Algarve produz cabritos por inseminação artificial para que a tradição pascal se mantenha

Veterinários e produtores algarvios desenvolveram um projecto de inseminação artificial que vai permitir a muitos portugueses, sobretudo no Norte do País, cumprir este ano uma tradição pascal: comer cabrito no domingo de Páscoa.

Agência LUSA /

O desertificado interior algarvio serve de laboratório para desenvolver a técnica da inseminação artificial em cabras algarvias, raça autóctone da região, num projecto cujo objectivo é demonstrar aos agricultores e pastores como aumentar a qualidade e quantidade dos rebanhos.

A sala de recolha e conservação de sémen está instalada no Centro de Experimentação Agrária do Paúl, em Messines.

Ali, veterinários e técnicos trabalham para conseguir recolher o património genético de Magoo, de quatro anos, um dos poucos bodes de raça algarvia eleitos pelas suas óptimas características para perpetuar a raça.

O sémen de Magoo - o nome de baptismo explica-se por ser oriundo de Magoito (nordeste algarvio) - servirá, depois de devidamente conservado, para mais tarde engravidar dezenas de cabras em simultâneo.

Em 2004, 80 espécimes femininos da raça algarvia entraram na época do cio ao mesmo tempo, demonstrando aos agricultores que aquela técnica permite facilmente prever a altura em que os animais irão parir.

"Este programa permite a um produtor seleccionar as melhores cabras do rebanho para engravidarem ao mesmo tempo e concentrar os partos num determinado período", explicou à agência Lusa o veterinário Mário Gomes, um dos responsáveis por este projecto.

Através da inseminação artificial na raça caprina do Algarve é possível melhorar a qualidade daquele mamífero e aumentar a sua reprodução em determinadas épocas do ano, como o Natal e Páscoa.

Estes são dias especiais, em que os portugueses consomem em maior quantidade a carne magra e tenra daqueles ruminantes, explicou o director regional da Agricultura no Algarve, José Paula Brito.

A época principal para inseminar as cabras algarvias é em Maio e, depois de cinco meses de gestação, as crias nascem em Outubro para engordarem até ao Natal.

Na segunda época, final do Verão, os técnicos voltam a fazer inseminação artificial nas cabras que não tenham engravidado em Maio.

Os partos regressam em Janeiro, para dar tempo aos cabritos de crescerem até à Páscoa, altura em que muitos portugueses, principalmente no Norte do País, incluem aquela carne magra no cardápio.

"A maioria dos comerciantes que compram o cabrito é para o venderem no Norte do País", assegura Mário Gomes, adiantando que a grande procura nortenha, face a uma menor do Algarve, se prende com "gostos gastronómicos" de cada região.

Além de melhorar a eficiência reprodutiva nos caprinos, a inseminação artificial permite garantir a paternidade das novas gerações de cabras algarvias, melhorando ou mantendo as características naturais daqueles animais.

A cabra algarvia é um animal rústico, ou seja, adapta-se bem ao meio ambiente onde vive, mesmo que inóspito, é produtivo, inteligente, dócil e bonito, caracterizou o veterinário Mário Gomes.

O projecto da inseminação artificial arrancou no Algarve em 1996 a nível experimental, mas só em 2002 foi aplicado nas explorações particulares.

No ano passado, nasceram 193 cabritos na região através da inseminação artificial.

O aumento de produção caprina implica, por sua vez, a necessidade de aumentar a quantidade de leite para cada cria e, por isso, a direcção regional de Agricultura está a desenvolver um projecto para fabricar leite artificial.

Trata-se de uma alternativa para alimentar as crias e, por outro lado, "disponibilizar mais cedo o leite de cabra para a produção de queijo fresco e outros derivados", explicou o engenheiro zootécnico, João Cassinello.

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