De acordo com o advogado de Armando Vara, o ex-ministro socialista está na disposição de "esclarecer tudo" durante o interrogatório com o juiz de instrução criminal de Aveiro.

"A nossa vontade é esclarecer tudo", afirmou em declarações à Agência Lusa o advogado Tiago Rodrigues Bastos.

O causídico afirmou que a colaboração de Armando Vara está dependente da existência de "condições para o fazer", já que a defesa "não sabe o que vai acontecer" no interrogatório, nomeadamente no que respeita ao acesso a material probatório que alegadamente incrimina o vice-presidente do BCP.

O advogado de Vara sublinhou que o seu constituinte pretende em particular conhecer o que realmente sobre ele pende, em contraponto ao que vem sendo veiculado através de acusações "genéricas".

De acordo com fonte judicial, Armando Vara é apontado pelos investigadores do processo Face Oculta como membro de uma "rede tentacular" criada pelo principal arguido, o empresário Manuel José Godinho, administrador de diversas empresas de recolha, armazenagem, triagem e tratamento de resíduos/sucatas que prestam serviços a empresas com ligações ao Estado, como a REN (Rede Eléctrica Nacional) e a REFER (Rede Ferroviária Nacional).

Os investigadores apontam que a execução do plano de Manuel Godinho - único arguido do processo em prisão preventiva - passaria pelos membros dessa "rede tentacular" que, a troco de vantagens patrimoniais e/ou não patrimoniais, favoreciam ou exerciam a sua influência junto de titulares de cargos governativos e/ou políticos, titulares de cargos de direcção ou de pessoas com capacidade de decidir ou com acesso a informação privilegiada no sentido de beneficiar as suas empresas.

Segundo aquela fonte, os investigadores alegam que na manhã de 25 de Maio de 2009 Manuel Godinho se encontrou com Armando Vara no seu gabinete no edifício do Millenium/BCP, na Avenida José Malhoa, Lisboa, onde lhe entregou 10 mil euros que Vara alegadamente havia solicitado para interceder a favor do empresário de Ovar.

No decurso da operação Face Oculta, 15 pessoas foram constituídas arguidas, incluindo Armando Vara, vice-presidente do BCP, com funções suspensas a seu pedido, José Penedos, presidente da REN, e o seu filho Paulo Penedos, advogado da empresa SCI, do empresário de Ovar Manuel Godinho.

Paulo Penedos acusado de tráfico de influências

Paulo Penedos, que esteve a ser ouvido esta terça-feira em Aveiro, saiu do Juízo de Instrução Criminal acusado pelo Ministério Público de dois crimes de tráfico de influências.

O arguido do Face Oculta foi ouvido pelo juiz de instrução António Costa Gomes durante seis horas. À saída do tribunal, as declarações ficaram a cargo de Ricardo Sá Fernandes, advogado de Paulo Penedos. O causídico indicou que o seu constituinte deverá conhecer as medidas de coacção na sexta-feira.

O interrogatório a José Penedos, que teve lugar na terça-feira em Aveiro, foi interrompido para ser retomada na quinta-feira.