Arguidos acusados de receptação alegam desconhecimento de origem bens
Dois dos 23 arguidos de um processo de narcotráfico em Santa Tecla, Braga, acusados de receptação de produtos roubados, garantiram hoje em tribunal que desconheciam a origem criminosa dos bens.
Os dois homens confirmaram, no início do julgamento, ter adquirido ou vendido bens, nomeadamente um apartamento, à principal arguida.
No entanto, afirmaram que "não sabiam" que a mulher traficava droga e os bens que possuía provinham dessa actividade.
O julgamento começou no Tribunal de Círculo de Braga com a leitura da acusação, a que se seguiu a audição dos arguidos, dos quais apenas cinco se dispuseram a falar.
A sessão ficou ainda marcada pelo requerimento de um dos advogados de defesa que pediu ao Tribunal a anulação da acusação contra a sua constituinte, alegando que não tinha sido produzida prova que justificasse a sua ida a julgamento.
O requerimento foi rejeitado pelo juiz, que prosseguiu com a sessão.
Durante a tarde, o Tribunal vai ouvir três outros arguidos e iniciar a audição das testemunhas de acusação, entre as quais se contam agentes da Brigada Anticrime da PSP e alguns ex-toxicodependentes que supostamente compravam droga no Bairro Social de Santa Tecla.
Segundo a acusação, os 23 suspeitos integravam uma rede de venda de droga a retalho considerada pela PSP como "o hipermercado de estupefacientes da cidade".
A rede seria liderada por uma mulher de 28 anos, conhecida por Cristina, que teria continuado o negócio que havia sido montado pelo marido, o qual teria sido preso pela PSP.
No inquérito enviado ao Tribunal, a polícia diz que, durante seis anos, o Bairro Social de Santa Tecla, onde vive uma vasta comunidade de etnia cigana, foi alvo de numerosas rusgas devido ao tráfico e que a maioria dos residentes se dedica a esta actividade.
A rede, desmantelada no início de 2005, abrangia três familiares directos daquela arguida e outros consumidores de droga, que vendiam pacotes de cocaína e de heroína, muitas vezes a troco da sua própria dose.
Estes consumidores serviriam também como vigilantes da alegada chefe do negócio, postando-se à entrada do bairro para a avisar caso a polícia chegasse.
Os principais arguidos estão indiciados pela prática dos crimes de tráfico de droga agravado, receptação e dissimulação de bens, havendo alguns ainda acusados de resistência e coacção sob a autoridade policial, por terem disparado contra a PSP.
Durante as rusgas feitas às casas dos arguidos foi apreendido cerca de meio quilo de estupefacientes, várias armas, dois carros, sete mil euros em dinheiro e objectos em ouro.
O Tribunal procedeu também ao arresto de um apartamento T3 que a arguida terá adquirido na freguesia de São Vítor com os proventos do tráfico.
O Bairro Social de Santa Tecla, sedeado ao lado da cantina e das residências universitárias, é, a par do Monte Picoto, uma das zonas de maior tráfico de droga da cidade de Braga.