Algas japonesas invadem Ria Formosa e ameaçam cavalos-marinhos e peixes
Milhares de algas marinhas oriundas do Japão através de ostras de viveiro estão a invadir a Ria Formosa pondo em risco a vida de cavalos-marinhos, bivalves e peixes, disse hoje um investigador da Universidade do Algarve.
As algas invasoras "sargassum muticum" são de cor castanha, originárias do Japão (Ásia), podem atingir oito ou nove metros e estão a ocupar o espaço das ervas marinhas autóctones da Ria Formosa, colocando em perigo a biodiversidade do ecossistema algarvio.
"É urgente atacar na Primavera as algas invasoras, pois esta é a altura do ano da reprodução destas plantas", explicou à Lusa Rui Santos, coordenador do grupo de investigação da Universidade do Algarve denominado Algae - Ecologia de Plantas Marinhas do Centro de Ciências do Mar.
Segundo o especialista, o sargaço do Japão desenvolve-se rapidamente na Ria Formosa, onde há muita luz e nutrientes e as correntes e a ondulação são fracas, e corta a luz para o interior das águas "estragando o habitat dos cavalos-marinhos, uma das maiores comunidades do Mundo".
Além de destruírem os pastos de ervas marinhas (sebarrinhas), que sustentam a vida da comunidade de cavalos-marinhos, as algas asiáticas ameaçam também o resto da biodiversidade da Ria Formosa, nomeadamente a "vida dos peixes, dos moluscos como por exemplo o choco e os bivalves", acrescenta o investigador da Universidade do Algarve.
O grupo de investigação Algae - Ecologia da Universidade do Algarve desenvolveu recentemente estudos sobre uma mancha da alga invasora detectada na barra do Ancão, junto à Ilha de Faro, e recolheu quarta-feira, numa iniciativa da sua responsabilidade, "centenas de quilos de sargaço.
Foi removido apenas cerca de um terço da quantidade de algas invasoras junto à ilha, comentou o investigador Rui Santos, alertando o Parque Natural da Ria Formosa (PNRF) para a necessidade de reunir esforços para que novas campanhas de remoção sejam levadas a cabo.
A directora do PNRF, Isabel Pires, adiantou à Lusa que a invasão deste sargaço é um "facto recente e não previsto" e, por isso, estão a aguardar indicações do Instituto de Conservação da Natureza (ICN) para tomarem alguma decisão.
A alga "sargassum muticum" introduziu-se na Europa em 1973 pelo Sul da Grã-Bretanha na casca de ostras destinadas à reprodução em viveiros e espalhou-se pela costa da Europa desde a Noruega a Portugal, onde foi localizada pela primeira vez no início dos anos 1990.
Em 2006, a alga invasora chegou pela primeira vez ao Algarve.
A Ria Formosa é um sistema lagunar classificado como área protegida com o estatuto de parque natural que se estende ao longo de 60 quilómetros.