Amas privadas estão a regressar em força a casa da classe média portuguesa

Ana Rute Peixinho, Agência Lusa

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Lisboa, 24 Jan (Lusa) - As amas privadas estão a regressar em força a casa das famílias portuguesas, porque são uma alternativa mais económica que os colégios e evita que os pais faltem ao trabalho devido às frequentes doenças contraídas pelos filhos nos infantários.

Maria Luísa, mãe de uma menina de 14 meses, decidiu retirar a filha da creche ao fim de quatro meses, durante os quais se viu obrigada a faltar 40 dias ao trabalho por causa das várias pequenas doenças que a menina foi apanhando.

"A situação começou a tornar-se insustentável. De cada vez que aparecia uma febre tinha de a ir logo buscar à creche. Nem eu nem o meu marido temos vida para estar permanentemente a faltar ao trabalho ", relatou à agência Lusa esta mãe, que trabalha como secretária de direcção numa multinacional.

E o facto de os avós trabalharem cada vez até mais tarde, com o aumento da idade da reforma, também contribui para o recurso às amas: "Nem todos conseguem ter o apoio dos avós, que hoje em dia trabalham tanto ou mais do que nós. No meu caso, os meus pais estão longe e os meus sogros trabalham todo o dia".

Perante estas dificuldades, Maria Luísa decidiu contratar uma ama, que lhe foi "muito recomendada", e a quem paga 550 euros para estar em casa das 08:30 às 18:30 a tomar conta da filha, a fazer a limpeza diária e algumas refeições.

"Pago mais 180 euros do que na creche, mas compensa bem. De tal forma que só penso voltar a pôr a minha filha no colégio lá para os cinco anos", contou Maria Luísa.

A Associação Portuguesa de Família Numerosas (APFN) reconhece que a figura da ama privada está a ganhar um papel forte na sociedade portuguesa, sobretudo nas famílias de classe média e média-alta, porque "fornece aos pais uma solução mais completa e um apoio maior".

"Não há férias, não há doenças, não há faltas ao trabalho", justifica a secretária-geral da APFN, Ana Cid.

O pediatra Mário Cordeiro considera o recurso a uma ama uma "boa solução" antes dos dois anos e meio, apontando como principais vantagens o respeito pelos ritmos biológicos da criança e a protecção de infecções.

"As vantagens são sobretudo a nível infeccioso. E as crianças não têm de acordar a desoras e podem estar mais tranquilas no seu meio ambiente, sem ter que se deslocar e apanhar frio", comentou à Lusa.

Segundo o médico, os episódios de infecções nos colégios multiplicam-se porque, quando as crianças adoecem, acabam por não ter um período correcto de convalescença, adoecendo outra vez com facilidade.

Para Mário Cordeiro, as amas particulares são uma boa opção quando "dão garantias de segurança, afecto, estimulação" e quando passeiam com a criança: "Se assim for é prático e não muito caro, se comparamos com alguns colégios".

Aliás, o factor financeiro é também determinante famílias, sobretudo para as mais numerosas, porque se torna mais barato ter uma ama em casa do que pôr dois, três ou quatro filhos em creches, infantários ou colégios.

A dificuldade de pagar os colégios privados e as poucas vagas existentes nos públicos contribuem também para este aumento do recurso a amas privadas, refere a APFN.

Os benefícios financeiros estiveram na base da decisão de Alexandra e Ricardo, pais de Maria e Francisco, de três e um ano: "a diferença de preços em relação a um colégio não era muito grande e assim tínhamos alguém para tratar também da casa".

"Começámos também a pensar que um bebé de cinco meses é muito pequeno para entrar na rotina diária da ida para a escola e tivemos igualmente receio das doenças", adianta a mãe.

Agora com três anos, a filha mais velha começou a frequentar um colégio, mas mesmo assim, Sílvia afirma nunca ter faltado ao trabalho por causa de doenças dos filhos.

"A Maria fica doente e traz as doenças para casa, contagiando o irmão. Mas como está cá a ama, eles têm sempre com quem ficar".

Apesar de ser uma realidade em crescimento, não há um enquadramento legal para as amas privadas, como alertou há três meses o Provedor de Justiça, que na altura apelou ao Governo para a necessidade de criar legislação que permita fiscalizar esta actividade.

Segundo o Provedor, ao contrário do que acontece quando o desempenho da função está integrado no âmbito da acção da Segurança Social, verifica-se uma omissão de fiscalização no caso das amas privadas, seleccionadas e remuneradas directamente pelos encarregados de educação, "facto que é susceptível de pôr em perigo as crianças".


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