Portugal arrisca falhar meta de reciclagem de embalagens de 2025 e a Electrão quer acelerar mudança de comportamentos através da campanha “Atrasados ambientais” | Nuno Cruz - NurPhoto via AFP

"Atrasados ambientais". Campanha quer Portugal a acelerar mudança de comportamentos na reciclagem

Portugal arrisca falhar meta de reciclagem de embalagens de 2025 e pode obrigar a União Europeia a aplicar sanções.

Com a taxa de retoma prevista a fechar o ano nos 61 por cento, abaixo dos 65 exigidos por Bruxelas, o Electrão lança esta segunda-feira a campanha nacional "Atrasados ambientais", que pretende ser um choque de realidade para pôr o tema reciclagem na agenda e mobilizar os cidadãos para separar embalagens.



O lixo sempre nos acompanhou ao longo da evolução civilizacional, ora reaproveitado em tempos remotos como adubo na agricultura de subsistência, ora descartado na natureza mas absorvido por esta. Com a revolução industrial e a introdução química no processo evolutivo, o tipo de lixo foi-se alterando, sendo este menos absorvido pela natureza e pelo uso quotidiano.
A produção em grande escala e uma necessidade de consumo cada vez maior, associadas à massificação e do plástico, o fator poluição cresceu e tornou o lixo um problema social e complexo de resolver. Apesar de durante anos os aterros sanitários, em conjunto com a inceneração, fossem soluções para este problema, a questão também passou a ser colocada a nível do consumo de recursos, não só poluentes mas também eles finitos.


No sentido da mudança de comportamentos, bem como a necessidade de resolver o problema do lixo em 1985, a então Comunidade Económica Europeia (CEE) emitiu a primeira Diretiva Europeia que veio obrigar os países a gerir os seus resíduos.

A construção de aterros não se revelava suficiente para resolver esta questão e tornava-se imperativo dar uma solução adequada a todo o “lixo” considerado não degradável. Nascia assim a questão da reciclagem e reutilização inserido num sistema de economia circular. O lixo feio, porco e mau começou a ser encarado como resíduo e passível de dar origem a novas utilizações.

Com a entrada de Portugal para a Comunidade Económica Europeia (CEE) em 1986, esta diretiva é transposta para a legislação nacional em 1990. Contudo, não havia o hábito, por parte do cidadão português, de separar o lixo e a questão reciclagem era ainda um assunto muito embrionário, com as autarquias a não apostarem nesta vertente. Não havia também ecopontos suficientes que levassem os cidadãos a fazer a devida separação.


Cerca de 59 por cento dos resíduos urbanos seguem para aterro, e uma parte significativa dos aterros aproxima‑se do limite de capacidade | Foto: AFP

Vinte cinco anos passados e após várias campanhas de sensibilização e uma vasta rede de recolha de ecopontos a nível nacional, a questão da reciclagem está já na génese dos portugueses, mas ainda assim estamos "atrasados ambientalmente" nas metas de reciclagem estabelecidas para 2025.

Por isso, é necessário mais empenho de cada um de nós, mas também de todos os agentes envolvidos na cadeia de valor das embalagens.

Metas europeias apertam, números nacionais ficam aquém
Em 2024, foram encaminhadas para reciclagem 477 mil toneladas de embalagens, o equivalente a 58,6 por cento de taxa de retoma (cumprindo a meta de 55 por cento desse ano, mas longe do novo patamar). Em 2025, até final de novembro, 493 mil toneladas já seguiram para reciclagem e, mantendo o ritmo, o ano deverá fechar cerca de 550 mil toneladas, o que aponta para 61 por cento — um valor aquém da meta europeia que estabelece 65 por cento. 

Para 2030, a fasquia volta a subir e vai estabelecer uma nova meta para 70 por cento de reciclagem global de embalagens, exigindo “esforço acrescido e continuado” ao longo da década. 


No contexto europeu, Portugal está atrasado a nível ambiental e surge na posição 21.º no ranking da taxa de reciclagem de embalagens, abaixo da média da União, segundo os dados mais recentes disponíveis do Eurostat (2023). O país gera níveis de resíduos de embalagens próximos da média europeia, mas continua sem transformar essa produção em reciclagem ao ritmo que as metas impõem. 


Entre os vários fatores está o atraso na reciclagem de embalagens a que se soma um contexto frágil na gestão de resíduos urbanos: Portugal mantém‑se em torno dos 30 por cento de reciclagem, contra cerca de 50 por cento na média da UE. 

Cerca de 59 por cento dos resíduos urbanos seguem para aterro e uma parte significativa dos aterros aproxima‑se do limite de capacidade — dos 35 aterros existentes, apenas 13 têm mais de 20 por cento de capacidade disponível, havendo vários que podem esgotar até 2027 se nada for feito, confirma o Plano de Ação TERRA. 


“Atrasados ambientais”: humor para abanar consciências

“Estamos com metas mais exigentes, mais embalagens a entrar no mercado, aterros perto do limite e um crescimento muito tímido das taxas de reciclagem… Se não acelerarmos agora, não será apenas a meta de 2025 que fica em risco, todo o caminho até 2030 fica comprometido”, alerta Pedro Nazareth, CEO do Electrão.

A campanha cria um rótulo desconfortável — “atrasados ambientais” — para expor comportamentos errados na separação e transformar o incómodo em impulso de mudança.
“A opção foi usar humor e um certo desconforto saudável para pôr o tema na mesa… É esse incómodo que queremos transformar num impulso para mudar comportamentos”, sublinha o responsável. 

Uma campanha que passa a estar presente nos orgãos de comunicação social - em televisão, rádio, mupis, digital e redes sociais. No plano visual, esta campanha do Electrão introduz um novo verde elétrico, mais intenso, que sublinha o tom de urgência e funciona como sinal luminoso de alerta: é para ver, parar e pensar antes de deitar embalagens fora. O objetivo declarado é tirar Portugal do grupo dos “atrasados ambientais” e aproximá‑lo dos países que cumprem e lideram na transição para a economia circular.