APP Lisboa Romana. Património arqueológico no ecrã do telemóvel

por Carla Quirino - RTP
Carla Quirino - RTP

Está lançada a primeira ferramenta digital que reúne informação de mais de 300 sítios arqueológicos de época romana na Área Metropolitana de Lisboa. Depois de descarregada a aplicação e permitido o acesso da localização do aparelho, começam a chegar ao telemóvel notificações com sugestões dos sítios arqueológicos das redondezas. Para quem não está na região, o portal Lisboa Romana também permite viajar virtualmente num mapa interativo e seguir as marcas deixadas pelas populações, entre momentos pré-romanos até ao século VII d.C., nos territórios das duas margens do Tejo.

Ao cruzar-se com placas nos passeios a dizer Lisboa Romana com QR codes associados, pode estar junto a um vestígio arqueológico romano. Apontando o telemóvel com a APP fica a saber o que esconde o subsolo de Lisboa, para que servia esse achado, e ainda, aceder a fotografias das escavações ou videos explicativos sobre a história desse sítio.

Foi o que fizeram as estudantes Erasmus, Marzena e Justyna. Vêm da Universidade de Wroclaw e frequentam o Curso de Arqueologia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Ao visitarem a cidade, reconhecem a utilidade da APP Lisboa Romana.

Fixam o QR code no passeio, com o ecrã do telemóvel.  A APP liga-se com a base de dados do site Lisboa Romana e a informação surge rapidamente. As alunas polacas escolhem a opção de língua inglesa e ficam a saber que estão junto ao Teatro Romano de Felicitas Iulia Olisipo.

"É muito útil porque antes de entrar no museu posso saber através do QR code toda a informação do que podemos ver", diz Justyna. Marzena acrescenta, "Através da APP podemos ter esta informação curta e rápida e ver fotos do que existe dentro do museu ou sítio arqueológico. Podemos decidir melhor o que fazer na visita."|
Marzena e Justyna, junto ao Teatro Romano | Carla Quirino - RTP
Todos os caminhos vão dar à Lisboa Romana Com recurso às novas tecnologias digitais, o portal Lisboa Romana pretende divulgar e tornar acessível o conhecimento e o património do período romano. "Pretende-se que este site seja um repositório público de informação, que auxilie os interessados no conhecimento deste património" explica à RTP, António Marques, arqueólogo e coordenador do projeto. "Sendo um site bilingue, permite esse apoio e divulgação junto dos turistas que visitam Lisboa, convidando-os a também visitarem o território circundante", sublinha.

Para o Projeto Lisboa Romana constituiu-se uma Rede Local e Metropolitana que agrega 19 municípios liderada pelo Centro de Arqueologia de Lisboa da Câmara Municipal de Lisboa

De Mafra a Sesimbra, do Seixal à Moita, de Vila Franca de Xira a Palmela, este território, a norte e a sul do Tejo, corresponde à esfera de influência económica e cultural que a antiga cidade de Olisipo exercia.                     
 Inscrição funerária Laberia Avita em Torres Vedras | Paulo Gomes CMTV-MMLT

O portal Lisboa Romana assenta num mapa interativo que interliga a cidade e o campo da época romana. Pode viajar-se entre vestígios de tanques onde se produziam preparados de peixe como a Casa do Governador, ou estruturas de olarias, onde se produziam ânforas, como a Quinta do Rouxinol. Visitar os 82 sítios do município de Cascais ou a vila de Loures. Conhecer as personagens que circularam no território. Descobrir as relações económicas do território entre as áreas rurais de abastecimento de frescos e os consumos da cidade, também ela produtora.

A informação sobre este legado arqueológico pode ser pesquisada por temas, localidades ou escolhendo um período na linha de tempo que atravessa cerca de 14 séculos. António Marques acrescenta que "a apresentação de várias propostas de reconstituição de edifícios de época romana e de pequenos documentários pretendem dar uma maior dinâmica e atratividade ao site".

Tudo à distância de um clic em lisboaromana.pt ou num telemóvel através da APP Lisboa Romana.

"Com o desenvolvimento da APP pretende-se fundamentalmente que a informação disponibilizada no site, seja acedida de uma forma mais simples, atrativa e direta" explica o coordenador do projeto.

Num teste feito à APP, na sede da RTP, em segundos, uma notificação deu-nos notícia de um sítio arqueológico romano nas proximidades. Com informação muito clara, ficamos a saber que durante os trabalhos de construção da Avenida Marechal Gomes da Costa, em 1944, foi encontrada uma necrópole rural no antigo lugar de Poço de Cortes  (a meio da avenida).

Na informação disponibilizada na APP, são descritas as epígrafes funerárias, as estruturas das sepulturas e os significados dos vocábulos latinos. Para quem quiser aprofundar o tema, a APP sugere bibliografia ou uma visita ao Museu de Lisboa, tudo em hiperligações.

"Este projeto multidisciplinar conta com a participação de mais de 250 investigadores, Universidades, arqueólogos das diferentes autarquias, parceiros privados e empresas de arqueologia, que trabalharam em plena sinergia e de forma articulada, para a promoção do conhecimeto científico reunido e partilhado no site", sublinha Inês Viegas, gestora e coordenadora do projeto. 

Quem viajar com a APP para fora de Lisboa, existem vários percursos sugeridos, ou então, criar um novo, a gosto. A aplicação funciona independentemente da existência de QR codes. Alguns dos municípios envolvidos no projeto já instalaram QR codes nos passeios das localidades, como Arruda dos Vinhos, Torres Novas ou Loures. Lisboa oferece, para já, 28 placas informativa, diz Inês Viegas.
Lápide funerária de topo arredondado em Arruda dos Vinhos | Jorge Lopes - CMAV

O conhecimento produzido e reunido no site está disponível a toda a comunidade. Os mentores do projeto esperam sensibilizar e captar novos públicos para o tema da arqueologia e património.

"Este deve ser talvez um dos mais relevantes projetos de Arqueologia Pública em desenvolvimento a nível nacional. É aliás uma das missões do Centro de Arqueologia de Lisboa" destaca António Marques. E acrescenta que "divulgar o património e a atividade arqueológica junto da comunidade, contribui para o seu fortalecimento identitário."
E quem eram os romanos
"Sabemos hoje, graças às novas informações arqueológicas recolhidas a partir do subsolo da cidade, que Lisboa já era um aglomerado populacional com relevância, antes da chegada dos romanos." A localização geográfica privilegiada de Lisboa determinou a "importância enquanto porto estrategicamente localizado entre o Mediterrâneo e o Atlântico Norte", esclarece António Marques.

Primeiro rondaram os comerciantes, depois chegaram contigentes de legionários e finalmente assumiram o controlo do território com a implantação dos centros de poder. O teatro, o criptopórtico (alicerces de termas portuárias) ou o circo, entre muitos mais testemunhos arqueológicos, apresentam-se como provas do impacto da nova dinâmica politica, económica e social implementada por Roma, em Olisipo.

"Dos mais de 500 anos de domínio romano, resultou ainda o importante legado que é a língua portuguesa de raiz latina e a religião cristã, já perto da fase final do império" remata António Marques.
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