Ameaças verbais predispõem indivíduos para a agressão física
As pessoas que utilizam ameaças verbais revelam maior predisposição para actos de agressão física provocados sob influência do álcool, indica um estudo apresentado por investigadores do Centro Regional de Alcoologia do Norte (CRAN).
De acordo com as correlações elaboradas com base nos resultados do estu do "Álcool e Violência Doméstica", conduzido por dois investigadores do CRAN, fo i possível aferir que as pessoas que utilizam ameaça verbal estão "fortemente" a ssociadas com actos de agressão física.
Existe igualmente uma correlação forte entre quem passa das ameaças fís icas e de uso de armas à sua consumação, normalmente associadas, pelos próprios inquiridos, a momentos em que estão sob influência do álcool, conclui o document o.
O estudo procurou medir a extensão com que os casais experimentam a vio lência doméstica como forma de lidar com conflitos.
Em declarações à agência Lusa à margem da apresentação do estudo, que d ecorreu hoje no II Encontro Internacional de Alcoologia, um dos seus co-autores, Jorge Topa, explicou que a investigação teve como base uma amostra de 210 utent es do CRAN (135 homens e 75 mulheres, casados ou a viver maritalmente há mais de um ano).
Os investigadores concluíram que, numa amostra em que o nível de instru ção se mostrou muito baixo (60 por cento não chegaram ao fim do primeiro ciclo d o ensino básico), 40 por cento assumiram experiências de maus-tratos físicos.
Do total, mais de metade (57 por cento) disse recorrer "com frequência" ao insulto do companheiro/a e 25 por cento confessou "amuar e recusar discutir" e 54 por cento admitiu "gritar com o companheiro/a".
Quarenta por cento dos inquiridos já ameaçou bater ou atirar objectos, 21 por cento assumiu "dar pontapés ou bater com alguma coisa", 30 por cento refe riu "atirar objectos" e 44 por cento "empurrar o companheiro".
"Esbofetear o cônjuge" foi um comportamento assumido por 34 por cento d os inquiridos, 17 por cento referiu-se a "pontapés, mordidelas ou murros", 13 po r cento admitiu "espancar o companheiro" e 14 por cento disse ameaçar com faca o u arma de fogo o/a companheiro/a.
Três por cento dos inquiridos admitiu já ter tentado "estrangular" o cô njuge e seis por cento disse "ter feito uso de uma faca ou arma".
Sobre a violência doméstica em geral, Jorge Topa defendeu que a crescen te visibilidade do fenómeno na sociedade portuguesa resultou numa maior adequaçã o dos instrumentos para combater este tipo de crime.
"Por um lado, as forças da ordem (PSP e GNR) estão mais preparadas para tratar de casos de violência doméstica e, por outro, sentimos já os efeitos pos itivos da mudança legislativa operada em 2000, que passou a classificar a violên cia doméstica como um crime público", referiu.