Assassínio de Yitzahk Rabin deixou-me no centro do furacão, diz Mário Soares

por Agência LUSA

O ex-Presidente Mário Soares afirmou hoje que s e sentiu no "centro de um furacão" quando, durante uma visita a Israel e Palesti na, soube do assassínio do primeiro-ministro israelita Yitzahk Rabin, acontecime nto que sexta-feira faz dez anos.

No final do seu segundo mandato como Presidente da República - e numa a ltura em que António Guterres assumia há escassas semana o cargo de primeiro-min istro - Mário Soares fez uma visita de Estado a Israel entre 31 de Outubro e 04 de Novembro de 1995, deslocação seguida de uma visita oficial à Faixa de Gaza (e ntão sede da Autoridade Palestiniana) por 48 horas.

"O meu objectivo era acompanhar e impulsionar o processo de paz no Médi o Oriente, tirando partido do facto de o líder da Autoridade Palestiniana, Yasse r Arafat, e do primeiro-ministro e do ministro dos Negócios Estrangeiros de Isra el (respectivamente Yitzahk Rabin e Shimon Peres) serem meus velhos amigos", ass im explicou Mário Soares à agência Lusa o principal fundamento da sua visita ao Médio Oriente.

"A Israel, tratava-se da primeira visita de Estado de um Presidente da República de Portugal, mas, desde o início, avisei os israelitas que também iria à Faixa de Gaza, onde estava Yasser Arafat. Deixei esse ponto sempre muito clar o", insistiu o fundador do PS.

Nos primeiros dias de presença em Israel, Mário Soares foi recebido com honras de Estado no Knesset (Parlamento) - ocasião em que reiterou o perdão pel a perseguição movida aos judeus pela Inquisição portuguesa e visitou o Museu do Holocausto -, prestou homenagem às vítimas do genocídio nazi e terminou a sua vi sita com um almoço com o então primeiro-ministro de Israel Yitzahk Rabin.

"Foi o último almoço de Rabin. Depois do almoço, parti de carro directa mente para a Faixa de Gaza, a uma distância de 60 quilómetros" de Telavive, lemb rou o ex-chefe de Estado, agora candidato pela terceira vez a Presidente da Repú blica.

"Logo à entrada do território palestiniano fui recebido com alguma pomp a", recordou, antes de descrever os momentos que iriam marcar o seu jantar - "um banquete modesto" - com os responsáveis da Autoridade Palestiniana, entre os qu ais se encontrava o líder Yasser Arafat.

"A dada altura, comecei a verificar que havia uma grande agitação entre eles (palestinianos), mas não percebia nada do que se estava a passar. Decidi e ntão interpelar directamente Arafat e ele disse-me que tinha acontecido uma cois a terrível: o primeiro-ministro de Israel tinha sido assassinado", referiu Soare s.

Segundo Mário Soares, o jantar foi pouco depois interrompido e Yassar A rafat convidou-o para se deslocar com ele para o quartel-general da Autoridade P alestiniana.

"Havia uma grande preocupação entre os palestinianos, porque ainda se d esconhecia quem tinha sido o assassino de Rabin. Arafat admitia mesmo que se tra tava de uma provocação e que poderia ter como objectivo último a tentativa de li quidar os palestinianos. Mas eu só pensava: estou mesmo no centro do furacão", d isse.

De acordo com o ex-Presidente da República, entre os palestinianos, os ânimos só começaram a serenar por volta das 02:00 locais, na sequência de um tel efonema de Shimon Peres para Yasser Arafat, em que o ministro dos Negócios Estra ngeiros de Israel confirmou que o assassino de Rabin tinha sido "um fanático jud eu".

"Nesse telefonema, Shimon Peres perguntou por mim a Arafat e este passo u-me o telefone", seguindo-se, segundo Soares, um "diálogo por tu" entre ele o c hefe da diplomacia israelita.

"O melhor que tens a fazer é ficares aí (no Quartel-General de Arafat) até ao início da manhã. Depois desce para sul até ao Egipto", propôs Shimon Pere s, palavras que deixaram Soares espantado.

"Mas eu tenho o avião (fretado à TAP) em Telavive", contrapôs o ex-Pres idente da República, antes de ouvir o esclarecimento definitivo da parte de Pere s.

"Não podes passar para cá (Isarel). Fechámos as fronteiras (com a Autor idade Palestiniana), disse-me o Shimon Peres", conversa à qual se seguiu pouco d epois um telefonema proveniente de Lisboa, do primeiro-ministro, António Guterre s.

"O António Guterres estava aflitíssimo comigo, mas eu disse-lhe para nã o ficar preocupado. Eles têm aqui um quarto preparado para mim e para a minha mu lher (Maria de Jesus Barroso). Amanhã parto para o Egipto", respondeu Soares a G uterres, deslocação que faria às 08:00 da manhã seguinte, de carro, até à primei ra cidade fronteiriça egípcia.

"Dessa pequena cidade egípcia, telefonei ao presidente Hosni Mubarak, q ue me mandou um avião para ir para o Cairo. Enquanto o avião não vinha, como est ávamos perto de uma bela praia, num dia tão bonito de sol, tomei ainda um saboro so banho de mar", contou em tom divertido.

Após um dia de espera no Cairo, Mário Soares regressou a Telavive, marc ando presença no funeral do primeiro-ministro israelita ao lado de muitos outros chefes de Estado do mundo inteiro.

"A morte de Rabin não foi o ponto de viragem na interrupção do processo de paz. Isso aconteceu depois, com a eleição de Benjamin Netanyahu", sustentou o ex-Presidente da República, que ainda diz ter "esperança que aquela região ava nce para a paz".

"Mas para isso é preciso que haja muita colaboração e vontade da parte de todos os interlocutores: Israel, Palestina, Síria, Líbano, Egipto, União Euro peia, Estados Unidos, Rússia e outros", acrescentou.

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