faculdade.

"O que aconteceu, pela primeira vez, foi que o senhor reitor decidiu não homologar uma coisa enviada pela Faculdade de Medicina", continuou, acrescentando que o reitor o devia ter contactado a explicar porquê que não homologou a entrada dos candidatos e o que é que achava que devia ser alterado no regulamento.

Questionado sobre quem é que mentiu - se o ministro da Educação ou o reitor da Universidade do Porto - Altamiro Costa Pereira assume que houve "má comunicação", por parte da Reitoria e da Faculdade de Medicina.

"O meu erro foi ter confiado no senhor reitor", justificou. "O senhor reitor tem, as suas filiações partidárias e políticas", acrescentou, apontando-lhe razões "oportunistas".

Para o diretor da faculdade, o reitor pôs em causa a credibilidade da instituição de Ensino Superior, para além da sua própria credibilidade.

Questionado, novamente, se o reitor mentiu, o dirigente da FMUP respondeu: "o senhor reitor agiu de má fé".

"Do ponto de vista estritamente factual, não mentiu. Do ponto de vista político e do ponto de vista de tudo, foi completamente incoerente com tudo o que fez no passado. Porque está oportunisticamente".

E já no final da entrevista acrescentou: "Lamento muito que um reitor use a sua própria universidade para satisfazer os seus interesses políticos".
Pouco antes, a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) afirmou, em comunicado, desconhecer a existência de qualquer forma de pressão junto das pessoas envolvidas no processo de seleção de candidatos e, a confirmarem-se as alegações, repudia-as terminantemente.

“A FMUP desconhece a existência de qualquer forma de pressão junto das pessoas envolvidas neste processo de seleção de candidatos e, a confirmarem-se estas alegações, repudia-as terminantemente”
, assinala a nota de imprensa.

No comunicado, a FMUP “lamenta ainda o facto de o reitor da Universidade do Porto não ter contactado previamente o diretor da FMUP para esclarecer este tema, antes de vir a público, criando desinformação e desacreditando o bom nome das instituições envolvidas, ou seja, da Faculdade de Medicina e da própria Universidade do Porto”.

A faculdade “lamenta também que, quando o reitor da U.Porto decidiu, de forma igualmente inesperada e unilateral, não homologar os resultados que lhe foram enviados pela Comissão de Seleção da Faculdade de Medicina, não tenha igualmente contactado diretamente com o seu responsável máximo, sugerindo-lhe designadamente que promovesse a alteração do regulamento”.

A FMUP lembra que o mesmo reitor “já tinha homologado, em 2019, exatamente com o mesmo regulamento, a entrada de 37 candidatos com nota na prova de conhecimentos inferior a 14 valores” e que essa homologação “foi considerada legal pelo Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto” afirmando, por isso, “estranhar” que o reitor “assuma, desta vez, uma posição diametralmente oposta, prejudicando não só os candidatos que procuraram a mais reputada Escola Médica da Universidade do Porto, mas também o bom nome da faculdade e o da própria Universidade do Porto, insinuando uma série de inverdades mais próprias de um político do que de um Reitor”.

“Contrariamente à Reitoria da Universidade do Porto, a Faculdade de Medicina da U.Porto esteve desde sempre aberta a receber, de forma supranumerária, os candidatos aceites preliminarmente pela instituição, mas não aceites pela Reitoria da Universidade do Porto”, acrescenta-a FMUP que admite a “possibilidade de, involuntariamente, ter incorrido numa falha processual ao ter comunicado a todos os candidatos a ata final dos colocados, ainda antes da homologação do Reitor, para efeitos de pronúncia dos candidatos”.
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