Ansiedade da mãe e biberões são piores inimigos do bebé

"Vá lá, Inês, participa, colabora", incita a mãe, mas a bebé, com dois dias de vida, dorme e não mama, aumentando a ansiedade de Anabela, que nem reparou nas duas pequenas sucções que a filha fez no início da mamadura.

Agência LUSA /

Ao olhar atento da enfermeira responsável pela maternidade do Hospital Garcia de Orta, Ganda Cênsio, não escaparam as duas pequeninas tentativas de Inês para se alimentar e, com um sorriso complacente, ela lembra que se o bebé mama menos, tem de ir mais vezes ao peito.

A ansiedade das mães é uma das principais dificuldades a ultrapassar na aprendizagem de alimentar ao peito os filhos e contribui para que, ao fim do primeiro mês de vida, mais de metade das mães portuguesas acabe por desistir do aleitamento materno.

De acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o período ideal de duração de aleitamento materno são seis meses e este alimento é, em termos nutricionais, o mais completo que o bebé pode receber no início da vida, existindo também benefícios psicológicos para a mãe associados ao dar de mamar.

No Hospital Garcia de Orta, o primeiro em Portugal acreditado pela OMS como "Amigo dos Bebés", a equipa do serviço de obstetrícia aposta em várias iniciativas, a par da formação contínua dos profissionais, para apoiar as recém-mamãs e mantê-las afastadas o mais tempo possível dos biberões.

Uma das metas é não utilizar tetinas ou chuchas antes de o bebé estar completamente adaptado à mama, explica à agência Lusa Ganda Cêncio, apesar de a maioria das mães as trazer para a maternidade.

"O que é exigido ao bebé para chuchar, ao nível do maxilar, do palato e da língua, não tem nada a ver com o necessário para mamar", pormenoriza Ganda Cêncio, além de que "o leite da mãe não sai com a mesma rapidez como pela tetina do biberão e o bebé acaba por ficar irritado porque não consegue mamar com tanta facilidade" adianta.

O choro do bebé aumenta a ansiedade da mãe, a possível fome do bebé é o maior medo e o biberão surge como a solução mais cómoda e tranquila.

A promoção do aleitamento materno, cuja Semana Mundial instituída pela OMS tem início terça-feira, passa também por contrariar receios, e o mais comum é a mãe pôr em causa a qualidade do seu leite.

"A regra é: todas as mulheres saudáveis têm bom leite e em quantidades uficiente", sublinha a Ganda Cênsio, mas tal não é suficiente para tranquilizar a mãe da pequena Maria Leonor, nascida há três dias.

"Já tenho colostro há algum tempo, mas tenho algum medo se não tiver le ite para lhe dar", murmura Inês, de 33 anos, enquanto amamenta a filha.

Inês não tem dúvidas de que o leite materno "tem muitas vantagens: é o mais importante, é muito mais barato, está sempre feito e à temperatura ideal", mas teme não conseguir amamentar a filha até aos seis meses.

O principal entrave vai ser o regresso ao trabalho ao fim dos quatro me ses de licença de maternidade, como guarda-freio e, realça a Ganda Cênsio, esta etapa marca normalmente o fim do aleitamento materno.

"A mulher deixa de estar tão disponível e descontraída para amamentar, e também quer estar mais livre", nota a enfermeira.

Levar a mulher a verbalizar os seus receios e ajudar as mães a ultrapas sar a insegurança que motiva as mesmas e sucessivas perguntas a diferentes profi ssionais é uma das actividades-chave da equipa da maternidade do Garcia de Orta.

"Isto não se faz com conceitos e só dar folhetos não serve para nada", adverte Ganda Cênsio.

"O acompanhamento passa por perceber e trabalhar as motivações da mulhe r", o que tem de começar logo no início da gravidez e leva o hospital e os centr os de saúde da região a trabalharem em conjunto na formação das futuras mamãs da região.

Além do esforço em obter uma linguagem comum, há gestos que podem valer por mil palavras como colocar o bebé sobre a mama da mãe imediatamente após o p arto.

É que, enfatiza a enfermeira, "o começo da amamentação, na maior parte dos casos, é instintivo".

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