Ana Gomes refuta acusação de "má fé"

A eurodeputada Ana Gomes rejeitou hoje as acusa ções de "má fé" e "abuso" que lhe foram dirigidas pelo ministro dos Negócios Est rangeiros, no quadro das investigações sobre os voos da CIA, e comentou que "os factos falam por si".

Agência LUSA /

O ministro Luís Amado acusou hoje Ana Gomes de "má-fé" ao dizer que o G overno omitiu informações sobre voos da CIA e negou qualquer contradição nos dad os enviados pelo executivo à comissão que investiga o caso e uma nova lista de voos agora divulgada.

"Há pessoas que estão a procurar lançar uma cortina de fumo", disse o c hefe de diplomacia, numa reacção à nova lista, com 94 voos de e para Guantamano, que fizeram escala nos aeroportos das Lajes e de Santa Maria ou atravessaram o espaço aéreo português, fornecida pela eurodeputada à comissão temporária e hoje revelada pela revista Visão.

"Houve má-fé e abuso relativamente à confiança que merece uma senhora d eputada com quem o Governo tem procurado tratar o assunto", disse também Luís Am ado, que escreveu igualmente uma carta ao presidente da comissão temporária do P arlamento Europeu, Carlos Coelho, onde "condena" o que classifica como "conduta abusiva" e "(des)informação" por parte de Ana Gomes.

"Rejeito totalmente as acusações de má fé e de abuso. Sempre agi com to tal boa fé, sempre partilhei com o governo a informação que tinha", afirmou hoj e à Agência Lusa a eurodeputada socialista, lembrando que pediu "repetidamente" a o governo as listas de voos.

Luís Amado garantiu hoje que "todos os elementos pedidos pela comissão foram respondidos" e que, de acordo com as informações de que o Governo dispõe, nem este executivo nem o anterior cometeram qualquer ilegalidade.

Ana Gomes reafirma que esta nova lista demonstra que não foram prestado s todos os elementos, pois quando solicitou esclarecimentos ao Governo - então ainda com Freitas do Amaral à frente do Ministério dos Negócios Estrangeiros e L uís Amado como ministro da Defesa -, perguntou concretamente se havia conhecimen to de voos com origem ou destino a Guantanamo e a resposta - datada de 26 Junho e que chegou com dois meses de atraso, em Agosto - era de que não havia registo de nenhum voo.

A deputada afirmou que, à data da resposta, havia 12 aterragens, na Bas e das Lages, de aviões destinados ou provenientes da base de Guantanamo (onde os Estados Unidos operam uma prisão na qual mantêm detidos alegados terroristas), e disse não acreditar que a Força Aérea não controlasse os voos e que o ministér io da Defesa desse uma resposta sem consultar a Força Aérea.

A revista Visão adianta que esta nova lista foi elaborada pela NAV, emp resa pública responsável pelo controlo do tráfego aéreo, e foi entregue terça-fe ira por Ana Gomes à comissão temporária do Parlamento Europeu que investiga a pa ssagem de voos da CIA para transporte ilegal de prisioneiros no espaço a aéreo e uropeu, "tendo provocado estupefacção geral entre os seus membros".

Luís Amado enviou também um carta a Carlos Coelho, datada de hoje, e à qual a Agência Lusa teve acesso, na qual indica que "a conduta abusiva de um mem bro de uma comissão temporária com um mandato de reconhecida importância não pod e deixar de merecer" a sua "imediata condenação".

Reportando-se à comunicação que Ana Gomes fez chegar na véspera aos mem bros da comissão, e comentando que a deputada "sugere a ideia - equivocada - de que o governo português ocultou informação" -, Luís Amado sustenta que "a acusaç ão é grave, infundada, e contrariada à saciedade pela colaboração permanente" do seu ministério com a comissão do PE, lembrando que foi "um de apenas três" mini stros dos Negócios Estrangeiros" da UE a avistarem-se com a comissão.

O ministro acusa ainda Ana Gomes de "manifesta má fé na (des)informação " que presta à comissão temporária quando "descontextualiza um ofício isolado", do qual faz o seu "emblema", e no qual se afirma que o gabinete do Chefe de Est a do Maior da Força Aérea não tem, nos seus registos, qualquer voo que refira Gu antanamo", sublinhando que "o Governo nunca afirmou não existirem voos de ou par a uma base militar americana".

Escusando-se a fazer "juízos" sobre as declarações de hoje do ministro dos Negócios Estrangeiros, Ana Gomes comentou à Lusa que "os factos estão aí e f alam por si relativamente ao comportamento do governo".

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