A demógrafa Maria Filomena Mendes, da Universidade de Évora, apontou hoje "alguns fatores demográficos" que podem justificar que o Alentejo não tenha "ainda casos identificados" de Covid-19, como o despovoamento ou a população "espaçada" e com "menos mobilidade".
"Todos já tiveram casos positivos identificados e o Alentejo ainda não teve, mas podemos já ter pessoas portadoras da doença, mas que ainda não foram identificadas", afirmou à agência Lusa a professora da Universidade de Évora (UÉ).
Segundo a docente de Demografia, "é difícil explicar" este cenário, mas "existem alguns fatores demográficos que podem estar a contribuir para a situação" e um deles tem a ver com "a densidade populacional" na região.
"O Alentejo é despovoado e, portanto, as pessoas concentram-se em localidades distanciadas umas das outras, a população está espaçada", afirmou.
No Anuário Estatístico da Região Alentejo de 2018 (que também inclui os municípios da Lezíria do Tejo), publicado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e consultado hoje pela Lusa, a densidade populacional da região era de 22,3 habitantes por quilómetros quadrado (111,4 no país).
A demógrafa explicou que o território tem também "uma população mais idosa" do que no resto do país, "o que faz com que esta tenha menos mobilidade".
"Temos uma proporção mais elevada de pessoas idosas, com menor mobilidade entre as pessoas e entre as localidades. As pessoas viajam menos para o exterior, e, eventualmente poderão estar mais protegidas em relação aos contactos", assinalou.
Lembrando que o novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19, é "um vírus novo", para o qual "ninguém tem imunidade", Maria Filomena Mendes destacou a importância de as pessoas reduzirem a sua exposição e seguirem as determinações do Ministério da Saúde e da Direção-Geral da Saúde (DGS).
"Quanto menor for a exposição e menores forem os contactos sociais, maior é a nossa capacidade de controlar este vírus e, acima de tudo, controlar os danos que o vírus pode fazer e trazer", frisou.
No caso do Alentejo, mesmo que "venham a surgir casos positivos identificados, haverá maiores condições de controlar a doença", porque, numa fase de mitigação, aquilo que é preciso "fazer é conter a propagação", ou seja, evitar os contactos.
Com o período da Páscoa a aproximar-se, altura em que muitos alentejanos que vivem nas grandes cidades costumam regressar à região para visitar familiares, Maria Filomena Mendes foi taxativa no alerta: "As pessoas na Páscoa não podem visitar os outros".
"Se uma das coisas que nos está a defender é nós estarmos mais isolados e haver menos mobilidade, temos que capitalizar isso em benefício da população do Alentejo", até para proteger "as pessoas de outras zonas, porque quem cá está pode estar infetado e não ter sintomas", avisou.
Provavelmente, "as características demográficas do Alentejo e da sua população estão a proteger-nos, mas não vão proteger-nos até ao fim. Se nem os países têm fronteiras, nós também não temos fronteiras, por isso, os nossos familiares têm que ter esse cuidado", vincou.
Manifestando-se interessada nestas matérias, a demógrafa reiterou avisos que especialistas da Saúde têm feito: "Está nas mãos de cada um travar esta transmissão do vírus. É preciso isolar-se, ficar em casa, lavar muito bem as mãos com água e sabão, com solução alcoólica e manter sempre uma distância de segurança de um metro a um metro e meio".
O surto começou na China, em dezembro, e espalhou-se por mais de 146 países e territórios, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, a DGS elevou hoje número de casos confirmados de infeção para 448, mais 117 do que na segunda-feira, dia em que se registou a primeira morte no país.