Água do mar pode ser alternativa no combate aos fogos

A água do mar pode ser usada no combate aos incêndios sem causar problemas ambientais preocupantes, revela um parecer do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) a que a Agência Lusa teve acesso.

Agência LUSA /

O estudo, elaborado a pedido dos Ministérios da Administração Interna (MAI) e do Ambiente, Ordenamento do Território e Desenvolvimento Regional, procurou identificar os efeitos das descargas de água salgada sobre os solos, as águas subterrâneas, a vegetação e os habitats e concluiu que os impactes não são preocupantes.

O uso de água salgada no combate a incêndios é uma técnica usada correntemente nalguns países, como a Grécia, onde se realiza há mais de 30 anos, mas em Portugal, a sua utilização tem sido escassa e pontual, não existindo qualquer estudo sobre o assunto até à data.

A questão ganhou novo impulso devido à seca de 2005 que afectou alguns pontos de água de apoio ao combate a fogos, devido ao baixo nível das albufeiras, e obrigou a reajustar os meios aéreos previstos, requisitando meios mais leves, devido às dificuldades no reabastecimento.

Os técnicos do LNEC concluíram que, para melhorar as condições técnicas e operacionais do uso de água salgada, seria importante diferenciar as regiões do país em termos da sua susceptibilidade, influenciada por uma série de variáveis (precipitação, relevo, tipo de solo, escoamento, clima, vegetação, etc.).

Mas, em termos genéricos, as análises à sensibilidade dos solos, das águas subterrâneas, da vegetação e dos habitats mostraram que esta técnica não apresenta consequências notórias.

No que respeita à sensibilidade dos solos, o relatório admite que a deposição de cloreto de sódio pode causar uma concentração de valores elevados de sal, embora a situação seja temporária.

As elevadas concentrações de cloreto de sódio no solo podem tornar-se tóxicas para as plantas, sendo que com uma concentração de dois a cinco por cento os solos tornam-se improdutivos.

O relatório refere também que o risco de salinização para os aquíferos (águas subterrâneas) é reduzido.

"Os valores obtidos mostram que apenas nalgumas situações muito específicas correspondentes aos piores cenários é que pode haver um aumento razoável de salinidade dos sistemas aquíferos, mesmo assim não pondo em risco a qualidade da água", indica.

Os especialistas salientam que "após o primeiro ano depois do incêndio, os valores de salinidade tenderão a diminuir" devido à recarga com águas pouco salinas.

Em termos de vegetação, o estudo parte do princípio que serão sobretudo espécies lenhosas (árvores ou arbustos) de utilização não agrícola, como os matos e florestas, as mais afectadas pelos fogos.

Os danos económicos poderão resultar de perdas de produção lenhosa ou de outros produtos florestais como a cortiça, enquanto os danos ecológicos estarão associados aos impactes nos ecossistemas.

O relatório sublinha que a salinidade em situações extremas pode originar défices hídricos, causando a morte das plantas, mas sustenta que a vegetação mediterrânica e as espécies que constituem a floresta em Portugal estão adaptadas a estas circunstâncias.

Para os bombeiros, o recurso à água salgada poderá ser um contributo valioso na luta contra o fogo, mas reclamam a necessidade de mais estudos que apoiem a eficácia desta técnica e equipamentos adequados.

"É importante haver um parecer sustentado cientificamente sobre esta matéria. Pode ser sem dúvida uma boa alternativa que garante enormes volumes de água disponíveis, mesmo em situação de seca", declarou à agência Lusa o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses.

Mas Duarte Caldeira entende que, além de avaliar o impacte ambiental, é preciso analisar também a eficácia da água salgada para apagar os fogos, já que "esta técnica nunca foi usada de forma generalizada".

O presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais também concordou com o recurso a mais um "agente extintor", mas salientou que "os equipamentos têm de estar preparados para este uso".

"Normalmente, a água salgada é usada como último recurso. É preciso ter em conta que esta água é mais corrosiva e representa mais desgaste para os equipamentos", afirmou Fernando Curto à Lusa.

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