Amor de perder o fôlego mata 5 a 10 por ano em Portugal
Cinco a dez pessoas morrem anualmente em Portugal por falta de sangue no cérebro durante a masturbação provocada pela asfixia auto-erótica, uma das preferências por estímulos sexuais pouco usuais que o psiquiatra Afonso de Albuquerque aborda no seu novo livro.
"Minorias eróticas e agressores sexuais" é o novo livro do psiquiatra e antigo director do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos, que será lançado sexta-feira.
O especialista separa as parafilias (preferências por estímulos sexuais pouco usuais e que podem ser consideradas um problema médico) predominantemente não agressivas das agressivas.
No capítulo dedicado às não agressivas, Afonso de Albuquerque aponta uma das formas mais perigosas que alguns masoquistas usam para ter prazer: a asfixia auto-erótica.
"Trata-se de uma situação rara e que consiste na indução, pelo próprio, de um estado de asfixia cerebral enquanto se masturba", lê-se nesta publicação da Dom Quixote.
Este estado é conseguido "através da constrição do pescoço por um cinto, ou um laço, ou por suspensão de uma árvore ou de um toalheiro na casa de banho".
"O fluxo sanguíneo cerebral é restringido parcialmente, resultando em falta de oxigénio, o que diminui a inibição cortical normal. Isto resulta num orgasmo mais intenso, mas também num risco de morte acidental, se o praticante desmaia antes de poder alargar a constrição do laço".
É o que acontece a pelo menos cinco a dez portugueses que, todos os anos, morrem devido a asfixia auto-erótica.
O psiquiatra alerta para o facto destes casos de morte poderem ser "frequentemente confundidos com suicídio ou homicídio".
Para Afonso de Albuquerque, esta é uma parafilia "particularmente perigosa, pelo que se justifica plenamente uma intervenção terapêutica urgente, em especial se esta se tornar numa prática habitual".
No seu roteiro pelas parafilias não agressivas, o especialista em terapêutica comportamental descreve práticas pouco divulgadas, como a formicofilia (o foco da excitação provém de pequenos animais como formigas, caracóis ou rãs, que percorrem certas partes do corpo, especialmente os genitais, os mamilos e a região perianal) ou a clismafilia (quando a excitação resulta do uso de um clister).
Mais conhecidos, o fetichismo é designado como o acto de usar determinado objecto para obter prazer e o sado-masoquismo aquele em que "o indivíduo está fixado sexualmente em infringir ou receber dor ou humilhação".
O psiquiatra inclui o exibicionismo, os telefonemas obscenos, o voyeurismo, o frotteurismo (contacto físico com mulheres desconhecidas em locais como transportes públicos ou multidões), a pedofilia, a violação e o assédio sexual nas parafilias predominantemente agressivas.
No capítulo dedicado à pedofilia, Afonso de Albuquerque, psiquiatra de Carlos Silvino ("Bibi"), alerta para o "efeito Casa Pia" ao demonstrar o aumento de inquéritos ligados a este tipo de crime desde 2002: 363 em 2002, 527 em 2003 e 1.075 em 2004.
Dados da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais (DGSP), citados neste livro, indicam que se encontravam detidos, em Novembro de 2004, 189 reclusos condenados por abuso sexual de menores.
"De acordo com estes dados, o Estabelecimento Prisional da Carregueira estaria especialmente vocacionado para acolher estes presos, estando prevista a criação de serviços de acompanhamento psicológico e médico, o que até agora não se verificou", lê-se no livro.
Para Afonso de Albuquerque, "o abuso sexual infantil é um grave problema social e humano, que vergonhosamente nunca foi enfrentado nas sociedades ocidentais de uma forma adequada".