Automóvel em Monsanto é o maior "predador" dos esquilos, mas estes aumentaram

por Helena Neves, da Agência Lusa

O automóvel é o maior "predador" dos esquilos do Parque Florestal do Monsanto e, apesar do elevado número de atropelamentos, esta população têm vindo a aumentar, existindo actualmente um por cada hectare do espaço.

O Parque de Monsanto, em Lisboa, é atravessado por várias estradas, algumas com grande intensidade de tráfego e a sinalização para reduzir a velocidade não tem impedido que um elevado número de roedores continue a morrer por atropelamento.

Contudo, "a população dos esquilos tem vindo a aumentar nos últimos anos", disse à Agência Lusa Paulo Lopes, do Espaço Monsanto.

Os esquilos passam a maior parte do tempo nas árvores mas, por vezes, precisam de atravessar estradas quando não têm passagens aéreas naturais, entre as copas das árvores, ou artificiais, como cabos eléctricos, tornando-se "presas" fáceis dos carros.

As estradas do Barcal, Monsanto, Serafina e 24 de Janeiro são as que registam o maior número de acidentes, revela um estudo sobre a "Dinâmica Populacional do Esquilo Comum no Parque Florestal do Monsanto", a que a Lusa teve acesso.

Segundo o estudo, realizado ao longo de três anos, morreram 213 animais desta forma entre 1997 e 2001.

O maior número de atropelamento ocorre na Primavera porque é a estação do ano em que os esquilos têm menos alimento disponível, sendo obrigados a percorrer distâncias maiores para satisfazerem as suas necessidades energéticas.

"Os esquilos juvenis (menos de quatro meses) são os que morrem mais porque têm de procurar novos territórios", explicou Paulo Lopes, contando ainda que estes animais ficam "muito assustados quando vêem um carro e, em vez de fugirem, ficam estáticos à frente do automóvel, acabando por ser atropelados".

"A velocidade excessiva é o principal problema", sublinhou, adiantando que está espalhada pelas estradas sinalização para reduzir a velocidade, mas que isso também depende do "civismo dos condutores".

Paulo Lopes adiantou que, embora o número de atropelamentos seja dramático, "acaba por funcionar como controle da população, uma vez que não existem predadores naturais".

Apesar da população estar a crescer - são cerca de 1.000 - ainda é raro os visitantes do parque avistarem esquilos, porque estes passam a maior parte do tempo nas árvores para se sentirem mais protegidos de possíveis ameaças.

No entanto, há dois esquilos "mais atrevidos" que já convivem com os elementos do Espaço Monsanto, contou à Lusa Paulo Lopes.

No Monsanto, o pinheiro manso é a árvore mais utilizada pelos esquilos porque é a mais abundante no espaço e é a que lhe fornece o alimento (pinhão) ao longo de praticamente todo o ano.

O estudo adverte ainda para o perigo da introdução de esquilos exóticos no parque, uma intenção de algumas pessoas que, desta forma, querem livrar-se dos que têm em casa.

No entanto, a introdução destas espécies seria uma ameaça para os roedores que lá moram.

Acontece também muitas vezes pessoas levarem animais feridos ao Centro de Recuperação de Animais Silvestres que funciona no Monsanto numa tentativa de os salvar, acrescentou.

O esquilo existiu em Portugal até ao século XVI, altura em que a drástica redução das florestas, levou à sua extinção.

Após quatro décadas de ausência, o esquilo voltou a colonizar Portugal na década de 80, em consequência do aumento da área de distribuição desta espécie no Noroeste espanhol (Galiza), bem como a existência no Norte de Portugal de boas condições de habitat.

Além do retorno natural do esquilo a Portugal foram efectuadas duas introduções da espécie, no início da década de 90, em Parques Urbanos, respectivamente no Parque Florestal do Monsanto, em Lisboa, e no Jardim Botânico de Coimbra, tendo ambas sido bem sucedidas.

O esquilo distribuiu-se pela generalidade do Parque Florestal do Monsanto tendo, inclusivamente, colonizado a Tapada da Ajuda, que fica na região envolvente do parque.

A rápida e relativamente fácil expansão do esquilo pela generalidade do Parque Florestal do Monsanto demonstrou que este apresenta condições de habitat favoráveis a este roedor.

Contudo, a auto-estrada Lisboa-Cascais constituiu uma barreira que dificultou a expansão deste roedor pelo parque, uma vez que a introdução dos esquilos em 1993 ocorreu no Parque Ecológico do Monsanto na zona norte da AE.

pub