Autarquia transferiu obelisco de Camões erigido em 1881
Um obelisco em honra de Luís de Camões instalado pela primeira vez na Alta de Coimbra em 1881, por iniciativa de estudantes universitários, foi transferido hoje pela Câmara Municipal para a avenida Sá da Bandeira.
O presidente da autarquia, Carlos Encarnação, em declarações à agência Lusa, salientou a "importância histórica" e cultural da mudança do conjunto escultórico alusivo ao autor de "Os Lusíadas", que estudou em Coimbra antes de ter sido soldado e iniciar a sua obra poética.
Para Carlos Encarnação, a transferência do obelisco para a avenida Sá da Bandeira, junto à rotunda do Mercado D. Pedro V, simboliza "um encontro quase perfeito", já que ele foi instalado pela primeira vez, na Alta, quatro anos antes de aquela importante artéria da cidade, dividida ao meio por um jardim com lagos artificiais, ter sido desenhada por Adolfo Loureiro, em 1885.
Constituído por uma base em calcário, onde assenta um leão de bronze, e uma coluna da mesma pedra encimada por uma coroa de louros, o monumento tinha sido recolocado, na década de 80 do século XX, num espaço entre a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e o Jardim Botânico.
Com a destruição da antiga Alta, nos anos 40, para erguer a nova Universidade sonhada por Salazar, o obelisco foi também desmantelado e o pesado leão, peça principal do monumento, esteve várias décadas arrumado e praticamente esquecido.
Nos anos 80, segundo Carlos Encarnação, o falecido médico Mário Mendes, na qualidade de presidente da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, terá sugerido a sua recuperação, numa altura em que a Câmara Municipal era presidida pelo socialista Mendes Silva.
O obelisco foi então reinstalado junto ao Jardim Botânico, próximo do Instituto Justiça e Paz (ex-Centro Académico de Democracia Cristã, fundado por antigos universitários, como Salazar e o cardeal Cerejeira), mas ao longo dos anos mantiveram-se as críticas à sua localização e à pouca visibilidade do conjunto.
Américo Ramalho, professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, especialista em estudos camonianos, teceu duras críticas à situação, em especial no âmbito da celebração em Coimbra, no início dos anos 90, do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades.
A autarquia decidiu mudar o obelisco mais uma vez, procurando concretizar "um encontro quase perfeito" de Luís Vaz de Camões com a sua importância histórica e com a cidade onde estudou.
O monumento primitivo, da autoria do escultor António Augusto Gonçalves, foi construído - e inaugurado há 124 anos - na sequência de uma subscrição pública promovida por estudantes progressistas da Universidade.
"Camões simboliza a independência nacional e a exaltação da pátria", sublinhou hoje Carlos Encarnação.
Luís de Camões morreu em Lisboa em 1580.