Autarca comunista Alfredo Barroso defronta ex-camaradas
Ao fim de duas décadas à frente da Câmara de Redondo, o histórico autarca comunista Alfredo Barroso vai recandidatar-se num projecto independente, acalentando os adversários a esperança numa divisão de votos na área da CDU.
A polémica em torno da corrida autárquica em Redondo, Évora, foi despoletada com a decisão do PCP de retirar confiança política a Alfredo Barroso, mas este não desarmou e, mantendo-se militante, avançou com um movimento de independentes.
Depois de governar o município durante 22 anos, sempre eleito em listas comunistas e com maioria absoluta, Barroso vai enfrentar os seus antigos apoiantes do PCP, numa batalha de que socialistas e social-democratas querem tirar partido.
Nas listas do Movimento Independente do Concelho de Redondo (MICRE), Barroso leva actuais vereadores da autarquia eleitos pela CDU e vários militantes do PCP, alguns deles da própria concelhia do partido, da qual apenas dois membros continuam nas listas comunistas.
Numa campanha que se vislumbra "quente", todos os candidatos (MICRE, CDU, PSD, PS e Bloco de Esquerda) ambicionam "conquistar" a presidência do município, com social-democratas, socialistas e bloquistas na expectativa de uma divisão de votos na área da CDU.
Engenheiro electrotécnico, Alfredo Barroso disse à Agência Lusa que o MICRE tem "uma boa receptividade" por parte da população e apresenta "condições para sair vitorioso, com maioria absoluta, em todos os órgãos autárquicos do concelho".
"Apresentamos um conjunto de propostas e compromissos que vão convencer os redondenses a votar no MICRE e consolidar uma equipa que concilia experiência e inovação", adiantou Barroso, que dirige também há vários anos a Associação de Municípios do Distrito de Évora (AMDE).
Depois de integrar a equipa de Alfredo Barroso como vereador em regime permanente, entre 1983 e 2001, Inácio Casimiro candidata-se pela CDU e justificou ter aceite o convite do PCP, do qual é militante, com o diferendo entre o partido e o presidente da autarquia.
"O concelho está parado, não se desenvolve, tem que mudar significativamente e por isso vamos lutar pela vitória e para manter a Câmara com maioria CDU", adiantou Inácio Casimiro, funcionário administrativo, defendendo a necessidade de esclarecimento dos eleitores, devido ao surgimento da candidatura de independentes.
Para o candidato do PSD, Rafael Morais Cardoso, engenheiro e empresário agrícola, vereador do município e que foi também o cabeça- de-lista dos social-democratas nas autárquicas de 2001, o objectivo da sua candidatura passa por "voltar a colocar o Redondo no mapa, de onde desapareceu há 25 anos".
Rafael Morais Cardoso acusa o actual presidente do município de seguir uma "política ditatorial com o objectivo do culto da personalidade, apoiado por pessoas com contratos a prazo ou à espera de favores da Câmara".
Lutando para "alcançar a vitória", Morais Cardoso recordou que em 2001 os sociais-democratas foram a segunda força política mais votada, ficando a cerca de 800 votos da CDU, havendo na altura "transferência de votos da CDU para o PSD".
Os socialistas, por seu turno, apostem no professor universitário José Lopes Verdasca, que quer "ganhar a câmara para reerguer Redondo, que tem vindo a decair nas últimas décadas", através da aposta no desenvolvimento económico.
Dirigente de várias colectividades e instituições no concelho de Redondo, José Lopes Verdasca diz acreditar no "voto útil no PS", considerando que "a eternização do poder pode provocar actos de pouca energia e pouca criatividade".
"O poder absoluto durante muito tempo é prejudicial" para o concelho, sublinhou, considerando que "a CDU tinha tudo a ganhar se fizesse voto útil".
A candidatura do Bloco de Esquerda, liderada por José Faustino do Monte, gestor social, apresenta-se "como força política alternativa com o único objectivo de conquistar a Câmara Municipal" e tenciona, se ganhar a autarquia, "fazer uma gestão democrática e transparente".
"O desgaste da esquerda tradicional e o insucesso da gestão do município ao longo dos anos vai dar a vitória ao Bloco de Esquerda", adiantou.
Nas autárquicas de 2001, a CDU ganhou as eleições para o município de Redondo com 48,4 por cento dos votos (três mandatos), seguindo-se o PSD com 27,5 por cento (um mandato) e em terceiro lugar o PS com 20,5 por cento (um mandato).