Andorinhas anunciam Primavera cada vez mais cedo

As aves estão a alterar os seus padrões migratórios e regressam à Europa cada vez mais cedo, havendo mesmo algumas que passam de "migradoras" a "residentes", como aconteceu com a cegonha em Portugal.

Agência LUSA /

A antecipação das migrações está relacionada com a adaptação às alterações climáticas, mas também com a mudança das condições no terreno e com a disponibilidade de alimento, como explicou o director da Sociedade Portuguesa para o Estudo dos Aves (SPEA) à Agência Lusa.

Foi o que aconteceu com as cegonhas - "uma espécie migradora típica" - que encontraram na "praga" de lagostins-vermelhos que invadiram as albufeiras e rios portugueses um precioso recurso que lhes permite alimentarem-se todo o ano, acabando por fixar residência no país.

O certo é que é cada vez mais difícil definir as épocas de migração, pois a irregularidade de movimentos migratórios das aves invernantes é cada vez maior.

As aves vindas de África têm tendência para chegar cada vez mais cedo à Europa e partem cada vez mais tarde.

"Estas alterações verificam-se também a nível da floração, com as folhas a caírem mais tarde e as flores a surgirem mais cedo, o que sugere efeitos das alterações climáticas", comentou Luís Costa.

As andorinhas, por exemplo, já nem sempre anunciam a Primavera.

"Em Dezembro e Janeiro já começam a aparecer as primeiras andorinhas", observou o responsável da SPEA.

As aves que nidificam no Verão nos países do Norte da Europa também procuram muitas vezes paragens mais quentes durante o Inverno.

Mas estas espécies "são mais irregulares".

"Depende muito das condições dos países em que estão. Se houver tempestades e vagas de frio é provável que apareçam mais patos por cá. Mas se tiverem mais sol, mais calor e mais alimento nos locais de invernada é provável que não queiram arriscar energia e esforços numa viagem migratória".

Um estudo recentemente divulgado na Science sugere que as alterações climáticas têm obrigado várias espécies de aves migratórias a "reprogramar" os seus relógios biológicos.

Os investigadores sustentam que o começo antecipado da Primavera no Norte da Europa afecta mais as aves migradoras que percorrem distâncias mais longas, como as que passam o Inverno em África, do que as que voam distâncias mais curtas.

Os cientistas admitem que a antecipação das migrações pode resultar de mudanças evolutivas induzidas pelas alterações climáticas.

Baseando-se na análise de dados ao longo de 24 anos e relativos a mais de 30 espécies de aves, a equipa coordenada por Niclas Jonzén da Universidade de Lund (Suécia) descobriu que alguns dos "viajantes" tropicais estão a chegar muitos dias antes do que acontecia nos anos 80 - uma mudança maior do que a que evidenciaram as aves que fazem pequenas migrações.

Embora os investigadores não excluam a hipótese de que a migração prematura esteja relacionada com as condições da alimentação nos locais onde invernam (em África), a explicação mais provável para Niclas Jonzén é que as aves que migram a partir de África tenham sofrido alterações evolucionárias devido à pressão da selecção natural para uma reprodução antecipada na Europa.

"Como a Primavera chega mais cedo ao Norte da Europa, as fontes de alimentação também surgem mais cedo. Por isso, as aves que possam migrar e reproduzir-se mais cedo na Primavera podem ter vantagens sobre as que não se adaptam as alterações climáticas".


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