Assistentes sociais hospitalares enfrentam burocracia e falta de recursos

Burocracia em excesso ou falta de recursos humanos e materiais são condições que limitam e condicionam a ação dos assistentes sociais hospitalares, revelou um estudo de investigadoras do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT).

Lusa /

O diagnóstico, realizado sobre a forma de um estudo qualitativo aprofundado, é o primeiro divulgado pelo Observatório Internacional das Condições de Trabalho dos Assistentes Sociais, criado em 2024 no ISMT, em Coimbra.

Realizado em três Unidades Locais de Saúde (ULS) da região Centro e baseado em entrevistas a 21 profissionais, o estudo é o "trabalho mais abrangente até à data sobre as condições concretas de trabalho dos assistentes sociais em contexto hospitalar", assinalando quatro dimensões críticas que limitam a intervenção e dificultam a resposta à complexidade crescente das situações acompanhadas, revelou uma nota do ISMT enviada hoje à agência Lusa.

Uma das condicionantes relatadas pelos assistentes socais é a escassez de recursos humanos e materiais, que leva ao "sistemático recurso a horas extra" de trabalho em condições físicas inadequadas - "desde gabinetes sem privacidade até equipamentos informáticos obsoletos" -- reduzindo a qualidade da intervenção e alimentando "sentimentos de exaustão e impotência".

As conclusões do estudo do Observatório do ISMT, a que a agência Lusa teve acesso, apontam também a burocracia excessiva e desvio de funções como outro constrangimento à atividade dos assistentes sociais.

"Uma parte significativa do tempo é consumida por tarefas administrativas --- preenchimento de plataformas, relatórios, estatísticas --- que afastam o profissional da relação com o utente".

A investigação aponta ainda a atribuição de funções "que não pertencem ao campo do Serviço Social", como gestão de assuntos administrativos, seguros, transportes ou responsabilidades de outros profissionais.

A autonomia limitada e reconhecimento institucional insuficiente é outro dos constrangimentos identificados, já que os profissionais manifestam-se "valorizados pelos utentes e pelas famílias, mas invisíveis nas estruturas formais de decisão".

Soma-se ainda o que as investigadoras definem como "sobrecarga e pressão por eficiência", ou seja, alegam um conjunto de exigências de rapidez na resolução de problemas sociais para viabilizar altas clínicas, que criam "um ritmo de trabalho incompatível com a complexidade dos casos".

"A profissão está a ser empurrada para um modelo de gestão centrado em métricas de produtividade, reduzindo o tempo disponível para a dimensão relacional e ética que distingue a intervenção em Serviço Social", avisam.

"Estes resultados mostram que a profissão enfrenta constrangimentos profundos que exigem acompanhamento contínuo", afirmou Sónia Ribeiro, investigadora responsável pelo estudo e responsável científica do Observatório Internacional das Condições de Trabalho dos Assistentes Sociais do ISMT.

Já Matilde Carvalho, investigadora responsável pela análise qualitativa, observou que os resultados "revelam uma deslocação estrutural do Serviço Social para modelos de funcionamento orientados por métricas de produtividade, em que o tempo necessário para a avaliação social, a relação de ajuda e a intervenção ética é progressivamente comprimido".

 

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