Aumentou o número de drogas sintéticas nas prisões em Portugal

por Rita Soares - Antena 1

Foto: RTP

Há cada vez mais alertas para a circulação de drogas sintéticas nas prisões em Portugal. No ano passado, chegaram à Polícia Judiciária 80 pedidos para testar a presença dos chamados canabinóides sintéticos, mais conhecidos, na gíria, por K4 ou K2 - um número sete vezes superior em relação ao do ano anterior.

Mais de 70% das análises deram positivo para a presença destas drogas que, na maioria dos casos, entram nas cadeias dissimuladas em folhas de papel.

Os pedidos de intervenção da PJ registam uma subida muito significativa, em comparação com os anos anteriores.
Portugal não é, de todo, caso único. No Brasil, as autoridades de saúde têm alertado para o aumento do consumo das drogas sintéticas como a K2 e a K4 - substâncias que geram dependência muito rapidamente e que podem ter efeitos mais graves do que a cocaína.

O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional dá conta de uma situação preocupante, que exige uma resposta urgente.

Uma droga como a K4 pode provocar, com alguma frequência, efeitos colaterais graves, refere o presidente do Sindicato, Frederico Morais.
Frederico Morais aponta um caminho que considera ser fundamental para pôr fim a este problema.
O presidente da Associação Sindical das Chefias do Corpo dos Guardas Prisionais subscreve estas preocupações.

Hermínio Barradas lembra que já houve casos em que reclusos de Coimbra e de Paços de Ferreira tiveram de ir ao hospital, após o consumo de K4.
A Antena 1 questionou a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais sobre a entrada de drogas como a K4 nas cadeias portuguesas.
O órgão agora presidido por Orlando Carvalho respondeu por escrito e remeteu informações concretas para o RASI - o Relatório Anual de Segurança Interna de 2024 - que vai ser divulgado no final de março.

Garante, ainda assim, a Direção-Geral que "tem uma constante preocupação e tolerância zero para a circulação de produtos e bens ilícitos em contexto prisional".

A Direção-Geral assegura que existe "um controlo quotidiano e permanente" e que "sempre que é apreendido algum produto, com suspeitas de que possa ser um estupefaciente", é depois "entregue ao órgão de polícia criminal competente" para ser analisado.

Nesta resposta à Antena 1, a Direção-Geral escreve que as situações em que é necessário um recluso ser observado no hospital na sequência de consumos de droga não são relevantes do ponto de vista estatístico, embora sejam sempre preocupantes.

Também o presidente do Instituto para os Comportamento Aditivos e Dependências (ICAD) reagiu à informação agora divulgada pela PJ e defendeu, em entrevista no programa Ponto Central da Antena 1, que a realidade das novas drogas sintéticas tem de ser olhada de frente.

João Goulão admite que os hábitos de consumo de estupefacientes mudaram, o que se reflete também nas cadeias, e sublinha que são necessárias medidas para travar a circulação destas drogas com vários perigos associados.
O presidente do ICAD explica que estas drogas - os chamados canabinoides sintéticos - não precisam de um consumo prolongado para deixar marca.
Nestas declarações de João Goulão à Antena 1, o presidente do ICAD subscreve a sugestão do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional, que defende a proibição da entrada de papel nas cadeias, uma vez que estas drogas chegam, muitas vezes, dissimuladas em correspondência ou em jornais.

O Sindicato sugere mesmo que os documentos sejam fotocopiados, em frente aos reclusos, para prevenir o acesso a droga dissimulada.
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