Ataque de neonazis. Ator Adérito Lopes relata "brutal ato de violência totalmente gratuito"

por Joana Raposo Santos - RTP
Foto: Facebook de A Barraca

Adérito Lopes, agredido por um grupo neonazi na terça-feira quando se preparava para representar Luís Vaz de Camões na peça de teatro "Amor é um fogo que arde sem se ver", no Teatro A Barraca, quebrou o silêncio sobre o ataque de que foi alvo. O ator garante que se tratou de um "brutal ato de violência totalmente gratuito" e espera que o agressor seja punido pela justiça.

“Na sequência dos recentes acontecimentos ocorridos junto ao Teatro A Barraca, em resultados dos quais fui agredido violentamente no rosto, venho, por este meio, prestar uma breve declaração pública, em respeito por todos os que, com genuína preocupação, me fizeram chegar palavras de solidariedade”, começa por escrever o ator.

Adérito Lopes relata que, ao chegar ao teatro no dia em que se preparava para representar Luís Vaz de Camões, foi “absolutamente surpreendido por um cruel e brutal ato de violência, totalmente gratuito”, sem que da sua parte tivesse havido “qualquer ação em relação à pessoa do agressor ou em relação a qualquer outra pessoa ali presente”.

“Entendo que este vil ataque de que fui vítima tem de ser exemplarmente investigado e punido pela justiça, em homenagem a princípios constitucionalmente consagrados, como o do direito à integridade pessoal, aplicáveis a todos os cidadãos do nosso país”, defende.

“Assim, para não prejudicar a investigação que a situação justifica, não pretendo por ora pronunciar-me publicamente sobre este ataque, o que somente farei em sede própria”.O presidente da República condenou na quarta-feira o ataque e mostrou solidariedade aos atores. Também a ministra da Cultura repudiou a violência, tal como os vários partidos.

O ator explica que a sua posição “não é motivada por medo, mas pelo facto de entender que é à justiça que cabe resolver este assunto e também por não querer transformar este incidente num trampolim publicitário ou numa oportunidade mediática a favor do agressor e/ou de grupo de que alegadamente fará parte”.

“Agradeço, comovido, todas as manifestações de afeto, indignação e respeito que tenho recebido de colegas, alunos, encarregados de educação, professores, artistas, políticos, amigos, cidadãos anónimos, órgãos de Estado e personalidades públicas”, acrescenta no comunicado.

Adérito Lopes agradece ao coletivo d'A Barraca, e em particular a Maria do Céu Guerra, “pela presença e postura destemida”.

O ator encerra o comunicado com versos de Camões, que “por ironia ou destino” iria representar no dia do ataque: "E se eu mais der a cervis, a mundanos acidentes, duros tiranos e urgentes, cale-se esta confusão; cante-se a visão de paz".
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