Alegada raptora responde a juiz instrução criminal

A mulher que no passado sábado raptou um bebé do Hospital Padre Américo, em Penafiel, foi hoje presente ao juiz de Instrução Criminal do Tribunal de Lousada às 11h00, para ser ouvida por um juiz e conhecer a medida de coacção que lhe vai ser aplicada.

Eduardo Caetano, RTP /
Jovem frequentava consultas de tratamento de infertilidade no Hospital Padre Américo RTP

Ao longo de quase um ano, Simone Ferreira, alegada raptora do bebé do Hospital Padre Américo de Penafiel, simulou uma gravidez que enganou os seus pais e inclusive o seu namorado. Sofrendo de infertilidade era consultada no Hospital na especialidade.

A jovem, de 21 anos, conseguiu enganar a família toda levando-a a acreditar que estava grávida mas que a barriga não cresceria devido ao facto de alegadamente ter vários quistos nos ovários.

Márcio “Fintas”, como é conhecido, vivia com Simone Ferreira desde o mês de Agosto do ano passado. Feliz com a gravidez da companheira, sempre acreditou nela apesar de ela nunca o ter deixado acompanhá-la às consultas pré-natal, em Penafiel.

“Uma vez deixou a mãe ir com ela, mas a senhora nem entrou no hospital, ficou à porta” segundo disse uma cunhada que, assegurou ter chegado a estranhar a ausência de crescimento na barriga de Simone. “Ela dizia que a médica lhe tinha dito que a barriga não ia crescer muito por causa dos quistos que tem nos ovários”, explica-se a cunhada.

Ninguém entende porque Simone tomou a decisão que tomou. Tudo indica para uma premeditação do acto já que aliada à encenação da gravidez tudo indica que Simone já há algum tempo tinha intenções de fazer algo semelhante. Só assim se compreende a encenação da gravidez a não ser que encenasse também uma perda do bebé.

Márcio “Fintas” estava feliz por ir ter um filho e mais contente ficou quando viu que o alegado filho tinha o sexo que ele preferia, ou seja, o masculino.

O jovem não deixa à posteriori de pensar que os últimos acontecimentos foram de facto muito estranhos. Desde a suposta ida para a maternidade, na passada quinta-feira, até ao regresso a casa de Simone.

“Às três horas ligou a pedir para a irem buscar ao centro de saúde de Felgueiras, que já tinha tido a criança no Porto e tinha vindo para cá de ambulância” explica Márcio que adianta “eram para aí três da tarde quando ligou”.

Márcio não terá estranhado na altura essa situação já que Simone era, segundo afirma, “muito despachada”.

Não há indícios de cumplicidades

O jovem de 25 anos, que estava em casa com a companheira quando viu sete ou oito homens entrarem pela casa dentro dizendo que tinham de levar a criança alegando que ela estaria entre a vida e a morte, foi levado para as instalações da Polícia Judiciária onde prestou declarações.

Das declarações do jovem e das investigações que procedeu no terreno a Polícia Judiciária ficou convencida da inocência completa do jovem que garante não querer voltar a ver à sua frente a ex-companheira.

“Não se apurou o envolvimento de terceiros na preparação e cometimento do crime, pelo que tudo leva a crer que a autora do rapto actuou sozinha” referiu no passado domingo em conferência de Imprensa o inspector da PJ do Porto Gil Carvalho.

O filme do crime

Simone Ferreira terá chegado ao hospital Padre Américo em Penafiel e após ter entrado no edifício vestiu uma bata branca de enfermeira para passar despercebida. Apesar de não ter nenhum cartão de identificação – obrigatório para todos os médicos, enfermeiros e auxiliares do hospital –, conseguiu passar por vários serviços do hospital como por exemplo a pediatria e a Urgência.

Todo o seu percurso dentro do Hospital foi captado e registado pelas câmaras do serviço de videovigilância do centro hospitalar.

Vera, mãe do jovem Sandro, estava na enfermaria do Hospital Padre Américo com o filho, que já era o terceiro.

Pelas 14h35 uma mulher jovem e de bata branca ter-lhe-á pedido para levar o recém-nascido argumentando que ele necessitaria de fazer exames, de acordo com a investigação do matutino “Correio da Manhã”.

Como o jovem Sandro nasceu com icterícia, Vera não desconfiou de nada e entregou o seu filho à mulher que vestia uma bata igual à de tantas enfermeiras que circulavam no Hospital.

Simone Ferreira, a alegada raptora, teve uma longa meia hora para pegar no recém-nascido e abandonar o Hospital Padre Américo.

Só trinta minutos depois Vera estranhando a ausência prolongado do filho deu o alerta. A GNR fechou todas as saídas do hospital, mas já era tarde para evitar o mal.

O pequeno Sandro tinha desaparecido.

Depois de ter-se apoderado da jovem recém-nascida, Simone Ferreira dirigiu-se às traseiras do edifício por onde saiu utilizando para o efeito uma porta que não tem nenhum vigilante. Mais uma vez a sua imagem foi captada pela câmara aí instalada.

Foram estas imagens sucessivamente captadas e registadas pelo serviço de videovigilância do hospital que permitiram a identificação da autora do alegado rapto, identificada por profissionais do hospital como uma utente do mesmo, onde tinha consultas para tratamento de infertilidade, bem como confirmaram a identidade do bebe encontrado na casa de Lousada.

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