Armando Vara foi chamado ao Banco de Portugal

por RTP
Armando Vara deverá ser ouvido na condição de arguido no próximo dia 18 de Novembro

O administrador do BCP que suspendeu funções após o seu nome ter sido envolvido no "Face Oculta" esteve durante a tarde de quinta-feira na sede do Banco de Portugal para prestar esclarecimentos sobre o processo. O banco central, que sugeriu dúvidas sobre a idoneidade de Armando Vara, deverá decidir se mantém o seu registo como gestor no sector financeiro.

Formalmente, o Banco de Portugal não pode investigar ou proceder a inquéritos, o que não impede Vítor Constâncio de averiguar.

O governador do Banco de Portugal pretende saber se sobre o vice-presidente do BCP e antigo secretário de Estado do Governo de António Guterres recaem suspeitas de crimes cometidos na actividade bancária.

Tecnicamente há dois artigos que interessam ao regulador: se em causa está a credibilidade do gestor e se os fundos confiados ao BCP estão acautelados.

Armando Vara sustenta inocência
Na carta que escreveu para suspender as funções no BCP, Armando Vara sustentou desde logo que as suspeitas que recaem sobre si não têm fundamento, pelo que não poderão ser provadas.

A carta dirigida ao presidente do Conselho de Supervisão do BCP e divulgada pelo site do Jornal Expresso alerta para a frequência com que suspeitas são lançadas na opinião pública e que depois se revelam infundadas.

Já a 31 de Outubro, numa missiva interna aos colaboradores do banco, Vara  dava a conhecer ter sido "notificado de ter sido constituído arguido num processo já tornado público pela comunicação social", garantindo logo a sua inocência.

"Afirmo que estou inocente", sustentou Armando Vara, que se viu obrigado a este esclarecimento depois de ter sido constituído arguido no âmbito do processo que deriva da operação "Face Oculta", desencadeada pela Polícia Judiciária - nomeadamente em instalações da REN (Rede Eléctrica Nacional) e da REFER (Rede ferroviária Nacional) - por suspeitas de crimes de corrupção, tráfico de influência, branqueamento de capitais e fraude fiscal na compra e venda de sucata de material ferroviário e num negócio de facturas falsas.

A investigação levou a Judiciárias a mais de 30 locais em todo o país, um deles o próprio escritório de Armando Vara no BCP.

O gestor, que foi um dos homens fortes do Governo socialista de António Guterres, diz aguardar pelas provas que as autoridades venham a exibir sobre o seu envolvimento no processo adiantando estar "absolutamente convicto de que as actuações que desenvolvi enquanto titular de cargos públicos e gestor de empresas, se pautaram por rigorosos critérios de ética. Estou seguro que a investigação em curso confirmará que as suspeitas levantadas carecem de qualquer fundamento".

No entanto, o arguido do processo "Face Oculta" reconheceu depois que, para salvaguardar o prestígio da instituição, não tinha condições para permanecer em funções no BCP.

Paiva Nunes suspendeu funções de representação da EDP Imobiliária

O responsável da Eléctrica Portuguesa surge no processo como tendo sido contactado por Armando Vara, que o terá apresentado ao único detido no caso, o empresário Manuel Godinho.

Segundo o despacho das autoridades, o objectivo seria o de facilitar concursos e adjudicações às empresas de Godinho.

Na sequência destes contactos, o quadro da EDP Imobiliária terá pedido a Manuel Godinho um carro, que Godinho terá acabado por lhe oferecer.

A EDP abriu entretanto um processo de auditoria interna.

Governo reforça medidas de combate à corrupção no Estado
Na apresentação das linhas de acção para a presente legislatura, o primeiro-ministro avançou para o que considera uma das prioridades do seu Governo: o combate à corrupção.

Em plena investigação do processo "Face Oculta", José Sócrates referiu o reforço dos meios judiciários e prometeu um pacote de medidas para aplicar às empresas com participação do Estado.

Manifestando a disponibilidade do seu Executivo "para considerar os aperfeiçoamentos legais que se relevem ajustados e necessários" no domínio da corrupção, o chefe do Governo sublinhou que "é tempo de instituir na administração e nas empresas públicas verdadeiros códigos de conduta e medidas de prevenção dos riscos de corrupção".

Sócrates promete um código de conduta para a Administração Pública e empresas com capitais públicos, explicando que Portugal adopta assim uma prática já seguida por outros países europeus.

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