Armando Vara visado por "averiguação" do Banco de Portugal

O governador do Banco de Portugal está averiguar o papel de Armando Vara no processo "face Oculta". Enquanto regulador, Vítor Constâncio questiona a idoneidade do vice-presidente do BCP, que é arguido neste processo de corrupção.

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Vítor Constâncio pretende saber se em causa está a credibilidade do gestor e se os fundos confiados ao BCP estão acautelados RTP

Formalmente, o Banco de Portugal não pode investigar ou proceder a inquéritos, o que não impede Vítor Constâncio de averiguar.

O governador do Banco de Portugal pretende saber se sobre o vice-presidente do BCP e antigo secretário de Estado do Governo de António Guterres recaem suspeitas de crimes cometidos na actividade bancária.

Tecnicamente há dois artigos que interessam ao regulador: se em causa está a credibilidade do gestor e se os fundos confiados ao BCP estão acautelados.

Sem poder suspender mandatos ou decretar inibição, Vítor Constâncio pode no entanto dar sinais de desagrado, incómodo que poderia nesse caso fazer escola dentro do próprio banco, levando à saída de Armando Vara, que alguns defendem ser uma iniciativa que deveria já ter partido do próprio por uma questão de ética.

O vice-presidente do maior banco privado português mantém-se em silêncio. A excepção foi feita em comunicado aos colaboradores, no qual se diz inocente.

"Fui ontem notificado de ter sido constituído arguido num processo já tornado público pela comunicação social", concede Armando Vara na comunicação aos colaboradores do BCP, para acrescentar: "Afirmo que estou inocente".

Armando Vara viu-se obrigado a este esclarecimento depois de ter sido constituído arguido no âmbito do processo que deriva da operação "Face Oculta", desencadeada ontem pela Polícia Judiciária - nomeadamente em instalações da REN (Rede Eléctrica Nacional) e da REFER (Rede ferroviária Nacional) - por suspeitas de crimes de corrupção, tráfico de influência, branqueamento de capitais e fraude fiscal na compra e venda de sucata de material ferroviário e num negócio de facturas falsas.

A investigação levou a Judiciárias a mais de 30 locais em todo o país, um deles, segundo a RTP apurou, o próprio escritório de Armando Vara no BCP.

O gestor, que foi um dos homens fortes do Governo socialista de António Guterres, diz aguardar pelas provas que as autoridades venham a exibir sobre o seu envolvimento no processo adiantando estar "absolutamente convicto de que as actuações que desenvolvi enquanto titular de cargos públicos e gestor de empresas, se pautaram por rigorosos critérios de ética. Estou seguro que a investigação em curso confirmará que as suspeitas levantadas carecem de qualquer fundamento".

BCP mantém confiança em Vara
Pronunciando-se sobre o caso, numa comunicação enviada à CMVM o Conselho de Administração do BCP garante que está salvaguardado o regular funcionamento da Administração e que não existe quebra de confiança entre os membros da equipa responsável pela gestão do banco.

"Face às notícias surgidas na Comunicação Social e às palavras dirigidas pelo Sr. Dr. Armando Vara a todos os Colaboradores, o Presidente do Conselho Geral e de Supervisão (CGS) reuniu com o Conselho de Administração Executivo, o qual lhe assegurou estar salvaguardado o regular funcionamento do CAE, não existindo qualquer quebra de confiança entre os seus membros", refere o comunicado.

"O Presidente do Conselho Geral e de Supervisão, considerando estar defendido o interesse da sociedade, aguarda serenamente o apuramento dos factos pelas instâncias competentes", conclui o documento enviado à CMVM, assinado pelo presidente do CGS.

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