Apenas cinco centrais de biomassa em Portugal são consideradas sustentáveis

por RTP
Sebastian Unrau - Unsplash

A associação ambientalista ZERO revela que de 13 centrais de biomassa em funcionamento apenas cinco têm planos de sustentabilidade a dez anos com parecer favorável ou favorável condicionado. No dia em que se comemora o “Dia Internacional da Ação sobre a Biomassa em Grande Escala”, a ZERO vem chamar a atenção para o problema da utilização insustentável da biomassa florestal para produção de energia.

A Zero refere que as políticas de promoção de energias renováveis não acautelam de forma séria a utilização da floresta, com implicações ao nível da desflorestação, biodiversidade, e impactos sociais e económicos.

“Após solicitação e dois longos anos de espera, a ZERO recebeu informação por parte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) dos planos de ação para dez anos visando a sustentabilidade do aprovisionamento a prazo, mas a informação que foi facultada revelou-se incompleta, não permitindo efetuar uma avaliação da tipologia de biomassa que os planos apresentam”, revela a associação em comunicado, dizendo que não é possível descortinar qual a verdadeira sustentabilidade destas unidades que, alegadamente, referem queimar biomassa residual (resíduos florestais).

Ainda assim, a associação diz que os dados fornecidos permitem retirar uma conclusão que é “no mínimo preocupante: das 13 centrais de biomassa que, à data de 2020, estavam em funcionamento e enquadradas no regime remuneratório majorado da eletricidade que é produzida, só foram avaliados os planos de seis dessas centrais por parte do ICNF”.

“Acresce que quatro tiveram parecer favorável, uma teve parecer desfavorável e uma com parecer favorável condicionado”, adianta a associação. “Quanto à eventual situação de incumprimento legal, segundo o ICNF, é da responsabilidade da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG)”, diz o comunicado.

A Zero teme que exista um completo descontrolo quanto ao funcionamento das centrais de biomassa, alegadamente com situações de incumprimento da legislação em vigor, ausência de fiscalização por parte das entidades competentes e acesso ao pagamento majorado da energia produzida que não cumpre os deveres legais.
"O perpetuar da queima de madeira de qualidade"
A associação diz-se preocupada quanto ao material que é aqui queimado, suspeitando que “permite o perpetuar da queima de madeira de qualidade, em especial pinheiro-bravo, quando existe um défice de matéria-prima nesta fileira na ordem dos 57 por cento, segundo os dados públicos do Centro PINUS”.

“Por fim, os problemas sociais resultantes de uma má localização da Central do Fundão, que continuam por resolver. As intervenções paliativas de minimização não solucionaram o problema que, dia após dia, continua a afetar os residentes nas proximidades, devido ao ruído, fumo, cinzas e contaminação da água subterrâneas utilizadas na rega”, refere a ZERO.

É fundamental que o Governo finalmente clarifique e credibilize este setor energético, resume a associação.

“O Parlamento Europeu deu um sinal claro da necessidade de abandonar a utilização de biomassa primária para a produção de energia, pelo que se espera que esta boa intenção prevaleça nas discussões nos trílogos e que o Governo português dê o seu apoio como membro do Conselho Europeu”.

“É urgente que o Governo tenha uma intervenção séria sobre a matéria e, em consonância com o que já mencionou em diversas ocasiões sobre a valorização energética de resíduos florestais”.

A ZERO considera que o Governo deve avaliar o grau de aplicação e incumprimento do pagamento majorado, suspendendo no imediato o pagamento nas eventuais situações irregulares que venham a ser identificadas, disponibilizar publicamente informação sobre a tipologia de biomassa que está a ser consumida nessas unidades, e que apresente o estudo relativo ao levantamento e mapeamento da quantidade de biomassa disponível para fins energéticos.
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